domingo, setembro 25, 2011

Puppies for dummies



Autor: Sarah Hodgson
Género:
Utilidades

Idioma: Inglês
Editora: John Wiley & Sons
Páginas: 392
Preço: € 10
ISBN:  978-0470037171

Avaliação:
**** (bom)

Puppies for Dummies é mais um título útil da série "X para tótós"; em Portugal pouco mais de uma dezena de títulos traduzidos estão disponíveis, mas em inglês são cerca de dois mil títulos, com temas tão diversos como informática, música, bem-estar, etc.

Dividido em capítulos como saúde, alimentação, treino e cuidados, Sarah Hodgson tenta consciencializar o leitor da responsabilidade de ter um cão, alertando para o trabalho, paciência e investimento necessários.


Os primeiros capítulos dirigem-se àqueles que, ainda não tendo escolhido um cão, devem ponderar variáveis como a personalidade, tamanho e características das raças, assim como o dilema de comprar ou acolher um animal de um canil. Os argumentos são sensatos e poderão desencorajar aqueles que não pensaram em todos os aspectos de arranjar um melhor amigo do homem (a autora fornece tabelas informativas sobre as raças disponíveis e qual poderá ser a melhor raça para cada um/núcleo familiar).


Os restantes três quartos do livro são práticos e prendem-se com a componente prática de ter um cão: como estabelecer regras, como ensinar-lhe os básicos, que alimentação é melhor. Há quadros e imagens explicativas q.b. e todo o livro é bastante fácil de manipular, sendo que a leitura não precisa de ser seguida (eu fui lendo o livro à medida que as situações aconteciam e eu precisava de ajuda sem nunca perder o fio à meada).

Apesar de haver diversas páginas na internet e centenas de vídeos explicativos sobre cães, achei uma mais-valia ter um volume à mão, escrito por uma profissional, quando precisasse de consultar um assunto específico relativo ao canito.

quarta-feira, setembro 21, 2011

Writers workshop of horror



Autor: Vários
Género:
Escrita criativa

Idioma: Inglês
Editora: Woodland Press
Páginas: 262
Preço: € 14
ISBN:  978-0982493915

Avaliação:
***** (muito bom)

Writers workshop of horror é uma compilação de textos dos melhores (e mais premiados) autores do terror e do fantástico, direccionado a quem quer começar a escrever dentro do género ou para quem já escreve e procura dicas extra.

Dividido por temas (personagens, diálogos, ritmo, erros a evitar, experiências pessoais), inclui textos de Clive Barker, Ramsey Campbell, Tom Piccirilli, Jeff Strand, Mort Castle, entre muitos outros, com inúmeras referências a H.P. Lovecraft, Stephen King e outros autores basilares da dark fiction.


Os textos alternam entre o tom humorístico e bem disposto (a maioria) e o professoral aprendam-com-os-meus-erros (a minoria), o que torna a leitura extremamente agradável e não descura nada a utilidade das dicas fornecidas.


Para quem não tem tempo, paciência, perfil ou euros para investir num curso de escrita criativa, mas tem o bichinho da escrita, é um excelente livro da especialidade, ideal como motivação. Quando acabamos, sentimos a ânsia de escrever e dar voz ao que nos passa pela mentezinha perturbada.


Seguem títulos de alguns capítulos e respectivos autores, para despertar a gula:

Tom Piccirilli - Exploring personal themes
Ramsey Campbell - The height of fear
Brian Yount - 10 submission flaws that drive editors nuts
Michael A. Arnzen - Scene and structure in horror


Boas leituras (e boa escrita).

sábado, setembro 17, 2011

Queimada viva

Autor: Souad
Género:
Biografia

Idioma: Português
Editora: Edições ASA
Páginas: 192
Preço: € 11
ISBN:  978-9-72-4136686-8
Título original: Burned alive



Avaliação: **** (bom)

Queimada viva é o testemunho de uma sobrevivente que, ao contrário de muitas mulheres na sua situação, conseguiu escapar à morte pelo fogo, encomendada pelos próprios pais.

É uma história de coragem mas também uma minúscula gota no oceano, pois, de entre milhares com a mesma sorte, conseguiu escapar ao Inferno e recomeçar uma vida.

Souad é uma palestina nascida numa família pobre. Não sabe nada do mundo, das pessoas que o habitam nem do que se estende para além da pequena aldeia onde reside. Pouco depois de deixar as fraldas já faz tarefas pesadas e conduz o rebanho da família. Elas e as irmãs revezam-se para fazer as refeições, tratar da lida da casa, cuidar dos irmãos mais pequenos e assegurar o cumprimento das tarefas de manufactura para alimentar o pequeno negócio da família.

Para o pai, Souad vale menos do que um animal. É espancada diariamente, não tem direito a conforto, leva uma vida escrava sem saber que há outras existências para além daquela que tem.

«Se o teu pai te disser “não saias deste canto a vida inteira”, tu ficas nesse canto toda a vida. Se o teu pai te puser uma azeitona no prato e te disser “hoje não comes mais nada”, tu não comes mais nada. (…) Essa forma de não-existência é cultivada ininterruptamente.»
À semelhança de muitas outras jovens, sonha em casar, na ilusão que terá uma vida melhor, quando na verdade só muda de carcereiro, porque o marido segue a mesma cartilha de abuso e violência.

«É uma coisa curiosa o destino das mulheres árabes, pelo menos na minha aldeia. Aceitam-no naturalmente. Nem nos passa pela cabeça revoltarmo-nos. (…) Apenas porque não temos outro sítio onde viver senão em casa do pai ou do marido. Viver sozinha é inconcebível.»

Saída da adolescência, Souad vive uma paixão pueril por um vizinho, a quem espia e com quem fantasia vir a casar. O rapaz apercebe-se e, entre encontros, têm relações antes do casamento. Souad engravida e quando o facto se torna visível, a sua família é desonrada.

Para "lavar" a honra, são os próprios pais a encomendar a morte da filha, pedindo a um cunhado que faça o previsto e habitual naquele caso: Souad é regada com gasolina e ateada com fogo. Tem uma gravidez em estado avançado.

Milagrosamente, mãe e bebé conseguem sobreviver, mas não sem antes conhecer os horrores de uma sociedade sem afecto nem carinho para com as suas mulheres: no hospital é deixada a um canto, com a carne queimada a apodrecer e sem os cuidados mínimos; a sua própria mãe tenta envenená-la.

Vale-lhe a SURGIR, uma ONG que a tira do país e lhe dá uma vida nova, mas sempre no maior secretismo, pois Souad é um alvo a abater pelos seus familiares, que não poderão erguer a cabeça enquanto a pecadora estiver viva.

A nossa narradora já é uma mulher de meia-idade quando escreve o livro e foram precisos anos para ter direito a um pouco de felicidade. Vive incógnita e com outro nome, sempre com medo que algum membro da família venha cobrar a dívida que ficou por saldar. Ficaram ainda as inúmeras cicatrizes físicas e psicológicas, impossíveis de sarar.

No final, ecoa o grito de revolta: todos os anos, milhares de mulheres são assassinadas, sem contar os imensos desaparecimentos e “suicídios” reportados que não são conotados como «crimes de honra», com os autores (todos homens) a serem considerados heróis nas suas aldeias, sem qualquer tipo de punição além de uma advertência verbal pelas autoridades do sítio.

A autora espera poder ajudar a parar este massacre com o seu testemunho e apela a quem de direito. Aconselho Queimada viva, embora não seja uma leitura de entretenimento. É um caso real e merece o respeito devido pela civilização ocidental, que sabe muito pouco destas barbaridades.

terça-feira, setembro 13, 2011

Equador

Autor: Miguel Sousa Tavares
Género: Romance Histórico
Idioma: Português
Editora: Oficina do Livro
Páginas: 528
Preço: € 25
ISBN:  978-9-89-555013-5

Avaliação:
*****
(muito bom)


Equador é um livro que não perde magia na releitura. Ao longo de mais de 500 páginas, Miguel Sousa Tavares (MST) delineia com mestria a história de Luís Bernardo Valença, um homem forte, de mente e ideais românticos.

A acção inicia-se em clima de decadência monárquica, em 1905, num Portugal muito rural.

Luís Bernardo é um bon vivant, amigo do seu conhaque e charuto habano, galante e provador de belas senhoras, fiel ao seu amigo e aborrecido de morte com a existência que leva. Como qualquer pessoa aventureira que sonha com algo mais do que a monotonia que a instabilidade financeira e moral providenciam, ambiciona mais da vida do que o que tem, apesar de não saber o que será a “tal coisa” que o fará sentir-se vivo.

Até que, fruto das suas declarações em público e artigos de opinião na imprensa – é um abolicionista convicto -, é convidado para o cargo de governador de S. Tomé e Príncipe pelo próprio El-Rei, a fim de se certificar que a mão-de-obra nas ilhas não é escrava e que as condições de trabalho nas roças são tomenses nada têm de esclavagista.

A sua missão primordial é provar aos Ingleses que os negros não são explorados e que o cacau que exportam é resultado de uma exploração digna e correcta dos recursos humanos. Mas tal feito não será fácil e Luís Bernardo vê-se a braços com uma tarefa hérculea, sem saber em quem confiar.

Não quero revelar muito mais da história. A descoberta de S. Tomé como um paraíso na terra orientado por demónios capitalistas e sem escrúpulos, com quem o nosso herói terá que se bater, é arrebatadora e a leitura torna-se viciante. É desgastante e emocionante seguir o percurso de Luís Bernardo, assistir aos seus duelos com os roceiros e testemunhar os salamaleques políticos.

Há mestria na forma como a autor traça o fio da acção e suspende o leitor no final de cada capítulo, ao longo de um volume considerável que vemos decrescer sem darmos pela passagem do tempo. Tornamo-nos reféns da beleza das paisagens e da intensidade com que o protagonista vive e respira o que o rodeia.

O final surpreendeu-me mas afigura-se-me o único possível de fechar o romance com chave d’ouro e sem hipótese de desiludir o leitor, depois de tantas dezenas de páginas passadas.
«O que não havia em Portugal era uma tradição de cidadania, um desejo de liberdade, um gosto de pensar e agir pela própria cabeça: o desgraçado do trabalhador do campo dizia e fazia o que o patrão lhe mandava, este repetia o que o cacique local lhe transmitia e este, por sua vez, prestava contas e vassalagem aos próceres do partido em Lisboa. Podia mexer-se no cume da pirâmide, que tudo o resto, até à base, permaneceria inamovível.»

terça-feira, setembro 06, 2011

Brancos Estúpidos - e outras desculpas esfarrapadas para o estado da nação



Autor: Michael Moore
Género:
Humor
Idioma: Português
Editora: Temas e Debates
Páginas: 304
Preço: € 17
ISBN:  978-9-72-759626-3
Título original: Stupid white men... and other sorry excuses for the state of the nation!

Avaliação: **** (bom)

Brancos Estúpidos . e outras desculpas esfarrapadas para o estado da nação é um livro que a brincar vai dizendo umas verdades. É uma crítica assumida em tom de paródia às administrações americanas pré-Obama: as de Bush filho e Clinton.

Foi um best-seller em 6 países europeus, foi traduzido em 15 línguas e fez grande sucesso nos EUA, com sucessivas edições. O autor é Michael Moore, escritor e cineasta controverso, famoso por não ter papas na língua.

Aqui, Moore aponta baterias a um sem número de grupos, que critica sem descanso. Começando pelo plano político, onde nos explica detalhadamente os meandros da política norte-americana, inclusive a fraude das eleições que puseram W. Bush no poder, ou «o ladrão-mor e o usurpador da Sala Oval», como é apelidado pelo autor, disserta ainda sobre as políticas internas e externas mais desastrosas dos últimos anos, abrangendo as medidas sociais e económicas.

«Deve ter sido a melhor coisa a que assisti na cidade de Washington – um pretendente ao trono americano obrigado a meter o rabo entre as pernas e a fugir de milhares de cidadãos americanos armados apenas com a verdade e os ingredientes para uma boa omeleta.»
(escreve o autor acerca do episódio em que W. Bush, depois de “vencer” as eleições se dirigia ao Capitólio e era vaiado e o seu carro bombardeado com ovos por um grupo americanos indignados.)

George W. Bush é o “presidente”, porque Moore não lhe reconhece a legitimidade, e é chamado de tudo, desde palerma a incompetente, com o seu cadastro dissecado: a detenção por conduzir bêbado, as experiências com marijuana em adolescente, o facto de nunca ter tido de trabalhar ou de se esforçar para obter fosse o que fosse, abrigado pelo apelido que ostenta, a sua dependência alcoólica. Moore faz ainda uma lista das decisões desastrosas de W., que cortou financiamentos e subsídios a escolas e políticas sociais em curso, projectos-lei ambientais, cuidados médicos e pensões, decisões que ainda hoje se fazem sentir.

Através do ritmo fluído e despachado da narrativa, constata-se que os states não são o paraíso que se julga, passando os seus habitantes por dificuldades idênticas às nossas: incompetência judicial, as penas pequenas dos criminosos, os salários baixos, as políticas educacionais e a fraca assistência aos carenciados.

Pela “pena” de Moore, analisei melhor a política norte-americana, conheci as fraquezas das medidas de Clinton (um presidente que não fez grande coisa aparte o contributo inquestionável em questões internacionais) e alguns maus passes feitos por Bush Pai e por Reagan.

O autor chama os americanos de idiotas por terem dedicado em exclusivo a sua atenção, nos anos 90, à nódoa de esperma num vestido azul de uma certa estagiária e aos encontros amorosos de Hugh Grant com uma trabalhadora do sexo quando havia tanta coisa para questionar e debater, e expõe as debilidades de uma nação que é tida como «a mais estúpida do Mundo».

Numa crítica cerrada aos poderosos e à América corporativista, alguns capítulos de
Brancos Estúpidos . e outras desculpas esfarrapadas para o estado da nação dedicam-se a enumerar o que está errado na sociedade americana, com especial destaque para o racismo e a forma como a mentalidade reinante é limitada e centrada no seu próprio umbigo. Todas as considerações de Moore são escritas em tom provocatório mas camufladas de humor, o que, creio, foi feito para "safar" o escritor de processos judiciais sérios.

Uma leitura diferente, não-ficcional, que aumentou o meu conhecimento em muitas áreas. Vale o que vale pois não é imparcial, mas gosto de ler perspectivas diferentes sobre os assuntos e esta é divertida.