terça-feira, dezembro 20, 2022

Novos mistérios de Miss Marple

   

Autor: Vários
Género: Antologia

Idioma: Português

Páginas: 336

Editora: Asa

Ano: 2022
Título original:
Marple: Twelve new mysteries

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Vários anos da minha infância foram passados a ler Agatha Christie, na altura editada pela Livros do Brasil - na saudosa colecção Vampiro Gigante.


Passadas tantas décadas, a Rainha do Crime continua a ser uma das minhas autoras favoritas. E a sua marca na literatura não se esbateu com as décadas! Os seus livros têm reedições frequentes e adaptações a televisão, ao teatro, aos videojogos. As suas obras são intemporais e são um prazer de (re)encontrar.

Uma das suas melhores - e mais acarinhadas - criações é Miss Jane Marple, detective amadora de mente astuta e perspicaz, «capaz de superar a nata da Scotland Yard».

Em Novos mistérios de Miss Marple, quase cem anos após ganhar vida, a velhinha moradora na pacata vila de St. Mary Mead volta pela pena de doze autoras contemporâneas de renome, todas bestsellers.

(Tinha lido apenas quatro delas antes desta antologia, mas fiquei curiosa em descobrir o trabalho das restantes escritoras.)

Alguns contos são mais tradicionais (em dois deles o estilo e tom são idênticos ao de Agatha Christie quando escrevia as histórias com Jane Marple - que tributo!) e outros mais modernos, mas todos contêm referências aos títulos antigos. E Miss Marple é a estrela em todos!

Novos mistérios de Miss Marple foi uma leitura emocionante, e reecontrar uma das detectives mais admiradas da minha adolescência, cujos mistérios passei horas a ler, foi muito bom!

Abaixo, está o índice do livro, onde destaquei os meus contos favoritos:

1 - O mal em pequenos lugares, de Lucy Foley
2 - O segundo crime no vicariato, de Val McDermid
3 - Miss Marple em Manhattan, de Alyssa Cole
4 - O desfiar da trama, de Natalie Haynes
5 - O Natal de Miss Marple, de Ruth Ware
6 - Mente aberta, de Naomi Alderman
7 - A Imperatriz de jade, de Jean Kwok
8 - Boda fatal, de Dreda Say Mitchell
9 - Homicídio na Villa Rosa, de Elly Griffiths
10 - Do tipo homicida, de Karen M. McMannus
11 - O mistério do solo ácido, de Kate Mosse
12 - O desaparecimento, de Leigh Bardugo

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(muito bom)

quinta-feira, dezembro 08, 2022

O burlão nas Índias

     

Autor: Alain Ayroles, Juanjo Garrido
Género: Banda desenhada
Idioma: Português
Páginas: 160
Editora: Ala dos livros
Ano: 2021
Título original: Les Indes fourbes

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Este ano tem sido de ouro em leituras de BD.

Depois de Pele de Homem, O jogador de xadrez e Rugas, leio O burlão nas Índias.

Abram alas para Pablos de Segóvia, o nosso protagonista, que, segundo o prefácio, já se destacava nos romances picarescos satíricos de Francisco de Quevedo, no século XVII.

Fonte: imagem do livro

O livro é o relato de Don Pablos sobre as suas aventuras burlescas durante a Era de Ouro espanhola na América Latina, ainda chamada, à época, de "Índias Ocidentais".

Don Pablos viaja pelo novo continente, atravessando a Cordilheira dos Andes e explorando a selva amazónica, em busca do mítico Eldorado. À vez miserável e rico, adorado e odiado, livre e encarcerado, Pablos conhece a sarjeta e a opulência.


Fonte: imagem do livro

Dividido em três partes, O burlão nas Índias faz múltiplos flashbacks, com episódios da infância e da juventude do nosso “herói”, onde abundam alusões ao texto de Quevedo: a profissão do pai como barbeiro e a do tio como carrasco, as atividades de bruxa da mãe, a execução do irmão.

A época (implacável) parece justificar um protagonista astuto, que usa expedientes e charme na medida do necessário, tentando melhorar a sua condição de pobre. Angariando aliados, traindo e sendo traído, Don Pablos arrisca tudo pela descoberta da cidade dourada. E os obstáculos são muitos!


Fonte: imagem do livro

A narrativa de Ayroles é brilhante, abordando temas como a luta de classes, o comércio e exploração de escravos. O arco final da história é fenomenal, e o leitor percebe toda a construção até aí, quando tudo encaixa.

Os desenhos de Guarnido são, também eles, espectaculares e expressivos, passando por cortes sumptuosas, becos, navios, selvas e cordilheiras.


Fonte: imagem do livro

Alain Ayroles e Juanjo Guarnido trazem-nos um romance picaresco excelente, de final magistral. Obrigatório.

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(fenomenal)

quarta-feira, novembro 23, 2022

Questões escaldantes: ensaios e textos ocasionais (2004-2021)

  

Autor: Margaret Atwood
Género: Não Ficção

Idioma: Português

Páginas: 584

Editora: Bertrand Editora

Ano: 2022
Título original:
 Burning questions:
essays and occasional pieces, 2004 to 2021

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«Porque contam histórias todas as pessoas, em todos os pontos do planeta, em todas as culturas? Quanto de nós podemos dar aos outros, ou de quanto podemos prescindir, sem que fiquemos vazios? Será possível viver no planeta Terra? (…) O que têm os zombies que ver com autoritarismo?
Atwood convoca o melhor do seu prodigioso espírito crítico e do seu humor irreverente, discorrendo sobre o fim da História, a crise financeira, a ascensão de Trump ao poder e a herança do trumpismo, e a própria pandemia
Ao longo de quase 600 páginas e cinquenta peças literárias - entre ensaios, discursos, críticas literárias e artigos de opinião -, a mente perspicaz e o sentido de humor aguçado de Margaret Atwood confirmam a boa forma, inteligência e sagacidade da escritora de 83 anos.

Margaret Atwood é uma das mais importantes escritoras contemporâneas, com vários dos seus livros a manterem-se relevantes e, em alguns casos, prescientes em áreas como os direitos e a auto-determinação das mulheres e os avanços tecnológicos (The Handmaid's Tale; Oryx and Crake).   

Questões escaldantes contém os seus pensamentos e observações, cobrindo eventos ocorridos entre 2004 a 2021, período onde se consolidou como uma lenda literária.

Nada escapa ao olhar e à pena da Senhora Atwood. E ainda bem! Acusada de ser uma má feminista, defende-se com coerência e clareza, terminando com a pergunta: o que constitui então [aos olhos de quem a acusa] uma boa feminista?

Em vários ensaios, Atwood discute a inspiração, criação e influência de alguns dos seus romances, a presidência de Trump, e o imenso amor a Shakespeare, só para nomear alguns, numa colecção marcada pela preocupação contínua da autora com as questões éticas e morais que a sua ficção levanta, não esquecendo os temas que lhe são mais queridos - a literatura, o feminismo, o meio ambiente e os direitos humanos.

Há ainda vários capítulos dedicados a companheiros de escrita, com homenagens às escritoras Alice Munro, Simone de Beauvoir, Doris Lessing e Ursula K. Le Guin.

Ainda defendendo as causas que a apaixonam, Margaret Atwood evoca a bibliografia de Rachel Carson – uma das pioneiras da consciência ambiental moderna, com a obra Silent Spring – e de Marilyn French – uma feminista crítica do patriarcado, com a obra From Eve to Dawn, a History of Women in the World.

No entanto, o livro não é fundamentalista, nem nunca deixa de haver espaço a diversidade.

Apesar da pouca leveza de muitos dos temas abordados, o tom de Atwood é optimista e informado. É visível a resistência à censura em muitas das peças de Questões escaldantes, embora a autora rejeite a noção de usar a sua posição para funcionar como porta-voz [política].

Não procurei o livro com esse intuito nem sou particularmente permeável a influências externas, por isso Questões escaldantes funcionou como uma leitura estimulante, bem-humorada e que levanta questões interessantes e pertinentes. “Só” por isso, é uma leitura mais do que recomendada.

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(muito bom)

sexta-feira, outubro 28, 2022

Shark week

 


Autor: Matt Shaw
Género: Terror
Idioma: Inglês
Páginas: 96
Editora: Kindle Edition
 Ano: 2020

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Depois de Pest, aventurei-me noutro livro de Matt Shaw.

É um autor com vários contos e livros editados, nomeadamente no sítio da Amazon
, onde compro alguns e-books.

A história de Shark week pareceu-me apelativa, a começar pela capa, que contém uma descrição da expressão que serve de título: em gíria, refere-se à semana em que uma mulher está menstruada, o que implicará tensão e comportamentos imprevisíveis e/ou hostis.

Depois, a sinopse: uma noite, o céu tinge-se de vermelho quando um meteoro passa junto à Terra; algumas pessoas preveem o fim do mundo enquanto outras celebram o facto de a humanidade ter escapado ao destino que extinguiu os dinossauros. Mas a passagem do meteoro parece ter outro efeito, particularmente sobre as mulheres, levando a actos extremos de violência.

O conto não perde tempo a mergulhar na acção; o terror é gráfico, o ritmo é rápido, a linguagem é "colorida".

Eu achei a história divertida, uma versão retorcida de empoderamento feminino, quando o girl power não corre nada bem. O final tem uma boa reviravolta.

Para mim, Matt Shaw é um autor a continuar a ler.

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(bom)

terça-feira, outubro 18, 2022

Vozes de Chernobyl: história de um desastre nuclear

  

Autor: Svetlana Alexievich
Género: Não Ficção

Idioma: Português

Páginas: 336

Editora: Elsinore

Ano: 2016
Título original:
Chernobylskaya molitva

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O ano passado, vi Chernobyl, uma série fenomenal da HBO, cujo argumento foi baseado no livro de Svetlana Alexievich. Comprei o livro pouco depois.

Quem nunca ouviu falar de Chernobyl, o desastre nuclear que resultou na formação e difusão de uma nuvem radioactiva que contaminou pessoas, animais e o meio ambiente de uma vasta extensão de terras? O desastre ocorrido em 1986, na fronteira da Ucrânia com a Bielorússia, que os Russos tentaram ocultar, o mais possível, dos Europeus?
 
Vozes de Chernobyl: história de um desastre nuclear foi uma leitura lenta. É um livro intenso, com passagens muito difíceis.
«A morte é a coisa mais justa do mundo
E isto porque nesta recolha de testemunhos por parte da escritora e jornalista, feita ao longo de três anos, ouvimos vozes de bombeiros, soldados, caçadores, pilotos de helicópteros, profissionais de saúde, burocratas, viúvas e mães de crianças com defeitos à nascença. Narram episódios de heroísmo, perda, tristeza e incompetência. Pelo meio, a autora relata as pausas no discurso: [ri], [começa a chorar], [pára de falar].
 
Limpezas, rondas, evacuações e outros serviços feitos sem equipamentos de protecção, por humanos muitas vezes a fazer o trabalho de máquinas que avariaram devido à radiação intensa.   

«Disseram a todos nós a mesma coisa: é-nos impossível dar-vos os corpos dos vossos maridos, dos vossos filhos, estão em estado muito radioativo e vão ser enterrados num cemitério de Moscovo, de forma especial. Em urnas de zinco seladas, debaixo de lajes de cimento. E vocês têm de assinar este documento. É preciso o vosso consentimento. (...) os mortos, como bem viam, eram agora heróis e já não pertenciam às suas famílias. Já eram figuras do Estado... Pertenciam ao Estado.»

São os detalhes pessoais que nos tocam fundo: os contratados para abaterem animais de estimação abandonados no seguimento de evacuações forçadas; daqueles que recusaram abandonar as suas casas em terreno contaminado; dos homens que limparam a zona do reactor sem serem informados dos riscos. Todos eles faziam parte do tecido social da época, soviéticos até ao tutano e selectivamente (in)formados pelo partido.

O que estas pessoas passaram é indescritível e a autora consegue dar-lhes voz, e fá-lo de uma forma bela e simples, sem lhes beliscar a dignidade nem suavizar o que é dito.

Svetlana Alexievich foi galardoada com o Nobel da Literatura em 2015 «pela sua escrita polifónica, monumento ao sofrimento e à coragem na nossa época».

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(fenomenal)

domingo, outubro 09, 2022

Maids

    

Autor: Katie Skelly
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 106
Editora: Fantagraphics (Kindle)
Ano: 2020

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Le Mans, anos 30.

As irmãs Papin, Christine e Lea, são empregadas domésticas na casa dos Lancelin.

Na noite de 2 de fevereiro de 1933, as irmãs matam a esposa e a filha mais nova da família. O crime é brutal, cometido num frenesim que deixa as vítimas irreconhecíveis.

O caso causou um grande impacto em França. Foi sugerido que o crime ocorreu devido à exploração das irmãs em jornadas de trabalho de 14 horas, com folgas raras.

Fonte: imagem do livro

Em Maids, Katie Skelly conta à história de Christine e Lea Papin em banda desenhada.

Gostei do traço leve, minimalista, colorido. Porém, a história soube-me a pouco, com vários pormenores excluídos - há várias páginas online sobre o caso onde se relata
a relação das irmãs, o seu passado familiar, o julgamento, etc.

Fonte: imagem do livro

Maids é a mais recente adaptação do caso das irmãs Papin, que já foi tema de peças de teatro, documentários e filmes, incluindo o thriller francês Les blessures assassines, o thriller britânico Sister my sister, e a peça do dramaturgo francês Jean Genet Les Bonnes

Desconhecia que inspirou a história do excelente filme Parasitas, do cineasta Bong Joon-ho, que venceu os Óscares de Melhor Realizador, Melhor Argumento Original e Melhor Filme em 2020.

Fonte: imagem do livro


Não sendo uma má leitura, esta banda desenhada ficou aquém.

Fiquei bastante interessada em ver os thrillers francês e inglês
.

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(mediano/razoável)

quarta-feira, outubro 05, 2022

Sangue Novo vence Grande Prémio Adamastor de Literatura Fantástica Portuguesa 2022

Em Novembro de 2021, fui publicada pela primeira vez. 

A estreia literária foi na antologia Sangue Novo, editada e ilustrada pelo autor premiado Pedro Lucas Martins - site do autor. O (espectacular) design gráfico do livro foi da responsabilidade do Ricardo Alfaia.

Nela, 15 novos autores portugueses
deram-se a conhecer aos fãs do terror/fantástico (ver post anterior sobre o livro aqui); eu contribuí com o conto 'Ritos'.

Na 18.ª edição do Fórum Fantástico (FF), realizada há poucos dias, a nossa antologia estava nomeada para os Prémios Adamastor, na categoria 'Grande Prémio Adamastor de Literatura Fantástica Portuguesa'. E ganhámos! 💙

Ilustração: Artur Filipe
Design: Pedro Daniel
  
 

«Os Prémios Adamastor do Fantástico, atribuídos por nomeação e voto universal, são organizados pelo Colectivo Trëma, pretendendo evidenciar anualmente a produção nacional no género Fantástico, em vários formatos.

O processo de nomeação é aberto a todos os interessados, e a votação final e atribuição dos Prémios será feita durante o evento Fórum Fantástico
.

Os Prémios Adamastor do Fantástico são organizados com as seguintes categorias:
– Grande Prémio Adamastor de Literatura Fantástica Portuguesa;
– Prémio Adamastor de Literatura Fantástica Estrangeira;
– Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto;
– Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Banda Desenhada;
– Distinção Personalidade Fantástica.»

Fonte: forumfantastico.wordpress.com/premios-adamastor

 
Um grande obrigado a quem votou em nós!

O 'Prémio Adamastor de Ficção Fantástica em Conto' foi ainda conquistado por um dos autores do Sangue Novo: a Liliana Duarte Pereira com o conto 'O manicómio das mães'. 💛

Consultem o site do FF para descobrir os outros vencedores. A todos os premiados e nomeados: parabéns e votos de sucesso!
 
Podem comprar o Sangue Novo na Fnac, na Bertrand, na Wook, na Amazon e na página do Projecto Foco. Boa leitura!

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Índice

Pestinhas - Cláudio André Redondo 
Tarde de Verão - Ricardo Alfaia 
Praga - Sandra Henriques
O manicómio das mães - Liliana Duarte Pereira
Conta comigo - Martina Mendes
Labirinto - Paulo A. M. Oliveira
Godigana - Maria Varanda
O devorador de sonhos - Marta Nazaré
Bom trabalho - José Maria Covas
Sonhei com uma linha vermelha - Madalena Feliciano Santos
Amor - Patrícia Sá
A mais bela profissão - Sandra Amado
Ritos - Vanessa Barroca dos Reis
O palco vazio - Susana Silva
A tradição - Francisco Horta

domingo, outubro 02, 2022

O adeus a Hilary Mantel aos 70 anos

Foto: google images

Dame Hilary Mantel, a célebre romancista histórica que atingiu o feito de ser a primeira mulher a ganhar o Man Booker Prize duas vezes (em 2009 com Wolf Hall, e em 2012 com Bring up the bodies), faleceu no passado dia 22 de Setembro.
 
Escritora bestseller nascida em 1952, o seu trabalho mais (re)conhecido é a trilogia Thomas Cromwell - Wolf Hall, O livro negro, O espelho e a luz - aclamado pela crítica mundial. Ofereci os livros ao meu marido, que adora História, mas ainda não os li.
 
Descrita como a «mais brilhante escritora inglesa» pelo Guardian, Hilary Mantel escreveu 17 livros, incluindo a colectânea de contos O assassinato de Margaret Thatcher (Jacarandá Editora), A place of greater safety (romance histórico sobre a Revolução Francesa), e o livro de memórias Giving up the ghost. 
 
A sua obra está traduzida em 41 línguas e somou vários prémios literários além do Man Booker, entre os quais o British Book Award, o Hawthornden Prize, o Walter Scott Prize e o Costa Book Award, só para nomear alguns.

Cursou Direito, trabalhou como assistente social e vendedora. Teve vários problemas de saúde que culminaram numa menopausa cirúrgica aos 27 anos que a deixou estéril e com dores crónicas - acerca disso, disse numa entrevista que «it narrowed my options in life, [and] it narrowed them to writing.»

Viveu com o marido no Botswana e na Arábia Saudita. Desde 2010 que residia na pequena cidade costeira de Em 2015, foi distinguida pela Coroa Britânica com o título honorário de "Dame Commander".
 
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Foto: google images