segunda-feira, janeiro 31, 2022

The plot

 

Autor: Jean Hanff Korelitz
Género: Thriller
Idioma: Inglês
Páginas: 322
Editora: Faber Faber
 Ano: 2021

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Em The plot, o protagonista, Jacob Finch Bonner (Jake), é um escritor que não consegue repetir o sucesso do seu primeiro livro. Desinspirado mas querendo continuar ligado à área, lecciona cursos de escrita criativa.

É num destes cursos que um dos alunos partilha com ele o enredo do seu romance, com uma «reviravolta tão única que só pode resultar num best-seller». Jake, mesmo relutante perante a arrogância do outro, também acredita que é um enredo tão bom que mesmo mal escrito, só pode ser bem-sucedido. 
 
(Do lado do leitor, estamos curiosos sobre o que poderá ser.)

Anos depois, Jake descobre que o aluno morreu e que nunca publicou nada com o tal enredo imbatível. E decide usá-lo. O livro é um sucesso imediato, que traz a Jake a consagração, inúmeros fãs e muito dinheiro.

Porém, o escritor vive num medo constante de ser descoberto. Um dia, começa a receber mensagens anónimas de alguém que ameaça desmascará-lo...

À medida que a história de The plot avança, o culpado torna-se óbvio muitos capítulos antes do final. Não é assim tão dramático se preferirmos absorver a história analisando o plágio de Jake e a sua tormenta por o ter feito. Lido dessa perspectiva, o livro melhora, embora isso não oculte outras falhas.

Aquando do início do livro, somos apresentados a Jake e aos seus novos alunos do curso de escrita criativa. As personagens estão a ser desenvolvidas e, de repente, a história “dá um salto” de uns poucos anos, sem menção das personagens iniciais, focando-se apenas em Jake.

A opção da história dentro da história (com capítulos do best-seller "plagiado" intercalados com a acção do livro), não acrescenta muito e quebra o ritmo dos capítulos mais tensos - embora seja compreensível o seu uso.

Descobrir o culpado também não é difícil, mesmo para quem não seja leitor assíduo de thrillers. Como não há um grande número de personagens, é ainda mais óbvio. A própria ideia do plágio, como está aqui apresentada, é discutível q.b.: Jake partiu de uma ideia e criou as personagens quase de raíz noutro cenário e circunstâncias – terá mantido a reviravolta, o que permitiu a alguém ligar a história do livro ao ex-aluno de Jake. Mas não é uma reviravolta tão extraordinária assim. Acho que é uma zona cinzenta o suficiente para suscitar dúvidas.

Fica a questão: terá Jake realmente plagiado? Talvez. E talvez seja esse o verdadeiro tema do livro, embora a sinopse penda claramente para o thriller. O livro não desafia, não coloca questões éticas suficientes que o tornariam imensamente mais estimulante - neste campo, o filme As palavras, apesar de curto em duração, é melhor conseguido.

No final, a sinopse apelativa foi prejudicada por um ritmo e final desinspirados, com The plot a ficar aquém do esperado.

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(mediano/razoável)

domingo, janeiro 23, 2022

O adeus a Thich Nhat Hanh aos 95 anos

Fonte: Google Search Engine

Thich Nhat Hanh, ou Nguyen Xuân Bao, nasceu em Hue, Vietnam, em 1926.

Foi um monge budista, activista pela paz e pelos direitos humanos, poeta e escritor.

R
espeitado em todo o mundo pelos seus ensinamentos e exemplo de vida, publicou mais de 100 livros (20 deles editados em Portugal), difundindo uma mensagem de paz interior e mindfulness
 
Nos seus escritos de poesia, ficção e filosofia, aplicou a abordagem budista à vida em sociedade, nomeadamente na educação e na relação humana com a tecnologia e a natureza.
 
Aos 16 anos, escolheu ir viver com os monges budistas. Por ocasião da guerra do Vietnam, os mosteiros defrontaram-se com a questão de aderir ou não, exclusivamente, à vida contemplativa e continuar a meditar nos mosteiros, ou ajudar a população que sofria com os efeitos da guerra. Nhat Hanh foi um dos que optaram por fazer as duas coisas. Desde então, dedicou a sua vida ao trabalho de transformação interior para «o benefício dos indivíduos e da sociedade».
 
Foi proposto para o Prémio Nobel da Paz por Martin Luther King, que o apelidou de «apóstolo da paz e da não violência». Depois de visitar os EUA e a Europa, em 1966, em missão de paz, o monge foi proibido de regressar ao Vietnam, onde só voltaria em 2005, quase 40 anos depois. 
 
Exilado, Thich Nhat Hanh viveu várias décadas em França, num mosteiro budista - Plum Village -, fundado por si em 1982, e que é também um centro de meditação aberto a todas as pessoas.
 
Um dos principais ensinamentos de Thich Nhat Hanh é que, através da plena consciência, podemos aprender a viver no momento presente, em vez de nos apegarmos ao passado ou ao futuro; essa será, assim, a única maneira de desenvolver a paz, em si mesmo e no mundo.
 
Thich Nhat Hanh faleceu ontem, dia 22 de Janeiro, na cidade vietnamita que o viu nascer.

 Fontes:
wikipedia e plumvillage.org.
 
Fonte: plumvillage.org

domingo, janeiro 16, 2022

Nothing but blackened teeth


Autor: Cassandra Khaw
Género: Terror
Idioma: Inglês
Páginas: 128
Editora: Tor Nightfire (e-book)
 Ano: 2021

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A compra de Nothing but blackened teeth foi feita com entusiasmo, depois de me deparar com uma capa e uma sinopse chamativas, publicitando uma história narrada num tom mordaz, onde se «exploraria a dor, a natureza parasitária das relações e as consequências das acções individuais».

Juntando um grupo de amigos, uma casa assombrada e elementos de folclore japonês, este livro passou à frente de outros que já tinha começado entretanto.

Em Nothing but blackened teeth, cinco amigos reúnem-se numa mansão japonesa para celebrar o casamento de dois deles. Os rumores de que é um local assombrado por uma noiva, abandonada no altar há décadas atrás, contribui para o interesse no sítio.

Assim, a celebração segue em clima de festa… até uma entidade misteriosa começar a manifestar-se. Daí a cada um dos amigos começar a revelar facetas menos simpáticas, é um pulinho. Segredos, egos e situações do passado vêm à tona e o resultado não é famoso.

Nothing but blackened teeth tinha potencial para ser muito bom.

Todas as referências ao folclore japonês são algo diferente e interessante, e eu, que não conhecia quase nenhum dos termos, alternava a leitura com uma pesquisa online rápida e a coisa seguia melhor enquadrada (ohaguro-bettari = a noiva horripilante na capa do livro; tengu = criaturas fantásticas; kitsune = raposa de muitas caudas; jūnihitoe = um traje típico do Japão imperial; fusuma = painéis japoneses que delimitam os espaços interiores de uma casa).

A capa é a melhor parte do livro, juntamente com o uso de folclore japonês. A história não resulta assustadora ou particularmente atmosférica, apesar do cenário.

Para mim foi também difícil “entrar” no livro porque as personagens (apesar da diversidade étnica) são pouco desenvolvidas, mesmo Cat, aquela que, dentre os cinco, tem mais protagonismo, e é a narradora. Nenhuma é especialmente apelativa e a forma como falam uns com os outros é desconexa e hostil, sendo confuso o que os levou ali e as suas motivações (uma forte amizade e respeito estão fora da equação).

Creio que poderíamos abordar a leitura de um ponto de vista do narrador “pouco confiável” e dar-lhe maior profundidade, mas com descrições resumidas e pouco desenvolvimento das personagens, não há muito por onde puxar.

Também achei a qualidade da prosa algo instável, com trechos muito bons a alternar com outros que soaram pretensiosos. Algo solucionável com uma melhor, ou mais atenta, edição? Mais: condensar numerosas metáforas numa história não é suficiente para a tornar boa - faltou uma âncora. 

A ideia com que fiquei é que este é um rascunho de uma história maior, que merecia ser mais trabalhada.

Quero ler mais desta autora para tirar teimas. Algumas sinopses parecem interessantes, como a deste livro que, infelizmente, ficou aquém - lista completa da bibliografia de Cassandra Khaw neste link.

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(mediano/razoável)

segunda-feira, janeiro 10, 2022

O naufrágio das civilizações

 

Autor: Amin Maalouf
Género: Ensaio, Política

Idioma: Português

Páginas: 240

Editora: Marcador

Ano: 2020

Título original:
Le naufrage des civilisations  

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Amin Maalouf é um escritor e historiador líbano-francês, membro da Academia Francesa, composta pelos intelectuais mais proeminentes do meio francês.
 
Maalouf nasceu em Beirute, onde trabalhou como jornalista até 1975, quando rebentou a guerra civil libanesa. Nessa altura, mudou-se para França, iniciando a actividade como escritor. Como romancista, arrecadou inúmeros prémios, incluindo o prestigiado Goncourt.
 
Quando me ofereceram O naufrágio das civilizações, reconheci o nome do autor e, embora nunca o tivesse lido, sabia que a obra de Maalouf é caracterizada pelas temáticas da guerra e da emigração.  
 
Aqui, o resultado é um livro de geopolítica focado no Médio Oriente da segunda metade do século XX, cobrindo a presidência de Nasser no Egipto, a crise do Suez, a guerra dos seis dias (conflito árabe-israelense de 1967), a revolução islâmica do aiatola Khomeini, passando por vários episódios da política norte-americana.

Num mix de memórias e análise, o autor cruza factos históricos e biográficos, com contornos históricos e sociológicos, numa linguagem clara. Reflectindo sobre as últimas décadas, Maalouf aborda ainda o aquecimento global e as mudanças tecnológicas, incluindo a revolução digital e a robótica, que provavelmente farão com que centenas de milhões de empregos desapareçam.
 
Numa referência ao Brexit, menciona o fracasso do projeto europeu, alertando ainda para a perda da credibilidade democrática da América - acelerada durante o mandato de Donald Trump. Ao mesmo tempo que uma nova corrida ao armamento (nuclear) parece inevitável, são cada vez mais sérias as ameaças ao clima e ao meio ambiente, que só poderiam ser enfrentadas com uma solidariedade global que não existe. Cada vez há mais cisão e um maior distanciamento entre povos, apoiado em ideias xenófobas e de preservação de identidade individual onde a inclusão é condicionada pelas agendas políticas.
 
O naufrágio das civilizações é um apanhado das últimas décadas, uma análise que se salda numa leitura tão realista como deprimente. Isso não lhe tira qualidade, mas recomenda-se uma leitura pausada, com intervalos generosos para reflexão.
 
«Será que vamos aprender alguma coisa antes que estas calamidades nos atinjam? Teremos a força de alma necessária para nos recompormos e corrigirmos a situação antes que seja demasiado tarde?»

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(bom)

domingo, janeiro 02, 2022

Bem-vindo, 2022!

Bom 2022, leitores do blogue!

2021 disse-nos adeus, e abre-se perante todos nós um novo ano, com desafios, alegrias, e tudo o mais que vier.

Fonte: Google Search Engine

2021 foi um ano fértil em leituras, e, cá em casa, ainda mais em séries, filmes e jogos (video e de tabuleiro) porque covid oblige.

Isso e o facto de ter sido (demasiado?) ambiciosa no meu desafio de leitura no site Goodreads, saldou-se em não ter acabado o reading challenge a que me propus, lendo 51 livros em vez de 70. Não sei se seria razoável para começar, por isso este ano vou ser mais realista.

Também passei mais tempo a escrever ficção, uma paixão onde quero continuar a investir tempo e energia, e fui publicada pela primeira vez, numa antologia de quinze novos autores, Sangue Novo. Escrevi o 13.º conto do livro, intitulado "Ritos".

Dos muitos livros lidos, houve tantos tão bons! Descobri as vozes de Colson Whitehead, Jane Harper, Pedro Lucas Martins e Chanel Miller, só para mencionar alguns. Foram tantas as leituras que me arrebataram, entre os géneros thriller, terror, policial, drama histórico, a saber (uns quantos):

- A seca, de Jane Harper;

- Os rapazes de Nickel, de Colson Whitehead;

- Know my name, de Chanel Miller;

- The night swim, de Megan Goldin;

- A promessa do faroleiro, de Pedro Lucas Martins;

- The anomaly, de Michael Rutger;

- O canto de Aquiles, de Madeline Miller;

- Southern bastards vol.1: aqui jaz um homem, de Jason Aaron e Jason Latour

 

 








Em 2021, o mundo da literatura ficou mais pobre com o desaparecimento de Anne Rice, Joan Didion, Larry McMurty e Stephen Dunn. Que descansem em paz e continuem imortais nas obras que nos deram.

Continuarei a ler e a ouvir livros, via kindle, audible e formato papel. Utilizo-os a todos com o mesmo prazer.

Boas leituras!

Fonte: Google Search Engine