Autor: Aurora Venturini
Género: Thriller, Contemporâneo
Idioma: Português
Páginas: 208
Editora: Alfaguara Portugal
Ano: 2023
Título original: Las primas
Tradução: Rita Custódio, Àlex Tarradellas
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As primas é o romance oficial de estreia da argentina Autora Venturini, lançado aos 85 anos da autora, vencedor do Premio Nueva Novela em 2007.
O júri descreveu o livro como extremo e de uma originalidade desconcertante.
Na cidade argentina de La Plata, na década de (19)40, conhecemos várias jovens que pertencem à mesma família disfuncional, onde as mulheres são abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência e a doença mental.
Yuna, também ela marcada pelas múltiplas deficiências familiares, é a narradora, e desde a primeira página, fala-nos num tom intimista.
No meio das desgraças que se sucedem na família, e que atingem também as suas primas, Yuna encontra um escape na sua imaginação e na sua arte: a cada episódio de violência e de horror, faz nascer uma nova tela.
E é pelo seu pincel e pelas suas palavras na primeira pessoa, num tom que passa do inocente ao perspicaz, que é muitas vezes cruel e visceral, que vemos o mundo que a rodeia, e as pessoas excessivas e maltratadas que o compõem, numa radiografia fiel da época.
As primas é,
sem dúvida, uma obra memorável, que revela, na protagonista, uma voz incomum que faz perguntas raramente feitas em voz alta, e revela, ainda, o talento enorme da escritora Aurora Venturini.
O percurso da autora, falecida em 2015 é, ele mesmo, curioso o suficiente para ser tema de um livro: nascida em 1922, trabalhou como professora e escritora e foi amiga de Eva Perón; após o golpe em 1955, exilou-se em Paris, onde terá privado com Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus. Na última década de vida, venceu um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros.
Recomendo com todo o entusiasmo que leiam As primas.
«Eu empurrava a Betina até à escola dela. Depois caminhava até à minha. Na escola da Betina tratavam os casos sérios. (…) Enquanto esperava que a aula da Betina acabasse, passeava pelos corredores daquele conciliábulo de bruxas. Vi que entrava um sacerdote acompanhado pelo acólito. Alguém tinha entregado o lençol, a alma. O padre aspergia água benta e dizia se tens alma que Deus te receba no seu seio. A quê ou a quem o dizia?»
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(fenomenal)
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