quarta-feira, novembro 23, 2022

Questões escaldantes: ensaios e textos ocasionais (2004-2021)

  

Autor: Margaret Atwood
Género: Não Ficção

Idioma: Português

Páginas: 584

Editora: Bertrand Editora

Ano: 2022
Título original:
 Burning questions:
essays and occasional pieces, 2004 to 2021

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«Porque contam histórias todas as pessoas, em todos os pontos do planeta, em todas as culturas? Quanto de nós podemos dar aos outros, ou de quanto podemos prescindir, sem que fiquemos vazios? Será possível viver no planeta Terra? (…) O que têm os zombies que ver com autoritarismo?
Atwood convoca o melhor do seu prodigioso espírito crítico e do seu humor irreverente, discorrendo sobre o fim da História, a crise financeira, a ascensão de Trump ao poder e a herança do trumpismo, e a própria pandemia
Ao longo de quase 600 páginas e cinquenta peças literárias - entre ensaios, discursos, críticas literárias e artigos de opinião -, a mente perspicaz e o sentido de humor aguçado de Margaret Atwood confirmam a boa forma, inteligência e sagacidade da escritora de 83 anos.

Margaret Atwood é uma das mais importantes escritoras contemporâneas, com vários dos seus livros a manterem-se relevantes e, em alguns casos, prescientes em áreas como os direitos e a auto-determinação das mulheres e os avanços tecnológicos (The Handmaid's Tale; Oryx and Crake).   

Questões escaldantes contém os seus pensamentos e observações, cobrindo eventos ocorridos entre 2004 a 2021, período onde se consolidou como uma lenda literária.

Nada escapa ao olhar e à pena da Senhora Atwood. E ainda bem! Acusada de ser uma má feminista, defende-se com coerência e clareza, terminando com a pergunta: o que constitui então [aos olhos de quem a acusa] uma boa feminista?

Em vários ensaios, Atwood discute a inspiração, criação e influência de alguns dos seus romances, a presidência de Trump, e o imenso amor a Shakespeare, só para nomear alguns, numa colecção marcada pela preocupação contínua da autora com as questões éticas e morais que a sua ficção levanta, não esquecendo os temas que lhe são mais queridos - a literatura, o feminismo, o meio ambiente e os direitos humanos.

Há ainda vários capítulos dedicados a companheiros de escrita, com homenagens às escritoras Alice Munro, Simone de Beauvoir, Doris Lessing e Ursula K. Le Guin.

Ainda defendendo as causas que a apaixonam, Margaret Atwood evoca a bibliografia de Rachel Carson – uma das pioneiras da consciência ambiental moderna, com a obra Silent Spring – e de Marilyn French – uma feminista crítica do patriarcado, com a obra From Eve to Dawn, a History of Women in the World.

No entanto, o livro não é fundamentalista, nem nunca deixa de haver espaço a diversidade.

Apesar da pouca leveza de muitos dos temas abordados, o tom de Atwood é optimista e informado. É visível a resistência à censura em muitas das peças de Questões escaldantes, embora a autora rejeite a noção de usar a sua posição para funcionar como porta-voz [política].

Não procurei o livro com esse intuito nem sou particularmente permeável a influências externas, por isso Questões escaldantes funcionou como uma leitura estimulante, bem-humorada e que levanta questões interessantes e pertinentes. “Só” por isso, é uma leitura mais do que recomendada.

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(muito bom)