domingo, dezembro 26, 2021

Miss October #2 - Murder of the month

 

Autores: Stephen Desberg, Alain Queireix
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 50
Editora: Europe Comics (Kindle)
 Ano: 2018

---

Hollywood, 1961.

O detective Clegg Jordan continua sem saber quem é o responsável por uma série de crimes onde mulheres jovens são mortas com violência e os corpos deixados em poses sugestivas. Outro detective, Ariel Samson, começa também a investigar o caso, o que leva a conflitos entre os dois.

Vik Scott é uma herdeira abastada a recuperar de uma agressão que a deixou surda. Decidida a descobrir o culpado,  recorre a uma investigadora privada, e as duas vêem-se em situações perigosas.

Fonte:
comiconline.com

Com o avançar da história, começamos a aperceber-nos de que ninguém parece ser o que aparenta, com vidas duplas e uma moralidade duvidosa. Hollywood...
 
O tom deste segundo livro continua a sua homenagem ao género noir dos anos 40 e 50 do século XX, com o detective devasso q.b. e a femme fatale a envolverem-se no que não devem - e com quem não devem. 
 
A história continua interessante, introduzindo novas personagens e mais mistério.
 
Fonte: comiconline.com
 
Recomendado a quem goste de policiais noir - de notar o enredo com nuances do caso 'Dália Negra'.
 
Este é o segundo livro de uma série de quatro - já todos editados. Podem encontrar o apontamento ao primeiro livro da série aqui.

Segue-se Miss October #3 - Very bad memories.

****
(bom)

segunda-feira, dezembro 20, 2021

Know my name - a memoir

 
Autor: Chanel Miller
Género: Memórias

Idioma: Inglês

Páginas: 368

Editora: Viking (e-book)

Ano: 2019

---

Em 2015, no campus da Universidade Stanford, uma das instituições mais prestigiadas do mundo, um aluno, Brock Turner, agrediu sexualmente uma jovem de 22 anos, identificada nos autos como “Emily Doe” (“Doe” significa “Anónima” no meio forense).

Chanel Miller foi (é) essa mulher. Revoltada com a forma como o sistema penal trata as vítimas de agressão sexual e pela brandura no tratamento dos acusados (e de Brock Turner particularmente); e chocada com a pena leve do seu agressor, decidiu expressar os seus sentimentos na sua declaração de impacto como vítima (victim impact statement), expressando ao juiz da causa o efeito que toda a experiência lhe provocou - a declaração foi incluída no final do livro. 
 
Chanel Miller leu a declaração em voz alta no tribunal, perante os seus familiares e os de Brock Turner, funcionários judiciais, jornalistas e restante público, recusando-se «a ser apenas um corpo desnudado sem um nome, uma história (...)». Provados os factos, Turner foi condenado a seis meses de prisão (cumpriu metade da pena).

Em Junho de 2016, a sua declaração, ainda com o nome de “Emily Doe”,  foi publicado no BuzzFeed, uma das maiores plataformas digitais de notícias, e tornou-se viral, lido por 11 milhões de pessoas nos primeiros dias (no ano seguinte, “rebentaria” o movimento #MeToo).

Ao mesmo tempo que se formava um tsunami de apoio, o texto foi traduzido para outras línguas e lida no plenário do Congresso norte-americano. Foi o motor de alterações legislativas na Califórnia e levou à destituição do juiz do caso. Milhares escreveram cartas a “Emily Doe” para lhe agradecer por lhes dar a coragem de partilharem as suas próprias experiências de agressão pela primeira vez.

Em Know my name, Chanel Miller assume-se como “Emily Doe” e conta a sua história na 1.ª pessoa. Analisa as circunstâncias e o desfecho daquele que foi descrito como o «caso perfeito» - houve testemunhas oculares, Turner foi apanhado em flagrante delito e fugiu quando surpreendido, as provas materiais foram asseguradas na hora -, mas que em nada atenuou o seu isolamento e vergonha, antes e durante o julgamento.

A história de Chanel Miller expõe uma cultura que protege os agressores e um sistema judicial que falha aos mais vulneráveis. Dotada de uma eloquência e inteligência emocional notáveis, Chanel Miller mostra-nos uma evolução corajosa, cheia de altos e baixos sob a forma de pesadelos, ataques de ansiedade e momentos de grande tristeza, e como conseguiu superar o sofrimento e recomeçar a viver em pleno.

O testemunho da autora é, várias vezes, difícil de ler, pelo desconforto que causa e a dor evocada. São mais de 350 páginas que, apesar de muito bem escritas (Chanel é uma escritora muito talentosa), obrigam a uma reflexão aprofundada da agressão sexual e relembra quão vital é o consentimento, especialmente em situações onde a alegada vítima está inconsciente – vêm à mente os casos de agressão sexual perpetrados pelo comediante Bill Cosby (considerado uma lenda do humor televisivo), que dava sedativos e outras substâncias químicas às suas vítimas para as incapacitar.

"This book does not have a happy ending. The happy part is there is no ending, because I'll always find a way to keep going." (Este livro não tem um final feliz. A parte feliz é que não tem fim, porque eu sempre encontrarei uma forma de seguir [em frente].)

A capa do livro remete para a arte japonesa do kintsugi (emenda de ouro), que consiste em reparar objectos de cerâmica danificados/quebrados com laca  misturada com pó de ouro, prata ou platina; a ideia está ligada a uma filosofia de aceitação do objecto imperfeito, defeituoso ou desgastado pelo uso. Assim, as marcas e imperfeições são vistas como eventos naturais, acolhendo a mudança e o destino como aspectos da vida humana. Uma imagem mais do que apropriada para um(a) sobrevivente.

*****
(muito bom)

segunda-feira, dezembro 13, 2021

O adeus a Anne Rice aos 80 anos

Fonte: variety.com

Anne Rice, baptizada Howard Allen Frances O'Brien, nasceu em Nova Orleães em 1941.

Ao longo da sua carreira, publicou mais de 30 livros, muitos deles dentro da temática gótica e sobrenatural, e vendeu mais de 150 milhões de exemplares. Assinou ainda com os pseudónimos A.N. Roquelaure e Anne Rampling. 
 
É uma das autoras de terror mais prolíficas, uma das poucas mulheres dentro do género que se conseguiu afirmar e alcançar a fama. 
 
O seu primeiro livro, Entrevista com o vampiro, saiu em 1976 e tornou-se um sucesso de vendas imediato - seria adaptado ao cinema em 1994, um sucesso de bilheteira com Tom Cruise, Brad Pitt e Antonio Banderas, e nomeado para dois Óscares. Anne Rice terá escrito o livro numa semana, após a morte da filha.
 
Li vários dos seus livros durante a adolescência, e é uma das minha autoras favoritas desses verdes anos. Lembro com especial carinho a série das bruxas Mayfair.

Em 2005, a autora anunciou que deixaria de escrever obras sobre vampiros, bruxas e outros seres fantásticos, dedicando-se a outros géneros literários. Creio que não li nenhum dos seus títulos publicados após o ano 2000.
 
Anne Rice faleceu no pássado sábado, dia 11, vítima de complicações pós-AVC.
 
Para a posteridade, ficam sobretudo as suas personagens vampíricas, figuras sedutoras e eruditas, por vezes cansadas de uma imortalidade monótona, que arrebataram milhões de leitores pelo mundo fora.

 Fontes:
Wikipedia e AnneRice.com.

sexta-feira, dezembro 10, 2021

Miss October #1 - Playmates, 1961

 

Autores: Stephen Desberg, Alain Queireix
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 50
Editora: Europe Comics (Kindle)
 Ano: 2018

---

Hollywood, 1961.

O detective Clegg é o responsável pela investigação de uma série de crimes, onde mulheres jovens são mortas com violência, os corpos deixados em poses semelhantes aos das raparigas que aparecem na Playboy

Viktor (nome peculiar para uma mulher...) Scott perdeu a audição no seguimento de uma violenta tentativa de violação. Decidida a descobrir o agressor, recorre aos serviços de uma investigadora privada, financiando a contratação através do roubo de jóias e de obras de arte.

Fonte:
comiconline.com

Depois os caminhos de Clegg e Scott cruzam-se e as coisas ficam turvas, com ele a sentir o impulso de a ajudar e ela de se esquivar - ao fim de contas, é uma ladra. 
 
O tom do livro é uma homenagem ao género noir dos anos 40 e 50 do século XX, com o detective de moral duvidosa e a femme fatale a envolverem-se, indo contra todas as regras de ética profissional... e bom senso. 
 
A forma como as mulheres são retratadas é também fiel ao género noir, quase todas passivas e manipuláveis q.b., vítimas do seu desejo por homens sem escrúpulos (e há-os a cada página: gangsters, polícias corruptos, mentirosos), quase todas personagens sem nuance assinalável.
 
Fonte: comiconline.com
 
Adoro o desenho de Miss October #1 - Playmates, 1961. Nota-se pormenor acrescido na forma como as mulheres são desenhadas, especialmente nas cenas intímas; é Los Angeles e parece que metade da cidade dorme com a outra metade, por isso há várias vinhetas nesse tom.
 
Algumas partes da história parecem confusas mas como é uma série, vou esperar pela conclusão caso sejam pistas ou referências que farão o "clique" mais tarde.

Fonte: comiconline.com
 
Este é o primeiro de uma série de 4 livros - já todos editados. A história deste primeiro volume, Miss October #1 - Playmates, 1961, acaba algo abruptamente, sem qualquer cliffhanger. Mas adoro policiais e gosto muito do traço usado, por isso vou continuar a investir nesta série. E recomendo a quem goste de policiais, especialmente noir.
 
Entretanto, já estou a ler o segundo livro: Miss October #2 - Murder of the month.

****
(bom)

quinta-feira, dezembro 02, 2021

A história de uma Serva - novela gráfica

 

Autor: Margaret Atwood, Renée Nault
Género: Banda desenhada
Idioma: Português
Páginas: 240
Editora: Bertrand Editora
 Ano: 2020

---

Estava entusiasmada em pegar neste livro. Li o clássico de Margaret Atwood há mais de quinze anos, e tenho seguido a série, que soma, até à data, 4 temporadas, e é excelente, passem os vários desvios da narrativa original.

A nossa narradora é Defred, uma "serva" de Gileade, onde quase todas as actividades estão vedadas às mulheres.

Fonte: Google Search Engine

É neste futuro distópico, no território onde costumava existir os Estados Unidos, que se situa a República de Gileade, governada por uma teocracia totalitária cristã que derrubou o antigo regime democrático.
 
A sociedade de Gileade está organizada em castas, e as mulheres perderam quase todos os direitos. Defred (literalmente "de Fred", visto que está destacada na casa do Comandante Fred Waterford, e é pertença dele), é uma "serva", fazendo parte da casta de mulheres que são mantidas para fins reprodutivos pela famílias da classe dominante, numa época onde a esterilidade é epidémica e quase não nascem bebés.
 
Fonte: Google Search Engine
 
Condensar a complexidade e riqueza do livro é impossível, mas a novela gráfica inclui todos os aspectos centrais, assim como algumas citações literais, do romance de Margaret Atwood.
  
A obra original, lançada em 1985, já era relevante e pouco fantasiosa, e suscitou debates e análises; décadas passadas, continua relevante e mais próxima de alguns problemas que enfrentam as sociedades: uma poluição galopante e a persistência de várias doenças que grassam em várias nações e todos os anos fazem mais e mais vítimas. As leituras são múltiplas quando se examinam os problemas e desafios das nações actuais, e se comparam com a desta realidade distópica.

Fonte: Google Search Engine
 
Apesar do livro de Margaret Atwood permitir uma imersão e envolvimento diferentes, esta novela gráfica capta perfeitamente a mensagem da fonte; nisso, as ilustrações de Renée Nault são magistrais, com um traço enriquecido com o uso de aguarelas.
 
A adaptação da história ao formato BD, feita pela autora, capta a força do conteúdo original.
 
A história de uma Serva, neste formato de novela gráfica, não é substituto do romance, mas poderá aguçar a curiosidade de quem não o leu se começar por aqui.

*****
(muito bom)