domingo, novembro 23, 2014

Encontro em Bagdad / A Ratoeira


Autor: Agatha Christie
Género:
Policial
Idioma: Português

Páginas: 338
Editora:
Livros do Brasil

Colecção: Vampiro Gigante
Ano:
1982
ISBN: 978-972-3803549
Título original: They came to Bagdad / The mousetrap
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Alguns anos da minha adolescência foram passados a ler Agatha Christie, na altura editada pela Livros do Brasil na colecção Vampiro Gigante.

Passadas tantas décadas, a Dama do Crime continua a reinar. Os seus livros têm reedições frequentes, adaptações televisivas e teatrais e até videojogos. As obras da inglesa são intemporais, valem por si só e são um prazer de (re)encontrar. É muito raro eu reler seja o que for, mas abro uma excepção para a galeria de personagens de Agatha Christie (Poirot é o meu detective favorito).

Neste livro, a autora mostra como é versátil. Nenhuma das histórias tem os seus detectives de serviço mas mantêm a qualidade habitual.

Encontro em Bagdad é uma história de intriga internacional, centrada na jovem Victoria Jones, com tanto de imaginativa como de ingénua. Farta de ser uma estenógrafa medíocre (que lhe garante empregos a condizer com a qualidade do seu trabalho), viaja para um país desconhecido para seguir um rapaz com quem trocou meia dúzia de palavras um dia, no parque. Chegada ao Iraque, vê-se envolvida numa situação de vida e morte para o qual não está preparada e que envolve espiões e uma trama política elaborada.

A Ratoeira é um clássico whodunit, onde um grupo de estranhos está fechado num hotel durante uma tempestade, quando uma das hóspedes é assassinada. Esta história, adaptada ao teatro, está há 62 anos em cena; no final de cada espectáculo, é pedido ao público que não revele a identidade do assassino, mas qualquer fã que se preze sabe ao que vai. Uma história cheia de suspense onde o talento da escritora brilha alto.

Agatha Christie foi um portento, com as suas obras recriadas por inúmeros escritores. Não há maior elogio a um autor.

****
(bom)

quarta-feira, novembro 12, 2014

Em busca da identidade - o desnorte


Autor: José Gil
Género:
Ensaio
Idioma: Português

Páginas: 64
Editora:
Relógio d'Água

Ano:
2009
ISBN: 978-989-6410834
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José Gil, catedrático em Filosofia, considerado por um seminário francês um dos 25 grandes pensadores do mundo, incendiou vários discursos há uns anos aquando da publicação de Portugal Hoje - o medo de existir

Nunca li o livro, mas lembro-me da agitação causada pelo mesmo, onde José Gil indignou muita gente (que se expressou de uma forma mais ou menos douta) ao falar sobre o pessimismo e a mentalidade reinantes no nosso país, apontando dedos ao período do Salazarismo como causador dos principais traços negativos dos portugueses: somos invejosos, corruptos, chico-espertos, medrosos.

Isso foi noutro livro, mas quando tive a oportunidade de ler este Em busca da identidade - o desnorte, achei que era uma boa oportunidade de ler um autor que já andava a adiar há algum tempo.

O autor considera que «fizemos da identidade o território da subjectividade» e «esforçamo-nos por resistir ao "fora" que aí vem, do exterior ou do interior, que ameaça destruir as nossas velhas subjectividades». Assim, diz José Gil, a única maneira de remover o obstáculo da «identidade» é «deixarmos de ser primeiro portugueses para poder existir primeiro como homens».

A primeira ideia é que este não é um livro para todos. Porquê? Porque as ideias-chave são baseadas em ideias de dois filósofos, Foucault e Ferenczi, cujas possibilidades de terem sido estudados por alguém exterior ao estudo da Filosofia são mínimas (pessoalmente, tenho uma ideia muito vaga de Foucault, tão vaga que não reconheci algumas das ideias que lhe são atribuídas no livro), colocando o leitor numa corda bamba, incerto de como avançar. José Gil explica os conceitos em que apoia o seu discurso, mas isso não torna o que tem para dizer mais interessante (ou claro).

«Há qualquer coisa na sociedade portuguesa que se volta contra os próprios portugueses. (…) O comum do espírito português é pequenamente pragmático – o dia-a-dia. (…) Apenas sei que traz consequências muito nefastas para o trabalho, para o enraizamento de uma certa cultura de elite em Portugal. (…) Gostamos do lazer, o que é bom porque não sofremos do stress do trabalho. Mas porque é que os portugueses gostam de continuar na inércia? É o pequeno gozo das coisas, aquilo que chamo chico-espertismo. Trata-se de uma forma de fuga ao trabalho e, paradoxalmente, de afirmação. Por essência o português não é preguiçoso – quando emigra é dos melhores trabalhadores. Mas cá ainda vivemos numa espécie de ninho, onde o lazer está na ordem das preferências.»

Como leiga no assunto tratado (partindo de conceitos de Foucault e Ferenczi), não consegui extrair muita coisa do livro; li-o atentamente, percebi a maioria do que foi dito mas não lhe achei grande relevância. Do meu ponto de vista, isso atribui-se a dois aspectos de igual importância: 1) não sou o público-alvo deste livro, e 2) o enfoque do livro no chico-espertismo português não foi tratado de uma forma que me interessasse e surpreendesse. O autor questiona mas não dá sugestões de mudança, fala da incompetência política e de como o apelo às massas se baseia numa estratégia da imagem e do discurso (o ex-primeiro-ministro José Sócrates é mencionado nesse sentido) mas nunca avança uma ideia concreta. É tudo demasiado abstracto para mim, o que se traduziu em alguns bocejos.

Não o recomendo nem deixo de recomendar... foi uma leitura morna que não me deu norte.

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(mediano/razoável)