domingo, maio 31, 2020

Living with a SEAL


Autor: Jesse Itzler
Género: Motivacional
Idioma: Inglês
Páginas: 256
Editora: Center Street (ebook)
Ano: 2015

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Depois de ler algures que o SEAL do título é o super-humano David Goggins, cuja autobiografia - Can't hurt me - está no meu top de livros de 2020, Living with a SEAL materializou-se no topo da minha pilha "a ler".
 
O nome de Jesse Itzler não me dizia nada: um rapper/compositor dos anos 90 tornado empresário de sucesso e co-proprietário de uma equipa da NBA. Nas suas palavras, o seu sucesso deve-se ao facto de estar disposto a fazer coisas que outras pessoas nunca pensaram ou consideram insanas.

Maratonista amador, Itzler diz que viu Goggins pela primeira vez numa prova de 100 milhas e que ficou muito impressionado. Assim que descobriu quem era, convidou David Goggins para, durante um mês, se mudar para sua casa e ser seu personal trainer; Goggins aceitou com a condição que Itlzer aceitaria todos os desafios físicos propostos.

«You can get through any workout because everything ends.» — SEAL (Goggins)
O relato desse mês intenso resultou neste livro. Há treinos insanos, feitos a horas invulgares, debaixo de temperaturas glaciais. Há hipotermia, dores musculares, vários momentos exclamativos. Há boa onda e boa disposição... e há David Goggins. 
 
A mais-valia do livro apoia-se inteiramente na "personagem" que é David Goggins. Sem isso, seria um título que me passaria ao lado. Deve ter havido liberdade artística para "dinamizar" algumas situações, mas do que li em Can't hurt me, a determinação e a filosofia de vida do ex-Navy SEAL foram bem captadas.

«I don’t do shit for applauses. I don’t do shit for fanfare. I do shit for me.» — SEAL (Goggins)
Em Living with a SEAL, a identidade do personal trainer nunca é revelada, e Itzler refere-se a sempre a ele como SEAL. A fotografia da capa do livro não é a de Goggins. Quando o livro foi publicado, em 2015, houve algumas entrevistas dadas pelo duo, e soube-se então a identidade do SEAL.
 
Entretanto, a visibilidade de Goggins tem aumentado nos últimos anos, ligada à angariação de fundos, a palestras motivacionais e à participação em vários eventos desportivos, consolidando-se após o lançamento da sua biografia em 2018 e das entrevistas a Joe Rogan e a Tom Bilyeu. Tornou-se uma marca mas o discurso é o mesmo.
«I don’t stop when I’m tired. I stop when I’m done.» — SEAL (Goggins)

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(bom)

terça-feira, maio 26, 2020

O Alquimista


Autor: Paulo Coelho
Género: Auto-ajuda, Motivacional
Idioma: Português
Páginas: 108
Editora: Planeta (ebook)
Ano: 1988

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Publicado em 1988, O Alquimista foi o livro que lançou o brasileiro Paulo Coelho para a ribalta.

Paulo Coelho nasceu em 1947, no Rio de Janeiro. Tem os seus livros traduzidos em dezenas de idiomas e recebeu prémios literários na Austrália, nos EUA, na França, e em Itália. É o escritor brasileiro mais vendido e lido no mundo.

Apesar disso, nunca senti vontade de o ler. Mesmo tendo umas poucas amigas que mo aconselhavam... mas cujos gostos literários não eram concordantes com os meus. Não aconteceu.

Recentemente, durante o período de confinamento, eu e a uma amiga decidimos fazer uma leitura conjunta de um livro com poucas páginas e tema acessível. Dos candidatos, ganhou O Alquimista, o livro que permaneceu na lista de bestsellers do New York Times durante anos.

A história: um jovem pastor tem o sonho recorrente de um tesouro escondido e das pirâmides egípcias. Decide ir em busca do tesouro, encontrando pelo caminho várias personagens que lhe transmitem ensinamentos, entre os quais os conceitos da Lenda Pessoal, da Alma do Mundo e da Linguagem Universal. A busca pelo tesouro despoleta, assim, um processo de enriquecimento espiritual e o leitor tira(ria) vantagem das várias revelações a par com o protagonista.

N'O Alquimista, o autor não descreve fisicamente as personagens além do género, focando-se antes nas roupas e acessórios que usam. Isso torna a história mais universal, sem associações extra que poderiam desviar a atenção do que é importante: a mensagem. Isto porque o tesouro acima mencionado é uma metáfora para o auto-conhecimento.

A escrita é pontuada por frases simples e curtas, que permitem ler o livro de uma assentada ou fazendo paragens e retomar a leitura sem perder o fio à meada.

«Quando você quer uma coisa, todo o Universo conspira para que possa consegui-la.»
 
A centena de páginas da edição que li resumem-se a um conjunto de banalidades num tom religioso que rapidamente se torna monótono. A história não é desenvolvida, o protagonista não é interessante nem multidimensional (novamente a vagueza da universalidade), algumas frases soam estranhas mesmo se lidas em voz alta (vejo algum conteúdo made in Brasil mas leio pouco em Português do Brasil, pelo que admito que a falha aqui pode ser minha), não há elevação espiritual. Certamente que o facto das minhas expectativas serem elevadas não ajudaram.
 
Gostaria de ter apreciado o livro (a minha amiga gostou bastante) mas não o achei estimulante de todo. Vago e sem estrutura, desinspirado até, apesar das entrevistas que li em que Paulo Coelho diz que sonhou com o livro, viajou até ao Egipto e sempre acreditou que esta história singraria. E fê-lo, mas eu nada colhi.

Leio todos os géneros literários e já li bons livros de auto-ajuda/motivacionais, com trajectórias espirituais inspiradoras, alguns dos quais têm um apontamento aqui no blog: Can't hurt me, The choice, A gata do Dalai Lama, The art of happiness. Há vários outros títulos que ainda não li e que me inspirarão tanto como O Alquimista inspirou outras pessoas; isso consola-me.
 
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(fraco)

sexta-feira, maio 22, 2020

The Sun Down Motel


Autor: Simone St. James
Género: Policial, Thriller
Idioma: Inglês
Páginas: 336
Editora: Berkley (e-book)
Ano: 2020
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1982. Vivian (Viv) Delaney sonha em tornar-se actriz e viaja à boleia para Nova Iorque, mas acaba a umas dezenas de quilómetros da “Big Apple”, em Fell, onde nada acontece. Arranja emprego como recepcionista do turno da noite no Sun Down Motel. Alguns meses depois, desaparece, deixando a polícia sem pistas sobre o que lhe poderá ter acontecido.

Trinta e cinco anos depois, Carly Kirk está de luto pela morte da mãe. Decide fazer uma pausa nos estudos e viajar até Fell, onde a sua tia Vivian desapareceu há mais de três décadas, algo que sempre a intrigou e de que a mãe se recusava a falar. Consegue um emprego no mesmo motel e arrenda um quarto no apartamento onde a tia viveu. O plano é recriar os passos de Viv, passar pelos locais onde ela passou e falar com os habitantes.

O livro alterna entre duas vozes: a de Viv em 1982 e a de Carly em 2017.

Ao mesmo tempo que Carly descobre que Fell não é assim tão pacata e que três mulheres foram assassinadas num curto período de tempo antes do desaparecimento da tia, em 1982 Viv acreditava que as mortes das três mulheres estavam ligadas e relacionadas com o Sun Down Motel… depois desapareceu.

O motel que dá título ao livro, e onde Viv e Carly trabalham, é uma personagem por si só. Desatualizado e suspenso no tempo, conserva o mobiliário da altura em que foi inaugurado, quarenta anos antes. O wi-fi não funciona, os telemóveis não apanham rede. Ah, e é assombrado.

The Sun Down Motel não é assustador, apesar dos elementos paranormais e da atmosfera gótica. Está bem escrito e tem um ritmo que o torna difícil de pousar. Gostei da abundância de personagens femininas fortes e da dinâmica entre elas.

Geralmente, narrativas paralelas não são a minha cena, e aqui as personagens são algo similares, o que confunde por vezes o seguimento da história, onde me perdi um pouco sem saber se o que Viv (no passado) sabia ou não já tinha, entretanto, sido descoberto/deduzido por Carly (no presente). Não apreciei o enredo romântico e o final demasiado “arranjadinho”.

Mesmo assim, é um dos melhores thrillers que li este ano.


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(bom)

domingo, maio 17, 2020

North Korea Confidential


Autores: Daniel Tudor; James Pearson
Género: Política, Actualidade
Idioma: Inglês
Duração: 4h e 45min
Editora: Brilliance Audio
Ano: 2018
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Escrito por dois jornalistas ocidentais, North Korea Confidential revela parte do quotidiano dos habitantes da República Popular Democrática da Coreia, vulgo Coreia do Norte.

Geograficamente, o país é limitado a norte pela China e pela Rússia; a sul pela Coreia do Sul, através da Zona Desmilitarizada Coreana (ZDC). O Norte afirma ser o governo legítimo de toda a península coreana; o Sul reivindica o mesmo.

O livro está dividido em sete capítulos, com diversos relatos, a maioria da informação fornecida por diplomatas estrangeiros e desertores norte-coreanos: o funcionamento dos mercados e o recurso ao contrabando, o preço das coisas (um cigarro custa menos de 5 cêntimos; uns ténis de marca cerca de 10 dólares), como os coreanos se vestem e como isso reflecte a sua posição na sociedade, como passam os tempos livres, a relação com a tecnologia, o sistema judiciário (a pena capital e os trabalhos forçados são amplamente utilizados), quem realmente detém as rédeas do poder (não a família Kim mas o departamento de "Organization and Guidance" do Comité).

Sem surpresa, o governo norte-coreano exerce controlo sobre muitos aspectos da cultura do país e esse controle é usado para perpetuar um culto de personalidade em torno do governante da família Kim que encabece o governo.
 
A lei prevê a liberdade de expressão e de imprensa, mas a prática do exercício desses direitos é proibida. Apenas as notícias que favoreçam o regime são permitidas, deixando de fora as que criticam o regime ou os problemas reais do país; não há jornais privados.

Nos parágrafos finais, os autores especulam sobre o colapso do regime. É verdade que a porta da mudança social da Coreia do Norte se abriu aquando da grande fome dos anos 90, na qual centenas de milhares de pessoas morreram - um dos raros relatos na primeira pessoa está publicado no livro A river in darkness: one man's escape from North Korea, que li em 2018 e sobre o qual fiz um apontamento aqui no blog - mas é um processo que demorará o seu tempo.
 
Durante esse período de grande fome, o Estado terá falido e foi incapaz de fornecer comida às massas, levando à criação de um extenso e elaborado mercado negro e do suborno generalizado. Os norte-coreanos descobriram outras formas de sobrevivência, através do qual as pessoas se sustentam vendendo mercadorias, muitas vezes contrabandeadas da China e da Coreia do Sul - unidades externas de armazenamento como USBs e telemóveis na grande maioria -, permitindo aos cidadãos acesso aos filmes, séries, livros e música do resto do mundo. Criou-se um impulso impossível de desfazer e de conter. Porém, com a conjuntura e politicas actuais globais, é de esperar uma evolução da sociedade, não uma mudança de regime.

North Korea Confidential lança alguma luz sobre um dos países mais isolados do mundo; o livro, apesar de breve, está repleto de informação prática
e é extremamente interessante.

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(bom)

quarta-feira, maio 13, 2020

A arte subtil de saber dizer que se f*da

 
Autor: Mark Manson
Género: Desenvolvimento Pessoal
Idioma: Inglês
Duração: 5h e 18min
Editora: Harper Audio
Ano: 2016
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Nunca tinha ouvido falar do autor antes de ver este livro à venda. Não sabia que mantinha um blog de sucesso nem que é um coach com um número significativo de adeptos.


A mensagem deste livro, empacotada de forma irreverente com um título colorido, foge à linguagem tradicional dos livros de auto-ajuda mas acaba inevitavelmente por abordar vários aspectos do desenvolvimento pessoal.

Os capítulos iniciais, não sendo extraordinários, são os melhores. O autor partilha a sua história, explica-nos como chegou até onde chegou, o que o levou à mudança; rapidamente desce em interesse e relevância. Resume-se a meia hora de substância em mais de cinco horas de escuta.

Não sou o público-alvo deste livro. Algumas tiradas são sexistas, muitas outras são superficiais. Muitas ideologias são abordadas superficialmente, mas há livros inteiramente dedicados ao estoicismo, ao budismo, ao existencialismo, para quem quiser aprofundar o conhecimento. Mas as que são evocadas são-no feitas a meio-gás e de forma poucachinha.

Em muitas alturas da nossa vida temos de dizer "que se foda”, assim como escolher as nossas lutas, criar prioridades, “crescer”, etc.; este livro não é/será o (melhor) mapa para isso. 
O poder do marketing e o apelo de um título "cool" podem fazer muito pelas vendas de um livro mas por estar no top tantas semanas como esteve não o torna, obviamente, um bom livro.
 
Sei que o vou esquecer rapidamente.

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(fraco)

sábado, maio 09, 2020

Brave

 
Autor: Rose McGowan
Género: Biografia
Idioma: Inglês
Duração: 6h e 53min
Editora: Harper Audio
Ano: 2018
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O nome de Rose McGowan evoca algumas interpretações do cinema indie, onde se estreou nos anos 90. Com o passar dos anos, fez a transição para o cinema comercial (Scream de Wes Craven; Planet Terror de Robert Rodriguez) e para a televisão (Charmed). Depois deixou de aparecer. Há uns anos, quando se assumiu como uma das vítimas de abuso sexual de Harvey Weinstein, tornou-se uma das figuras principais do movimento Me Too.

Brave começa pelo início: Rose nasceu em Itália em 1973, no culto “Children of God”, de onde o pai se escapou com os filhos tinha Rose 10 anos. A relação com os pais, mesmo fora do culto e já a viver nos EUA, sempre foi turbulenta. Anos mais tarde e já adulta, diz que caiu vítima de outro culto: o de Hollywood.

Apesar de gostar dos filmes em que participava, McGowan diz que sempre se sentiu desconfortável com a obsessão por um corpo e rosto perfeitos e pela constante sexualização da sua imagem. O ponto de viragem foi no final dos anos 90, quando se terá tornado mais uma vítima de Harvey Weinstein. Rose teria 23 anos, estava habituada a relações abusivas e a ver o seu valor ligado ao quão sexy era a sua imagem. Quando alegadamente contou o que acontecera, o conselho foi que ficasse calada (a autora critica o enorme grupo de pessoas em Hollywood que auxiliam os “inúmeros predadores sexuais a ficarem impunes”, a fim colherem benefícios pessoais do poder e do dinheiro dos agressores); nunca apresentou uma queixa na polícia.

Após este episódio, Rose McGowan decidiu afastar-se do mundo do cinema e investir na sua vida afectiva - a sua relação com o músico Marilyn Manson deu que falar. Quando protagonizou um filme com Robert Rodriguez mantendo uma relação com ele (que era casado), foi a gota d’água: era definitivamente uma actriz ambiciosa disposta a tudo e uma mulher promíscua. Tinha agora um rótulo e nada do que fizesse iria alterar isso...

Brave é um manifesto sem barreiras. Rose McGowan assume-se como uma activista destemida e determinada a expôr a verdade sobre a indústria do entretenimento, e ficar calada e não fazer ondas não é opção. Pelo caminho, desmonta o conceito de fama e lança uma luz fria sobre a máquina de Hollywood, da qual se recusa voltar a fazer parte. Urge aos leitores que se recusem a ser manipuladas pelos filmes e sejam corajosas, num apelo à acção de homens e mulheres para "serem gentis e decentes uns para com os outros".

A autora queixa-se que, durante anos, não foi ouvida, não sentiu que fosse respeitada ou levada a sério. Algumas mulheres poderão identificar-se com isto, principalmente quando é descrita a forma como se espera que uma mulher aja quando confrontada com o mundo real: agradável, educada, dócil, facilmente manipulada. 

Livros como Brave podem iniciar discussões sobre a necessidade das mulheres denunciarem situações de assédio e violência. Devem fazê-lo; essas histórias precisam de ser contadas. O facto de algumas vozes terem criticado a Rose McGowan por ser alegadamente doente mental em nada diminui a mensagem do livro nesse aspecto - já para não dizer que as pessoas com problemas mentais também têm voz. A autora admite que foi diagnosticada com transtorno depressivo e que durante anos sofreu de anorexia nervosa. 

Brave é um livro que nos deixa desconfortável, onde questionamos as escolhas da autora que repudia a indústria que lhe deu fama e sustento durante vários anos e que parece ter quase sempre escolhido parceiros abusivos. Nisso Rose McGowan está longe de ser uma mentora. O seu estilo é emocional e há muita raiva e linguagem colorida. É um facto e não deve ser um impedimento para não o ler. Os seus vídeos no YouTube mostram uma mulher zangada, transtornada e muito fragilizada; cada um é livre de interpretar e aceitar o seu discurso abrasivo e linguagem corporal

Ouvi este audiolivro duas vezes seguidas e o impacto da mensagem não perdeu impacto aquando da segunda escuta. A importância de muito do que é dito é tão relevante como isso.

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(muito bom)