terça-feira, dezembro 30, 2014

A cor do hibisco



Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Género:
Romance
Idioma: Português

Páginas: 270
Editora:
Edições Asa

Ano:
2010
ISBN: 978-989-2308531
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No Natal passado, entre outros, foi-me dado este livro, que tem estado na estante à espera que lhe pegue. Quando vi na livraria o romance Americanah, da mesma autora, hesitei na compra, porque nunca tinha lido nada de Chimamanda. Decidi ler este primeiro antes de fazer o investimento.
 
A cor do hibisco passa-se na Nigéria, de onde a autora é originária. A história é narrada do ponto de vista de Kambili, de 14 anos, cujo pai é um respeitado membro da comunidade e um católico praticante fervoroso. Fora de portas, tudo aparenta ser idílico, mas no seio familiar, Kambili, o irmão Jaja e a mãe Beatrice sofrem na pele o controlo e fanatismo do chefe de família. Eugene, o pai, é um homem de negócios inteligente, cuja riqueza providencia um conforto raro na Nigéria, e pratica o bem com generosos donativos e abrindo as portas a quem precise; em casa, é um pai exigente e um marido intransigente, com domínio total sobre a mulher e os filhos.
 
Mas a Nigéria passa por tempos políticos agitados e o jornal que Eugene patrocina é uma das vozes discordantes do regime, levando a pressões constantes e até ameaças. Numa dessas ocasiões, Kambili e Jaja vão passar uns dias com a tia e descobrem um convívio mais salutar, que não têm em casa. É a partir daí que tudo muda, tornando a violência paterna intolerável, e abrindo as portas a uma diferente forma de ver e de estar no mundo para Kambili e para Jaja.
 
A autora escreve com uma leveza e musicalidade invulgares (li no original, em inglês) e gostei da inclusão de algumas expressões em igbo (dialecto sul nigeriano). Há cenas violentas escritas com uma elegância que equilibra o tom e o conteúdo. Chimamanda sabe o que faz! Fiquei muito impressionada e pretendo ler outros livros dela, incluindo o Americanah que cobiço há meses.

Uma autora a descobrir (tem quase toda a obra traduzida cá) e A cor do hibisco um bom livro para começar.

****
(bom)

sábado, dezembro 13, 2014

O pecado de Porto Negro


Autor: Norberto Morais
Género:
Romance
Idioma: Português

Páginas: 432
Editora:
Casa das Letras

Ano:
2013
ISBN: 978-972-4622439
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O pecado de Porto Negro foi um dos finalistas do prémio literário Leya 2013, no ano em que ganhou o romance Uma outra voz, de Gabriela Ruivo Trindade. Não li este último nem teria tido a oportunidade de ler este, não fosse uma querida colega de trabalho me ter alertado da sua existência (e mo ter gentilmente emprestado).

Segundo romance do autor Norberto Morais, nascido em Calw, O pecado de Porto Negro é uma história de amor, ciúme e vingança, narrada com pormenores deliciosos e uma linguagem exuberante, onde o autor brilha na forma como domina a língua portuguesa e a narrativa, uma demonstração impressionante coroada por passagens que dá gosto ler e reler, o que revela um talento notável para a escrita (de apontar, contudo, nos capítulos iniciais, a repetição de uma expressão que se torna cansativa mas que poderia ter sido evitada por um editor mais sagaz, mas que em nada diminui a qualidade global).

Passada na ilha fictícia de São Cristóvão (algures na América Central), a história remete-nos para os cenários míticos das telenovelas brasileiras das décadas de 80 e 90: climas quentes que atiçam mentalidades conservadoras e (pseudo)religiosas, personagens apaixonadas e apaixonantes que vivem o dia-a-dia com simplicidade e um toque de pimenta, numa combinação irresistível de cheiros, cores e sentidos.

É neste cenário que encontramos o mulherengo Santiago Cardamomo, a tímida Ducélia Trajero e o manhoso Rolindo Face, um trio de protagonistas sólido secundados por um grupo ainda mais admirável: o travesti Chalila Boé, o frio Tulentino Trajero, a implacável madame Cuménia Salles, o sensível Cuccécio Pipi, entre muitos outros, numa galeria notável tão colorida como os seus nomes (adoro os nomes neste livro, geniais!). Norberto Morais dá-lhes vida num colorido linguístico que dá gosto seguir, numa trama bem imaginada.

Há muito pouco que possa acrescentar ao que dezenas de leitores já fizeram melhor do que eu: O pecado de Porto Negro é maravilhoso e prova de que há excelentes novos autores lusos para descobrir

Tendo em conta a época, fica a recomendação de um excelente presente para um amante de bons livros.

Leiam um excerto aqui.

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(muito bom)