terça-feira, julho 26, 2022

Crema


 
Autores: Johnnie Christmas,
Dante Luiz, Ryan Ferrier
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 122
Editora: ComiXology Originals
 Ano: 2020

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Crema é descrito pelos autores como «um romance assombrado em três capítulos».

A história é efectivamente contada em três capítulos - The last roast, The grind e Brew -, e centra-se em Esme, uma barista de Brooklyn que consegue comunicar com fantasmas quando ingere grandes quantidades de café.

Quando Esme se apaixona por Yara, herdeira de uma plantação de café, as duas decidem mudar-se para o Brasil e dedicar-se ao negócio familiar. Mas um fantasma local assombra Esme e convence-a a ajudá-lo a corrigir um erro passado.

É uma história dinâmica com nuances sobrenaturais, com várias vinhetas dedicadas ao delicioso mundo do café.

Fonte: comicsbeat.com

Um dos autores, Christmas, explica que escreveu a maior parte de Crema em cafés, ouvindo as conversas nas mesas em redor e consumindo grandes quantidades de cafeína.

As ilustrações de Luiz - gostei muito do traço dele - destacam o realismo mágico em contexto moderno da acção, recorrendo a uma paleta de cores vibrantes.

Fonte: comicsbeat.com


Gostava que a história tivesse sido mais desenvolvida porque as coisas acontecem muito rápido.
Com mais umas dezenas de páginas e um maior enfoque na cultura brasileira, Crema teria tido uma acção bem mais rica. No final do livro, Christmas diz que se inspirou na trama da telenovela [brasileira], o que poderá justificar a acção corrida sem grandes explicações.

É uma BD boazinha, onde a ilustração, excelente, compensa uma história menos forte, com um refrescante romance sáfico.

****
(bom)

quarta-feira, julho 20, 2022

I'm thinking of ending things

 

Autor: Iain Reid
Género: Thriller
Idioma: Inglês
Páginas: 256
Editora: Gallery/Scout Press
 Ano: 2021

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Esta leitura surgiu de uma dupla recomendação: ler o livro (de 2016) e ver o filme (de 2020). A sinopse parecia interessante e o livro foi-me emprestado, logo não o quis reter por muito tempo.
 
Em I'm thinking of ending things, Jake e a namorada vão a caminho da casa dos pais dele jantar. A jovem está apreensiva, não só porque vai conhecer os pais do namorado com quem está apenas há um par de meses, mas porque está a pensar em acabar a relação.
 
É a namorada a narradora da história, e cedo percebemos que é alguém que não vê as coisas de uma forma linear. São os seus comentários peculiares q.b., e o facto de ter um segredo que ela própria considera desconcertante, que ajudam a passar a primeira parte do livro, focada na viagem de carro a caminho do jantar, com considerações sobre relações e a dinâmica do casal. 

Digo isto porque os capítulos iniciais foram pouco apelativos para mim, o que fez com que ficasse a marcar passo na leitura durante uns dias. Depois o casal chega à quinta isolada dos pais de Jake e a narrativa ganha mais tensão e fica extremamente atmosférica, com vários contornos de terror psicológico.
 
A partir daí, a leitura prosseguiu muito mais rápida, e pensei num par de teorias para o que pudesse estar a passar-se. Apesar do final do livro - e a revelação que faz todas as peças encaixarem -, me ter ocorrido, acreditei que a reviravolta fosse outra.

I'm thinking of ending things é um livro pouco convencional, com uma estrutura original. Uma mistura de mistério, thriller e terror psicológico, contada num tom acelerado e sem floreados linguísticos, resulta numa leitura surpreendente, onde fica tudo bem explicado no final. Ficou alguma tristeza pelas personagens ao ler a conclusão, mas percebo que era o único final possível.
«There’s only one question to resolve. I’m scared. I feel a little crazy. I’m not lucid. The assumptions are right. I can feel my fear growing. Now is the time for the answer. Just one question. One question to answer. (...)
Now it's my heart. I'm angry with it. The constant beating. We're wired to be unaware of it, so why am I aware of it now? Why is the beating making me angry? Because I don't have a choice. When you become aware of your heart, you want it to stop beating. You need a break from the constant rhythm, a rest. We all need a rest.»
Fiquei curiosa em ver o filme, adaptado pelo talentoso Charlie Kaufman, com a não menos talentosa Toni Collettte num dos papéis secundários.

*****
(muito bom)

quinta-feira, julho 14, 2022

Intimations

 

Autor: Zadie Smith
Género: Ensaio
Idioma: Inglês
Páginas: 111
Editora: Penguin Books (Kindle)
 Ano: 2020

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Li pela primeira vez Zadie Smith, uma das escritoras inglesas mais influentes das últimas décadas, cujo romance de estreia, White teeth / Dentes brancos (2000), publicado aos 25 anos, arrecadou diversos prémios

Desde então, mais livros foram sendo publicados com críticas positivas, mas só recentemente calhou ler algo dela; comecei por um dos mais recentes, editado em 2020.

Intimations, que em Português pode ser traduzido como indícios, pistas ou sugestões, é uma colecção de ensaios que Zadie Smith escreveu durante o confinamento, ou nas palavras da mesma: no período de «global humbling».

Na introdução, Zadie Smith refere que este livro não pretende ser um resumo do que se passou em 2020, ainda mais porque o ano ainda ia a meio quando o acabou de escrever. Tentou, sim, perceber os sentimentos e impressões que sentia perante os acontecimentos mundiais, criando estes apontamentos «small by definition, short by necessity», e tentando ter algum controlo sobre o que sentia («writing is control»).

O livro contém cinco ensaios - Peonies; The American Exception; Something to do; Suffering like Mel Gibson; e Screengrabs (after Berger, before the virus), sendo as páginas finais um conjunto de notas, intitulado Intimations, que não considerei como um ensaio mas como um agradecimento/homenagem.

Zadie Smith começa por escrever sobre Nova Iorque (onde vivia então) antes do confinamento, focando-se num momento passado numa florista, usando a situação como uma metáfora sobre a tensão (futura) entre resistência e submissão. Seguem-se outras considerações sobre vários tópicos: os óbitos ligados ao covid-19, a gestão da crise feita por Trump, a situação profissional dos jovens americanos, a relação entre vizinhos, a noção de tempo e de como o ocupar, a morte de George Floyd e o movimento 'Black lives matter'.

Intimations  é um bom livro, forte na sua universalidade, que contém um par de ensaios tocantes. Sublinhei algumas passagens, sobretudo pela sua lucidez. Gostei da leitura, principalmente da alternância entre uma linguagem terna e ingénua com outra provocadora. Recomendo.

«(...) but «black» immediately carries a heavy load. (...) Nor can it really be taken seriously when it complains of pain, as this particular type of American body is well known to be able to withstand all kinds of improbable discomforts. It lives in cramped spraces and drinks water with lead in it, and gets diabetes as a matter of course, and has all kinds of health issues that seem to be some mysterious part of its culture. It sits in jail cells without windows for years at a time. And even if it did complain - without money, without that well-dressed lawyer running to its aid - what recourse would it have?».

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(bom)

quarta-feira, julho 06, 2022

The breach

 

Autor: Nick Cutter
Narrador: Marc Vietor
Género: Terror
Idioma: Inglês
Duração: 6h e 45m
Editora: Audible Originals (Audible)
Ano: 2020

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O escritor Nick Cutter aparece frequentemente recomendado nas publicações que sigo.
 
Descrito como uma das novas vozes do terror, e com várias nomeações para prémios, Nick Cutter é um dos pseudónimos do escritor canadiano Craig Davidson, que escreve maioritariamente thrillers e terror sob o seu nome verdadeiro, e ainda sob um outro pseudónimo - Patrick Lestewka. 
 
The breach foi lançado exclusivamente em formato audiolivro pela Amazon, e, à data deste apontamento, assim continua, não estando prevista uma edição em papel ou e-book.
 
Passemos à história: John Hawkins é chefe da guarda florestal de uma reserva natural. Um dia, é chamado a investigar um corpo sem rosto, coberto de feridas peculiares. Hawkins e o médico legista suspeitam que o corpo desfigurado possa ser o de um físico que desapareceu recentemente. 
 
Apoiado por um pequeno grupo, Hawkins dirige-se à casa onde o físico foi visto pela última vez, encontrando-a infestada de insectos e com uma estranha máquina feita de peças de brinquedos no sótão. Quando uma das pessoas do grupo é mordida e outra desaparece, Hawkins começa a suspeitar que a máquina poderá ser a chave do mistério. Não passa muito tempo até tudo começar a descarrilar, com muitos insectos e descrições gráficas à mistura.

Gosto muito da mistura de elementos de terror com os de ficção científica, por isso The breach abriu com vantagem. Há suspense e muitos arrepios, alimentados por tentativas desesperadas de sobrevivência.

As descrições são muito boas, com metáforas originais. Nota-se uma clara mestria do escritor em trabalhar a atmosfera e todo o aspecto de "body horror", tornando a audição do livro uma experiência visual e inquietante, ao que ajuda o narrador ser bastante bom, com um timing cómico que perturba.

O ponto menos conseguido passa pelas personagens, quase todas (menos uma das secundárias) pouco interessantes, o que arrastou o chegar ao fim. Isso e a explicação científíca por detrás da ideia principal, que merecia mais elaboração. 

Fiquei entusiasmada em descobrir uma voz muito interessante em Nick Cutter. Vai ser uma questão de tempo até ler outro título dele - desconfio que será o The troop.

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(bom)