20 de dezembro de 2021

Know my name - a memoir

 
Autor: Chanel Miller
Género: Memórias

Idioma: Inglês

Páginas: 368

Editora: Viking (e-book)

Ano: 2019

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Em 2015, no campus da Universidade Stanford, uma das instituições mais prestigiadas do mundo, um aluno, Brock Turner, agrediu sexualmente uma jovem de 22 anos, identificada nos autos como “Emily Doe” (“Doe” significa “Anónima” no meio forense).

Chanel Miller foi (é) essa mulher. Revoltada com a forma como o sistema penal trata as vítimas de agressão sexual e pela brandura no tratamento dos acusados (e de Brock Turner particularmente); e chocada com a pena leve do seu agressor, decidiu expressar os seus sentimentos na sua declaração de impacto como vítima (victim impact statement), expressando ao juiz da causa o efeito que toda a experiência lhe provocou - a declaração foi incluída no final do livro. 
 
Chanel Miller leu a declaração em voz alta no tribunal, perante os seus familiares e os de Brock Turner, funcionários judiciais, jornalistas e restante público, recusando-se «a ser apenas um corpo desnudado sem um nome, uma história (...)». Provados os factos, Turner foi condenado a seis meses de prisão (cumpriu metade da pena).

Em Junho de 2016, a sua declaração, ainda com o nome de “Emily Doe”,  foi publicado no BuzzFeed, uma das maiores plataformas digitais de notícias, e tornou-se viral, lido por 11 milhões de pessoas nos primeiros dias (no ano seguinte, “rebentaria” o movimento #MeToo).

Ao mesmo tempo que se formava um tsunami de apoio, o texto foi traduzido para outras línguas e lida no plenário do Congresso norte-americano. Foi o motor de alterações legislativas na Califórnia e levou à destituição do juiz do caso. Milhares escreveram cartas a “Emily Doe” para lhe agradecer por lhes dar a coragem de partilharem as suas próprias experiências de agressão pela primeira vez.

Em Know my name, Chanel Miller assume-se como “Emily Doe” e conta a sua história na 1.ª pessoa. Analisa as circunstâncias e o desfecho daquele que foi descrito como o «caso perfeito» - houve testemunhas oculares, Turner foi apanhado em flagrante delito e fugiu quando surpreendido, as provas materiais foram asseguradas na hora -, mas que em nada atenuou o seu isolamento e vergonha, antes e durante o julgamento.

A história de Chanel Miller expõe uma cultura que protege os agressores e um sistema judicial que falha aos mais vulneráveis. Dotada de uma eloquência e inteligência emocional notáveis, Chanel Miller mostra-nos uma evolução corajosa, cheia de altos e baixos sob a forma de pesadelos, ataques de ansiedade e momentos de grande tristeza, e como conseguiu superar o sofrimento e recomeçar a viver em pleno.

O testemunho da autora é, várias vezes, difícil de ler, pelo desconforto que causa e a dor evocada. São mais de 350 páginas que, apesar de muito bem escritas (Chanel é uma escritora muito talentosa), obrigam a uma reflexão aprofundada da agressão sexual e relembra quão vital é o consentimento, especialmente em situações onde a alegada vítima está inconsciente – vêm à mente os casos de agressão sexual perpetrados pelo comediante Bill Cosby (considerado uma lenda do humor televisivo), que dava sedativos e outras substâncias químicas às suas vítimas para as incapacitar.

"This book does not have a happy ending. The happy part is there is no ending, because I'll always find a way to keep going." (Este livro não tem um final feliz. A parte feliz é que não tem fim, porque eu sempre encontrarei uma forma de seguir [em frente].)

A capa do livro remete para a arte japonesa do kintsugi (emenda de ouro), que consiste em reparar objectos de cerâmica danificados/quebrados com laca  misturada com pó de ouro, prata ou platina; a ideia está ligada a uma filosofia de aceitação do objecto imperfeito, defeituoso ou desgastado pelo uso. Assim, as marcas e imperfeições são vistas como eventos naturais, acolhendo a mudança e o destino como aspectos da vida humana. Uma imagem mais do que apropriada para um(a) sobrevivente.

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(muito bom)

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