Idioma: Inglês
Páginas: 128
Editora: Tor Nightfire (e-book)
Ano: 2021
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A compra de Nothing but blackened teeth foi feita com entusiasmo, depois de me deparar com uma capa e uma sinopse chamativas, publicitando uma história narrada num tom mordaz, onde se «exploraria a dor, a natureza parasitária das relações e as consequências das acções individuais».
Juntando um grupo de amigos, uma casa assombrada e elementos de folclore japonês, este livro passou à frente de outros que já tinha começado entretanto.
Em Nothing but blackened teeth, cinco amigos reúnem-se numa mansão japonesa para celebrar o casamento de dois deles. Os rumores de que é um local assombrado por uma noiva, abandonada no altar há décadas atrás, contribui para o interesse no sítio.
Assim, a celebração segue em clima de festa… até uma entidade misteriosa começar a manifestar-se. Daí a cada um dos amigos começar a revelar facetas menos simpáticas, é um pulinho. Segredos, egos e situações do passado vêm à tona e o resultado não é famoso.
Nothing but blackened teeth tinha potencial para ser muito bom.
Todas as referências
ao folclore japonês são algo diferente e interessante, e eu, que não conhecia quase
nenhum dos termos, alternava a leitura com uma pesquisa online rápida e a coisa
seguia melhor enquadrada (ohaguro-bettari = a noiva horripilante na capa do livro; tengu = criaturas fantásticas; kitsune =
raposa de muitas caudas; jūnihitoe = um traje típico do
Japão imperial; fusuma = painéis japoneses que delimitam os espaços interiores de uma casa).
A capa é a melhor parte do livro, juntamente com o uso de folclore japonês. A história não resulta assustadora ou particularmente atmosférica, apesar do cenário.
Para mim foi também difícil “entrar” no livro porque as personagens (apesar da diversidade étnica) são pouco desenvolvidas, mesmo Cat, aquela que, dentre os cinco, tem mais protagonismo, e é a narradora. Nenhuma é especialmente apelativa e a forma como falam uns com os outros é desconexa e hostil, sendo confuso o que os levou ali e as suas motivações (uma forte amizade e respeito estão fora da equação).
Creio que poderíamos abordar a leitura de um ponto de vista do narrador “pouco confiável” e dar-lhe maior profundidade, mas com descrições resumidas e pouco desenvolvimento das personagens, não há muito por onde puxar.
Também achei a qualidade da prosa algo instável, com trechos muito bons a alternar com outros que soaram pretensiosos. Algo solucionável com uma melhor, ou mais atenta, edição? Mais: condensar numerosas metáforas numa história não é suficiente para a tornar boa - faltou uma âncora.
A ideia com que fiquei é que este é um rascunho de uma história maior, que merecia ser mais trabalhada.
Quero ler mais desta autora para tirar teimas. Algumas sinopses parecem interessantes, como a deste livro que, infelizmente, ficou aquém - lista completa da bibliografia de Cassandra Khaw neste link.
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(mediano/razoável)