Conclave é o primeiro livro que
leio de Robert Harris, autor britânico bestseller e considerado um dos grandes
escritores de ficção histórica (Pompeia; trilogia Cícero).
A acção abre com a morte do Papa
actual, baseado, alegadamente, no presente papa (Francisco, eleito em 2013)
devido ao perfil reformista e negação da pompa e circunstância.
Assistimos, então, à organização
do conclave para eleger um novo papa, que junta 118 cardeais de todo o mundo
católico, liderados pelo Cardeal Jacopo Lomeli.
Há uma breve descrição de alguns
deles, sendo que nem todos têm igual protagonismo. O cardeal-patriarca de
Lisboa, por exemplo, tem apenas um par de falas e é (d)escrito como uma figura discreta
e amante de charutos.
Num período de 72 horas, limitados
a uma área traseira da Cidade do Vaticano, entre a Capela Sistina (sítio de
discussão e voto) e a Casa Santa Marta (alojamento), o livro imagina o processo
secreto, numa trama bem tecida sobre as maquinações de poder no topo da Igreja
Católica Romana.
No início, há quatro favoritos ao
cargo: o canadiano Tremblay, mediático e bem falante; o nigeriano Adeyemi, que
representa a diversidade mas tem uma atitude crítica para com a
homossexualidade; o italiano Tedesco, um ultra-conservador que defende o regresso
do latim à liturgia; e o italiano Bellini, um intelectual reformista. Cada um
tem os seus apoiantes e as suas falhas.
Mas há surpresas, com alguns
candidatos inesperados a serem votados, o que aumenta a tensão. Paralelamente,
o Cardeal Lomeli descobre que o ex-papa, antes de morrer, investigava alguns
cardeais cuja conduta era censurável (e até criminosa).
À medida que lemos, vemos as
tentações humanas a serem expostas. O próprio protagonista tem de lutar com as
suas próprias ambições e expectativas.
Conclave está repleto de detalhes
processuais e históricos, desde as regras da Constituição Apostólica aos
rituais em torno da votação e aos edifícios onde se passa a acção. O trabalho
de pesquisa do autor é evidente, confirmado pelos vários títulos citados no fim
do livro, na parte dos agradecimentos.
Robert Harris soube ainda situar
a história no mundo actual, na forma como a Igreja gere a publicidade do evento
e toma o pulso aos movimentos políticos e sociais.
O desfecho é surpreendente e provocador,
incorporando a conversa cultural do mundo em que vivemos. Eu gostei, embora pareça
ser um final que não reúne consenso entre leitores.
Harris escreveu um livro
inteligente e emocionante, com um domínio inegável do género thriller.
Conclave foi, entretanto,
adaptado ao grande ecrã, com estreia prevista na Europa no fim do ano [2024].
Com Ralph Fiennes como protagonista, e um elenco de actores conceituados ao seu
lado (John Lithgow, Stanley Tucci, Isabella Rossellini), já está na minha lista
de filmes a ver.