24 de outubro de 2010

Comer Orar Amar

Autor: Elizabeth Gilbert
Género: Romance
Idioma: Português
Editora: 11 x 17
Páginas: 512
Preço: € 10
ISBN: 978-97-2251893-2
Avaliação: *** (mediano) 

Aos 30 e poucos anos anos, Liz Gilbert (a autora do livro) tem uma vida cheia: casada e a tentar ter um filho, viaja pelo mundo, escreve os seus artigos de viagem, tem amigos leais, o dinheiro não é problema... Porém, dá por si, uma madrugada, prostrada no chão da casa de banho, a soluçar e a suplicar por ajuda divina. A razão? Esta não é a vida que quer. Não quer ter um filho, não quer estar casada, não quer continuar no lar que ela e o marido construíram.

Segue-se um penoso divórcio, um romance pós-divórcio pouco saudável e uma quase-depressão que a leva por caminhos menos coloridos. Aos 34, sentindo-se velha e derrotada e sem gosto pela vida (ela, Liz, que sempre teve tanto gosto pela vida!), chega à conclusão que a sua única hipótese (e forma de renascer) é tirar 1 ano para si, longe do que conhece; decide dividir o seu itinerário centrado no I (eu em inglês): 4 meses em Itália para aprender a língua e entregar-se aos prazeres da mesa, 4 meses na Índia num ashram para se entregar de corpo e alma à devoção iogue, 4 meses na Indonésia onde pretende praticar o equilíbrio que as duas viagens anteriores (espera) lhe trouxerem. Um aparte: esta viagem tinha-lhe sido vaticinada por um curandeiro balinês há um ou dois anos atrás. Siga.


Uma coisa positiva sobre o livro: é bastante sensorial. A forma como a autora descreve tudo o que a rodeia e o entrelaça com humor e ditos espirituosos - e até algumas informações de algibeira -, tornam o livro fresco e fácil de ler, mas... não mais credível.


Claro está que a personalidade de Gilbert poderá não ser para todos (toda a gente parece adorá-la assim que a conhece, não há grande profundidade no seu relato, algumas questões ficam no ar, como a razão do seu casamento ser horrível), e algumas vezes dei por mim a pensar se algumas situações aconteceram mesmo como a autora conta (como os problemas de sono do sobrinho - a muitos milhões de kms - desaparecerem por ela lhe dedicar uma oração todas as manhãs quando esteve na Índia), mas prossegui a leitura sem julgamentos.

Porém, não posso deixar de notar que apesar da autora focar e discorrer amiúde sobre os seus relacionamentos falhados, a sua forma de ser dependente e obcecada, não se poupando sobre a sua culpa em diversas situações, o relato da sua relação espiritual com Deus - que despoleta a ruptura do seu casamento no início do livro - e sobretudo a evolução da mesma é bastante parca, arrematada em meia dúzia de parágrafos. Fiquei com a sensação que a ideia era chegar a Bali (Indonésia) o mais rápido possível, onde novas aventuras (e um novo amor) a esperavam. 

O livro lê-se bem e é leve, sem dúvida. Aliás, parece-me cor-de-rosa demais para alguém que esteve à beira do abismo, completamente perdida, e confia decisões importantes a profecias e ditos de curandeiros, deixando uma vida (ainda que divorciada e sem filhos) estruturada para trás. 

O que me incomoda é que acredito que a autora omitiu várias coisas desta sua jornada espiritual de uma mulher «em busca de tudo»; falta-lhe realismo e autenticidade, porque a vida não é só coisas lindas e maravilhosas. Mais, que mulher se pode dar ao luxo de, em plena crise existencial, pegar numa mala e ir percorrer o mundo? Aqui com uma nuance: não sem antes convencer o editor que o livro que vai resultar dessa viagem vai ser um best-seller e compensar a avantajado adiantamento que ele lhe deu, financiando essa mesma viagem.

É fantástico, a acreditar em vários artigos e entrevistas que li, que tantas pessoas apregoem aos sete ventos que este livro é a última coca-cola no deserto, que lhes abriu os olhos, que tiveram a epifania enquanto e quando o leram. Bom para elas, parabéns. Para mim foi apenas mais uma leitura, razoável q.b., sendo que a nível literário, já li muito melhor e... por aqui me fico.

14 de outubro de 2010

As mulheres da casa do tigre

Autor: Marion Zimmer Bradley, Andre Norton, Mercedes Lackley
Género: Fantasia
Idioma: Português
Editora: DIFEL
Páginas: 546
Preço: € 18
ISBN: 972-29-0343-8
Avaliação: *** (mediano) 

Sou uma fã de Marion Zimmer Bradley (MZB) desde que li As Brumas de Avalon, já lá vão muitos anos. As Brumas são o auge da carreira da autora e fez-me ler todos os outros livros dela, uns melhores e outros menos bons.

Neste livro, o cenário é Merina, uma cidade próspera onde reinam as mulheres da Casa do Tigre, mulheres de linhagem antiga que mantêm o equilíbrio na cidade, conciliando os interesses económicos e mantendo vivo o culto da Deusa. Porém, tudo muda quando o imperador Balthasar e o mago negro Apolon se aproximam com o seu poderoso exército e a cidade não tem qualquer hipótese  de lhes resisitir. 

As Mulheres da Casa do Tigre planeiam a defesa da cidade, cientes que apenas a sua coragem se interpõe no caminho do imperador e do seu triunfo: a rainha-mãe, Adele, fará uso dos poderes espirituais e mágicos de que dispõe; Lydana, a rainha reinante, organizará a resistência armada; e a princesa herdeira, Shelyra, será os «olhos e os ouvidos» da resistência fazendo valer uma antiga aliança com os ciganos.

Pessoalmente, tinha expectativas altas para este livro, ainda mais porque pensei que se MZB escreve tão bem a solo, o que resultaria na fusão com mais duas escritoras consagradas na literatura de fantasia, cada uma a contribuir com o seu talento? Nada de muito bom, infelizmente. Em grande parte, porque em muitas situações ao longo da acção, os três estilos de escrita não se harmonizam. Há alturas em que se nota perfeitamente um desfasamento da acção, como se estivéssemos perante personagens que não têm grande coisa a ver umas com as outras. As alternâncias de estilo também não resultaram muito bem, o que se torna frustrante porque a história tinha potencial (a sinopse promete mais do que cumpre).

Quanto às mulheres fortes a que estamos habituadas nos livros das autoras, aqui não vivem. As personagens não são mal delineadas nem exploradas, mas estão longe de ser apaixonantes e complexas como, por exemplo, uma Morgana (As Brumas de Avalon) ou uma Cassandra (O Presságio de Fogo).

Se fizerem questão de o ler, recomendo que o requisitem na biblioteca municipal ou peçam emprestado, acho que é a opção mais acertada. Leiam e formem a vossa opinião. Mas não posso aconselhar que se gaste quase 20 euros neste livro (nessa já caí eu!).

10 de outubro de 2010

Intensidade

Autor: Dean Koontz
Género: Thriller
Idioma: Português
Editora: Editorial Notícias
Páginas: 354
Preço: € 10 (alfarrabista)
ISBN: 978-9-72-460861-7

Avaliação: **** (bom) 

Dean Koontz é considerado um dos seguidores da escola de Stephen King, um dos escritores de terror/thriller psicológico mais promissores. E é-o, na minha opinião.  Autor de uma obra numerosa, Intensidade é um dos seus poucos títulos traduzidos em Portugal.

A nossa protagonista é a finalista de Psicologia Chyna Sheppard, que, ao passar um fim-de-semana prolongado com uma amiga na sua casa de campo, assiste ao massacre da família desta por um perigoso e inteligente psicopata. Num acesso de coragem (ou insanidade), decide segui-lo para poder auxiliar na sua detenção, no que se revela uma viagem infernal, à medida que vai conhecendo as motivações e a maldade de Edgler Vess.

Até à primeira metade do livro, o suspense abunda - e aqui aviso que o livro pode causar insónias aos mais impressionáveis, com a descrição dos actos cruéis e impunes praticados por Vess. A tensão é mantida ao longo de toda a narrativa e tem momentos de crescendo à medida que nos aproximamos do confronto final de Chyna com o assustador e extremamente lúcido Vess («um homem tão bonito e sem qualquer clarão de loucura nos olhos, como é possível um ser humano conseguir esconder tão bem a podridão que o corrói por dentro?»), exorcizando ao mesmo tempo os seus próprios fantasmas do passado, que envolvem abuso e maus tratos.

O livro é intenso, com um ritmo constante do início ao fim. Deixa o leitor
em ponto de rebuçado, completamente vidrado durante horas a fio. Obrigatório para quem gosta do género.