Autor: Orhan Pamuk
Género: Não Ficção
Idioma: Português
Páginas: 144
Editora: Editorial Presença
Ano: 2012
Título original: Saf ve düşünceli romancı
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Tenho alguns livros do escritor na minha lista, mas foi este, um dos poucos títulos de não ficção que escreveu, o primeiro que li.
O romancista ingénuo e o sentimental nasceu de um convite a Pamuk, da parte da Universidade de Harvard, para falar sobre a arte de escrever. O resultado dessas palestras seria depois condensado neste livro, seis capítulos em que o laureado fala sobre o que se passa quando lemos romances, a transição para o mister de escritor, e como ambos co-existem.
«Os romances são vidas segundas, vidas paralelas às nossas. (...) O que se passa na nossa cabeça, na nossa alma, quando estamos a ler um romance? Em que medida essas sensações interiores diferem de quando estamos a assistir a um filme, a ver um quadro ou a ouvir um poema, mesmo que seja um poema épico? Um romance pode, de vez em quando, dar-nos o mesmo prazer que uma biografia, um filme, um poema, um quadro ou um conto de fadas. No entanto, o efeito verdadeiro único da arte do romance é fundamentalmente diferente do efeito provocado por outros géneros literários, por um filme ou um quadro.»
Pamuk partiu de duas classificações do poeta e filósofo Friedrich Schiller para classificar os poetas: os ingénuos - os que escrevem espontaneamente, sem implicações intelectuais ou éticas, ao sabor do momento e animados por algo maior ligado à Natureza, a Deus, ao Universo - e os sentimentais - os que escrevem conscientes de métricas e estruturas, refinando métodos e ideias, sabendo o que querem transmitir desde o início.
Depois faz o seu próprio comentário a esta distinção, aplicando-o aos romancistas, partindo da sua experiência como leitor, depois como um escritor, analisando como as duas partes se complementam. O resultado é um livro cativante, escrito por alguém claramente apaixonado por livros.
Pelo meio, Pamuk fala ainda sobre a sua paixão pela pintura, como a complementa com o seu amor pela escrita - «pintando palavras» quando escreve -; analisa algumas passagens de Anna Karénina (Tolstoi), «um dos mais perfeitos romances alguma vez escritos», e remata comentando sobre a importância do "centro", ou o coração, da história.
Não é um livro consensual pois somos leitores (e, alguns de nós, escritores) de formas diferentes, mas cativa pelo entusiasmo com que Pamuk relata a sua experiência como ambos, e comenta sobre as passagens de alguns dos seus livros favoritos a partir dessas mesmas perspectivas.
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(muito bom)