25 de dezembro de 2010

As piedosas

Autor: Federico Andahazi
Género:
Gótico

Idioma: Português
Editora: Editorial Presença
Páginas: 142
Preço: € 10
ISBN:  978-9-72-232470-0
Título original: Las piadosas

Avaliação: ****** (fenomenal)

As Piedosas passa-se
numa villa nos Alpes suiços, onde o poeta Percy Bysshe Shelley, Mary Shelley, a irmã desta, Claire, Lord Byron e o seu obscuro secretário John Polidori se reúnem numa estranha tertúlia. Estamos em 1816 e o desafio é escrever a obra mais negra e perturbante de sempre.

À primeira mirada aos nomes envolvidos, o concurso afigura-se desigual, mas é o secretário que acaba por vencer, ao apresentar O Vampiro, a primeira obra sobre um ser imortal e sedutor que se alimenta do sangue dos vivos.

Como consegue este homem insonso e desinteressante, um mero lacaio de Byron, que acumula funções de médico e secretário do poeta, escrever uma obra tão rica e escura, conseguindo derrotar o texto apresentado por Mary Shelley, que mais tarde será desenvolvido e resultar na obra-prima que é Frankenstein?

A resposta é: um pacto faustiano. Polidori não vende a alma ao Diabo mas antes fornece algum do seu «elixir vital» a uma obscura forma de vida parente das famosas gémeas cortesãs Legrand, que sobrevive à custa da sua extrema inteligência e férrea determinação em existir.

«Sou, na verdade, e digo isso sem apelar para nenhuma metáfora, um monstro. Nem sequer posso reivindicar minha inclusão na classificação que reúne aqueles abortos da natureza abandonados pelos pais nas portas das igrejas ou dos vestíbulos dos orfanatos. Padeço de uma certa idiotice química, de um desconhecido capricho fisiológico que fez de mim um fenómeno vagamento amorfo. Sou uma espécie de formação residual de minhas irmãs. (...) Mas sou, apenas, a terça parte de um monstro que razão alguma - nem humana, nem divina - poderia ter concebido. Ignoro que obscura inteligência governa a natureza; jamais se deixe enganar pelos enganos bucólicos com que os poetas medíocres tentam imbaí-lo. A beleza não é mais do que a aparência do horror e, invariavelmente, necessita da morte: a mais linda flor mergulha suas raízes na fétida matéria decomposta.»

As Piedosas é uma obra inteligentíssima, que nos surpreende até à última página, possuidora de uma crueza que não nos deixa pousar o livro. O autor combina com mestria elementos vários, onde se destacam o horror, a sexualidade, o fantástico e o simbólico, num ambiente soturno e, não raras vezes, assustador, despertando no leitor simultâneos sentimentos de repulsa e fascínio.

O humor negro e a atmosfera vincadamente gótica tornam este pequeno livro uma delícia irresistível, onde Andahazi brilha pela forma como agarra a atenção do leitor, culminando numa história rica em imaginação e final inesquecível. Obrigatório.

12 de dezembro de 2010

Jóia perdida

Autor: Anne Bishop
Género:
Fantasia

Idioma: Português
Editora: Saída de Emergência
Páginas: 320
Preço: € 19,13
ISBN:  978-9-89-637058-9
Título original:
Tangled webs

Avaliação:  ** (fraco)

Anne Bishop proporcionou-me boas horas de entretenimento com a sua trilogia d'As Jóias Negras, onde se mostrou uma autora envolvente, capaz de criar um mundo credível e sedutor, onde os Sangue dominam através da magia.
 

Comprei este livro convencida de que seria uma boa leitura onde me reencontraria com personagens como Daemon, Saetan e Surreal, numa qualquer aventura onde o bem venceria o mal. Esta última parte efectivamente aconteceu, mas a aventura não foi divertida nem emocionante mas antes sem brilho, monótona.

Na Jóia Perdida, Jaenelle Angeline, rainha dos Sangue, decide criar uma casa assombrada para que as crianças humanas (e sem poderes mágicos) possam perceber como vivem os Sangue, desmistificando algumas ideias falsas de crueldade e promiscuidade.

Paralelamente, um escritor de sucesso que escreve sobre os Sangue descobre ser, ele próprio, meio-Sangue. Radiante com a descoberta, rapidamente se revolta quando não é aceite da melhor forma por alguns daqueles, que ridicularizam os seus livros e o consideram um transviado.


Furioso, arquitecta um plano: constrói uma casa assombrada, ludibria alguns Sangue a ajudá-lo na concepção de armadilhas letais e, fazendo-se passar por Jaenelle, convida alguns ilustres (Surreal, Daemon, Lucivar) para a inauguração.

 O que se passa a partir daqui e nas 200 e muitas páginas seguintes é agonizante. A história avança muito devagar, com muitas repetições e às personagens que aprendemos a gostar falta-lhes complexidade e credibilidade, não parecem as mesmas dos restantes livros. Ora, isto é o pior: com uma história fraquinha e lenta no desenrolar, a autora podia ter apoiado o livro nos carismáticos e familiares protagonistas habituais, mas ao reduzi-los a uma forma tão superficial arruina a experiência ao leitor.

Não posso aconselhar a leitura deste livro nem a sua compra; leiam a trilogia das Jóias Negras, essa sim uma leitura de qualidade superior que faz jus à imaginação desta escritora.

3 de dezembro de 2010

A caixa em forma de coração

Autor: Joe Hill
Género:
Terror

Idioma: Português
Editora: Civilização
Páginas: 324
Preço: € 16,66
ISBN:  978-9-72-262555-5
Título original:
Heart-shaped box

Avaliação:  **** (bom)

A caixa em forma de coração é o primeiro livro que leio de Joe Hill.

Agradou-me a sinopse da história, que é interessante, e o facto do autor ser filho de Stephen King ajudou na decisão de compra. Criaram-se, assim, algumas expectativas.


Foi com satisfação que comecei a ler a história da ex-estrela de rock Judas "Jude" Coyne, um coleccionador do macabro, que compra num leilão da internet o fato assombrado de um homem morto.

Joe Hill não demora a entrar na acção e os primeiros capítulos do livro são muito bons, mas os dois terços que se lhes seguem têm muito menos fôlego e inspiração.

O livro tem um ponto forte inegável: o seu protagonista. Cinquentão e excêntrico, Jude vive isolado com os seus dois amados cães e uma namorada gótica 30 anos mais nova; a sua ligação com o mundo exterior é feita através do seu assistente pessoal, um aspecto que privilegia; Jude não faz grande fé na natureza humana. Pelas suas características, torna-se mais interessante assistir à sua mudança à medida que o fantasma que assombra o fato do homem morto começa a fazer as suas aparições e a manifestar as suas intenções.

Estas primeiras cenas são as melhor conseguidas do livro, verdadeiramente atmosféricas e assustadoras, e
A caixa em forma de coração vale muito por isso. Daí para a frente há uma quebra no ritmo e na atmosfera, sendo que o autor não consegue compensar-nos até ao final, que acaba por não exceder as expectativas nem primar pela originalidade, o que acaba por ser surpreendente, pois esperava um final tão bom como a introdução da narrativa, o que não aconteceu e influenciou a minha ideia global do livro.

Apesar disso, prefiro a forma com Joe Hill escreve em comparação com Stephen King; Hill cria uma dinâmica mais fluída e agradável de ler, mas em ideias e imaginação King ganha-lhe aos pontos.


Lê-se, mas está longe de ser extraordinário.