16 de fevereiro de 2014

As virgens suicidas



Autor: Jeffrey Eugenides
Género:
Literatura contemporânea
Idioma: Português

Páginas: 256
Editora:
Dom Quixote
ISBN:  978-972-202449-5
Título original: The virgin suicides
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O livro começa como acaba (o autor não o esconde): cinco adolescentes entre os 13 e os 17 anos, as irmãs Lisbon, suicidam-se no espaço de um ano. A razão? Temos as restantes 255 páginas para descobrir.

Cecilia, a mais nova, é a primeira a matar-se. A partir daí, a família Lisbon cai numa espiral descendente de escuridão e isolamento, afastando-se do resto da comunidade e deixando de ser vista no exterior. Ao mesmo tempo que a sua casa se deteriora por fora, o interior deixa adivinhar uma profunda depressão dos pais e das 4 irmãs sobreviventes.

A história é contada por um grupo de rapazes da idade das raparigas, seus vizinhos e colegas de escola, que seguem todos os passos daqueles «seres luminosos» com tão pouco em comum com os seus pais socialmente inaptos. Os rapazes estão fascinados pelas irmãs, desenvolvendo uma obsessão que se prolonga na idade adulta, razão pela qual o livro é narrado vários anos depois, por mentes já desenvolvidas e críticas, que conseguem analisar mais friamente o que os olhos inexperientes não viam nem percebiam na altura.

A razão do suicídio não é clara, mas algumas razões são lançadas para a mesa: a opressão de uma mãe religiosa e castradora que não consegue lidar com o vento da mudança dos anos 70, a impassividade de um pai que cede toda a autoridade à esposa, uma predisposição genética para uma tristeza crónica debilitante, uma mistura explosiva das anteriores.
 
O tema é sombrio e Jeffrey Eugenides cria uma atmosfera claustrofóbica que fica na memória muito depois de acabarmos o livro. O estilo é poético e floreado q.b., mas equilibra bem com o tom, dando luz a um conteúdo escuro.

Confesso que a história me afectou nos dias em que o li, ao que não ajudou ser Inverno, com muitos dias nublados e de chuva, como se a melancolia das irmãs Lisbon me acompanhasse mesmo nos momentos em que não estava a ler; é raro um livro ter este efeito sobre mim, mas reconheço que prefiro não o sentir, pois As virgens suicidas trata temas demasiado desconfortáveis para andarmos com eles na cabeça todo o dia.

Também por isso, este é um dos raros casos em que gostei mais do filme do que do livro; a realizadora Sofia Coppola soube captar o essencial da obra de Eugenides e dar a luminosidade ideal a uma história bastante sombria, que em livro se torna demasiado longo e pesado; a qualidade da história é evidente, não nego, mas continuava a ser provocador com menos umas cinquenta páginas, que só prolongam a agonia do leitor e não acrescentam nada de novo.

Uma boa leitura, extremamente melancólica, que aconselho a alternar com um livro mais "levezinho" (eu gostaria de ter tido esta dica).

****
(bom)

9 de fevereiro de 2014

O dardo de Kushiel (série Kushiel #1)



Autor: Jacqueline Carey
Género:
Fantasia
Idioma: Português

Páginas: 400
Editora:
Saída de Emergência

Colecção: Bang
ISBN:  978-989-637185-2
Título original: Kushiel's Dart
Tradução: Teresa Martins de Carvalho
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Bem-vindos a Terre D'Ange, pátria dos D'Angeline, e palco inicial da trilogia Kushiel, de Jacqueline Carey. A série de livros passa-se num mundo medieval europeu adaptado (com Terre D'Ange a ocupar o território da França), uma nação fundada pelo Abençoado Elua.

A nossa narradora é Phèdre, nascida com uma marca escarlate no olho esquerdo (o que a destina a ser uma Serva de Naamah) e vendida para servir na Corte da Noite, onde fica até ser comprada por Delaunay, um fidalgo que vê nela a marca de Kushiel e a treina para ser uma cortesã e uma espia ao seu serviço, juntamente com Alcuin, outro pupilo de Delaunay.


Phèdre é uma boa narradora e protagonista, forte, determinada e inteligente, com um grande sentido de sobrevivência. Treinada nas artes da alcova e instruída em história, política, filosofia e vários idiomas, torna-se uma anguissette irresistível, oferecendo prazeres destinados aos mais altos círculos e obtendo as informações necessárias ao objectivo de Delaunay.


As intrigas e esquemas que Phèdre e Alcuin desvendam entre lençóis vão levar a acontecimentos dramáticos, que os colocam no palco da luta de poderes, chamando a atenção dos nobres poderosos, que os tentam usar nos seus jogos de traição e influências.

O dardo de Kushiel é um livro rico em detalhes. Demorei um pouco a familiarizar-me com os termos comuns e os vários locais, com a hierarquia das casas e a cultura presentes no livro, mas isso é natural e acontece neste tipo de livros; é uma questão de tempo (e capítulos) até absorvermos tudo. O tom do livro é formal, barroco até, e a autora optou por um vocabulário complexo e rico, o que também requer alguma habituação.

Para quem gosta de intriga e lutas de poder, vai gostar d'O dardo de Kushiel, com a ressalva de que um universo tão extenso e cheio de pormenores exige paciência nas primeiras dezenas de páginas. Depois disso, torna-se uma leitura entusiasmante, a que se volta com gosto.

Como é habitual, a editora disponibilizou um excerto do livro; podem lê-lo aqui.

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(bom)