domingo, abril 25, 2021

The Night Swim


 
Autor: Megan Goldin
Género: Thriller

Idioma: Inglês
Páginas: 352
Editora: St. Martin's Press (Kindle)
 Ano: 2020

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Rachel Krall tem um podcast sobre crimes - Guilty or Not Guilty - que se tornou muito popular após a sua investigação de um caso ter ajudado a libertar  um homem condenado injustamente da cadeia.

Os seus inúmeros seguidores aguardam ansiosamente a nova temporada, onde Rachel vai cobrir um caso muito mediático cujo julgamente está  prestes a começar: um jovem que é considerado uma promessa olímpica da natação é acusado de ter violado uma jovem. 

O julgamento vai decorrer na ficcional Neapolis, uma pequena cidade costeira. Na viagem até lá, Rachel encontra uma nota no carro a pedir-lhe ajuda para desvendar um crime por resolver que ocorreu há 25 anos. A autora da nota assina como Hannah e afirma que a morte da irmã foi homicídio e não um afogamento acidental.

A essa primeira nota juntam-se outras, cada vez mais longas, e as duas histórias seguem paralelas ao longo do livro, com diferentes linhas de tempo e centradas na violência sexual contra as mulheres e na forma como os crimes de violação são seguidos e encarados localmente e na imprensa. Estas são partes muito desconfortáveis de ler; é um tema pesado e a autora trabalha-o intensamente.

O formato dos capítulos é interessante, alternando entre as gravações dos episódios do podcast cobrindo as sessões no tribunal, a narração de Rachel e as cartas que Hannah lhe vai enviando.

O meu conhecimento do processo penal norte-americano não é grande, mas há alguns erros óbvios de procedimento e outros ligados a conflitos de interesses, os quais nunca ficariam por descobrir num julgamento tão mediático. 

É claro que a autora, por desconhecimento e/ou para encaixar na narrativa e beneficiar a história, os deixou - fica a nota.

The Night Swim é um thriller bem conseguido que prende o leitor até ao fim e não desilude na conclusão.

*****
(muito bom)

terça-feira, abril 20, 2021

The Anomaly

 

Autor: Michael Rutger
Género: Thriller

Idioma: Inglês
Páginas: 384
Editora: Zaffre (Kindle)
 Ano: 2018

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Michael Rutger é um pseudónimo do escritor e argumentista Michael Marshall Smith, um bestseller no género do thriller e vencedor de vários prémios literários: International Horror Guild, Philip K Dick Award e British Fantasy Award.

Descobri isto após ter lido The Anomaly; até então, nunca tinha ouvido falar deste autor.

Talvez devido ao facto do autor já escrever há tantos anos, a história arranca com mestria e prende a partir do primeiro capítulo. Nisso, o crédito é devido ao protagonista, Nolan Moore, um arqueólogo pouco respeitado pelos seus pares que recorreu à internet para se manter ligado ao ramo, mantendo um video podcast - "The Anomaly Files" - onde procura «explicar o inexplicável e encontrar artefactos perdidos» com uma equipa mínima e um orçamento modesto. 

Nolan Moore é descrito por várias reviews como um misto de Indiana Jones e Robert Langdon, e compreendo a comparação porque há humor e charme misturados com o saber acumulado e o facto de ser subestimado no seu campo, o que resulta numa personagem erudita que não se leva muito a sério.

A pequena equipa viaja até ao desfiladeiro do Grand Canyon, em busca de uma caverna mítica. Entre algumas peripécias e contra as expectativas, encontram-na mas ficam lá fechados; a partir daqui o tom de aventura passa para um de sobrevivência, um tom que vai continuar até ao final do livro, com várias tentativas de escapar da caverna e do que o seu interior esconde.

Para isso é essencial ter personagens interessantes e esse é um trunfo do livro. A dinâmica da equipa é bem descrita, com diálogos muito engraçados e realistas - desde cedo, tornam-se parte da história e não estão lá para "encher". O humor é certeiro e o ritmo é cinematográfico, com muitos capítulos a acabar em cliffhangers.

A revelação final é o aspecto menos bem conseguido, mas depois de um ritmo narrativo benm conduzido e um grupo de personagens tão bem construído, o resultado final é excelente.

The Anomaly é um dos melhores thrillers que li. É o primeiro de uma série de dois livros mas cada um dos livros é uma história independente - já tenho o segundo e vou ler em breve porque fiquei fã de Nolan Moore.

*****
(muito bom)

quarta-feira, abril 14, 2021

Mr. Mercedes (trilogia Bill Hodges #1)


Autor: Stephen King
Género:
Thriller
Idioma: Inglês

Duração: 14h 22 min

Editora: Simon & Schuster
(Audible)
Ano: 2014

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Mr. Mercedes atesta a versatilidade de Stephen King, desta feita no género thriller.

O primeiro livro de uma trilogia, o nosso protagonista é Bill Hodges, um polícia reformado que caiu numa rotina de televisão, cerveja e comida processada. 

Actualmente divorciado e com uns quilos a mais, Hodges teve uma carreira bem sucedida como detective, mas continua atormentado pelo caso que ficou por resolver: o caso do assassino do Mercedes, onde um condutor solitário avançou com um carro roubado sobre uma fila de pessoas que aguardava a abertura de uma feira de empregos, causando vários mortos e feridos.

A rotina do reformado muda quando recebe uma carta de alguém que assina "o assassino do Mercedes", provocando-o e dando detalhes que foram mantidos secretos. Hodges decide investigar por conta própria, explorando ângulos diferentes e servindo-se de aliados improváveis. E o tempo urge, porque o Sr. Mercedes está ansioso por voltar a sentir a mesma sensação de poder e excitação e planeia o próximo ataque.

Mr. Mercedes está bem escrito, com um ritmo adequado a um thriller. Em termos de enredo e personagens, não inova. Tanto o ex-detective como o psicopata de serviço são estereótipos batidos, com características vistas "n" vezes dentro do género literário e em séries como Mentes Criminosas e CSI.
 
Tem pormenores interessantes, como o recurso às novas tecnologias e explorando o sadismo de um antagonista com uns dialogos interiores "coloridos".
 
Não sendo um livro mau, não é um dos melhores de Stephen King, cujo talento é inegável e (já) não precisa de provar nada a ninguém.
 
Ouvi o audiolivro e o narrador - o actor Will Paton - é excelente. Faz toda a diferença neste formato e quando é bem feito, é memorável e eleva a qualidade da história. 

Em Portugal, o livro foi publicado pela Bertrand e está disponível na edição em papel (livro de bolso, inclusive) e em e-book.

****
(bom)

sexta-feira, abril 09, 2021

Os rapazes de Nickel


  Autor: Colson Whitehead
Género:
Literatura
Idioma: Português

Páginas: 248

Editora: Alfaguara Portugal
(e-book)
Ano: 2020

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Colson Whitehead arrecadou vários prémios literários em 2020 com Os rapazes de Nickel, entre os quais o Pulitzer; este é o seu nono livro - o primeiro que leio dele.

E que estreia! 

Numa história densa, que prende desde as primeiras páginas, Whitehead mostra-nos o mundo pelos olhos de Elwood Curtis, um jovem negro na década de 60, durante o período das leis de Jim Crow, que acredita que se seguir as regras, trabalhar arduamente  e não se meter em problemas, poderá ter sucesso na vida. Infelizmente, uma situação leva ao seu internamento num reformatório para rapazes conhecido como a Academia Nickel.

Em Nickel, só sobrevivem os muito sortudos. Espancamentos, trabalhos forçados, abusos de todo o tipo, fraudes e desvios de mantimentos estão na ordem do dia. Elwood, um sonhador, não demora a acordar para a realidade. Vale-lhe a amizade com Turner, um rapaz espevitado e céptico que torce o nariz às citações do amigo, enamorado pelas ideias e palavras de Martin Luther King.

A dignidade dos dois amigos é constantemente afrontada com o quotidiano em Nickel; Elwood esforça-se por continuar a crer na justiça universal à medida que Turner se torna mais pragmático. Apesar das diferenças, a sua amizade é sólida e apoiam-se um ao outro o melhor que podem.
«Boys arrived banged up in different ways before they got to Nickel and picked up more dents and damage during their term. (...) Nickel boys were fucked before, during, and after their time at the school, if one were to characterize the general trajectory.»
Colson Whitehead nunca é gráfico mas é inequívoco na descrição dos castigos corporais, abusos sexuais e exploração laboral que os rapazes do reformatório sofrem à mão dos "educadores" e "colaboradores" da instituição.

O autor ter-se-á baseado na Escola para Rapazes de Dozier onde, após o encerramento nos anos 2000, foi descoberto um cemitério com vários cadáveres de adolescentes que terão morrido vítimas de maus-tratos. 

Este tipo de histórias mexe com as nossas emoções e faz-nos questionar muita coisa, e é assim que deve ser - um check constante às normas e aos valores sociais, de justiça e do indivíduo.

Um excelente romance, poderoso, que precisa de ser lido, discutido e servir como lição. A reviravolta final é bastante emotiva (tenham um lenço à mão).

*****
(muito bom)

sábado, abril 03, 2021

Thrill me - essays on fiction

 

Autor: Benjamin Percy
Género: Ensaio

Idioma: Inglês

Páginas: 185

Editora: Graywolf Press (Kindle)

Ano: 2016
 

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Nunca tinha lido nada de Benjamin Percy, mas Thrill Me tornou-se, a par de Escrever - memórias de um ofício, de Stephen King, um dos melhores livros de escrita criativa que li até hoje. 
 
Curiosamente - ou talvez não... -, ambos escrevem literatura fantástica.

Este livro lê-se super bem, com Percy excelso na forma como mistura histórias quotidianas e experiência pessoal com várias citações e exemplos de livros dos mais variados géneros para ilustrar como escrever bem, desde a construção e desenvolvimento de um enredo aos diálogos, mantendo o leitor envolvido na história.

Num tom honesto, Percy conta-nos como teve de ser persistente e resistir às dezenas de cartas de rejeição até ser publicado, nunca deixando de tentar melhorar a sua escrita e reescrevendo inúmeras vezes. O resultado foi que após três livros, um dos quais uma antologia de contos, Benjamin Percy ganhou notariedade nos Estados Unidos.

Uma das coisas que mais gostei em Thrill Me foi a forma como o autor mostra como pegar no melhor de cada género da literatura e mesclar os pontos fortes do terror, do policial e da literatura contemporânea, por exemplo, e construir histórias sólidas e envolventes, citando inúmeros exemplos: Cormac McCarthy, Margaret Atwood, George R.R. Martin.

Destaquei vários parágrafos, às vezes seguidos, na minha versão Kindle e adicionei alguns títulos mencionados por Percy à minha lista de leitura. 

Thrill Me é uma leitura interessante e escrita com humor; é um livro que, à semelhança do livro de Stephen King, sei que vou reler.

*****
(muito bom)