sábado, abril 20, 2024

Torso

    


Autores: Brian Michael Bendis, Marc Andreyko
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 288
Editora: Dark Horse Books (Kindle)
Ano: 2022

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Torso conta a história da investigação ao primeiro serial killer americano.

1935: o agente federal Eliot Ness, líder d’Os Intocáveis (famosos por não cederem às tentativas de suborno feitas pela máfia), muda-se para Cleveland, recém-saído do seu lendário triunfo sobre Al Capone.

Ao mesmo tempo, começam a ser descobertos partes de corpos desmembrados, torsos decapitados que não revelam pistas sobre a identidade da vítima.

Fonte: imagem do livro
 

Eliot Ness e a sua nova equipa investigam durante anos, percorrendo as zonas mais pobres de Cleveland, com muitos obstáculos e conflitos pelo meio, a maioria políticos.

O Eliot Ness aqui ilustrado difere da figura do cinema: é um tipo calado e racional, que raramente usa a arma.

A história do livro é uma mistura bem conseguida de factos e imaginação, com a segunda bastante mais prevalente.

Torso é um livro muito bem ilustrado, apesar de ter estranhado o estilo de desenho ao início. A história e o tom são 100% noir.

*****
(muito bom)

sábado, março 30, 2024

Mr. Collins's last supper (prequela da série The Darcys of Pemberley)


Autor: Shannon Winslow
Género: Conto

Idioma: Inglês
Páginas: 19
Editora: Heather Ridge Arts (Kindle)
 Ano: 2012

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Shannon Winslow é uma das muitas autoras inspiradas pela obra de Austen.

Dela, li há uns anos The Darcys of Pemberley (ler aqui sobre a minha leitura do livro), uma série publicitada como a continuação do clássico de literatura. Gostei bastante.
 
Este conto, Mr. Collins's last supper, é uma prequela daquele romance, o primeiro da série, que abre justamente com o evento que é narrado neste conto: a morte prematura de William Collins.

Se bem se lembram, o Senhor Collins é um pároco arrogante e profundamente ridículo, que se crê encantador e inteligente. No clássico de Austen, ele tenta casar-se com Elizabeth Bennet, depois de perceber que a irmã mais velha, Jane, provavelmente ficará noiva em breve.

É preciso uma quantidade notável de persuasão para convencê-lo de que ela não está interessada nele, e, numa reviravolta surpreendente, Collins casa-se com uma amiga de Elizabeth, Charlotte, que aos 28 anos, convencida que nunca casará nem sairá da alçada dos pais, vê na união a única oportunidade de emancipação.

Em Mr. Collins's last supper, o Senhor Collins continua imensamente orgulhoso do patrocínio da Lady Catherine de Bourgh, cuja natureza austera e snob vai às mil maravilhas com a natureza bajuladora e a atenção pomposa que o pároco lhe dedica.

O conto ilustra muito bem como Collins permanece uma pessoa sorrateira e superficial, e como Charlotte lida com isso. Apesar das suas limitações, o clérigo conseguiu garantir uma vida confortável como pároco de Hunsford, e tem em Charlotte uma esposa humana e sensível.

Mais, Collins sabe que herdará uma propriedade bem cuidada quando o Senhor Bennett falecer, um dos pontos de conflito de Orgulho e Preconceito. Até lá, ele desfruta da atenção da Lady de Bourgh, que decide presenteá-lo com um belo corte de carne quando o pároco se lamenta da «situação modesta» em que vive. 

Mal sabe ele que a saborosa refeição será a sua última, daí o título do conto, que em Português, se traduzido, seria "A última ceia do Senhor Collins").

Assim, o conto ilustra a ironia de como um clérigo pomposo e vácuo descobre tarde demais porque a gula é considerada um dos sete pecados capitais.

Sou uma das incontáveis fãs de Jane Austen e da sua obra maior, Orgulho e Preconceito.

É sempre com prazer que volto ao encontro das personagens que apaixonaram centenas de milhares de leitores pelo mundo fora, e que muitos escritores talentosos souberam reanimar de forma extraordinária.
Shannon Winslow é um excelente exemplo.

Ainda que breve, Mr. Collins's last supper é um amuse-bouche delicioso.  

Leituras relacionadas:

- A independência de uma mulher, de Colleen McCullough;
- Morte em Pemberley, de P.D. James;

****
(bom)

quinta-feira, março 07, 2024

500 anos do nascimento de Luís de Camões (n. 1524)


Considerado uma das figuras maiores da literatura portuguesa, Camões é conhecido principalmente como o autor d’Os Lusíadas.

Embora não seja consensual, por falta de fontes documentais que o comprovem, Luís Vaz de Camões terá nascido a 23 janeiro de 1524.

Estima-se que o seu nascimento tenha ocorrido no ano de 1524, com a sua morte a assinalar-se a 10 de junho de 1580, data em que se celebra o Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas.


Há muitas incertezas sobre os contornos da sua vida, mas terá tido Lisboa como morada principal, e ainda Coimbra, onde aprendeu o latim e refinou a sua educação.

Foi membro da Corte, como poeta lírico, mas algumas escolhas resultaram num auto-exílio em África.

Foi lá, como militar do exército português, que Camões perdeu o seu olho direito.

Quando viajou para o Oriente, redigiu Os Lusíadas, que quase se perdia em alto mar. A obra épica foi dedicada a D. Sebastião, o que lhe asseguraria uma pensão atribuída pela Coroa.

Vários historiadores relatam que a sua obra nunca foi realmente apreciada por aqueles para quem compunha: os Portugueses.

A sua poesia e peças de teatro (escreveu três obras de teatro cómico) inspiraram uma série de correntes literárias e de autores românticos, principalmente no estrangeiro.

O verdadeiro reconhecimento chegaria após a sua morte, teria então o poeta 55 ou 56 anos.

Os seus restos mortais encontram-se sepultados no Mosteiro dos Jerónimos.

O programa de comemoração dos 500 anos do nascimento de Camões, em execução e por divulgar, deverá iniciar-se a 10 de junho deste ano [2024], segundo a Lusa.




Fonte: Museu Soares dos Reis; Wikipédia; Expresso.

quarta-feira, fevereiro 21, 2024

A pediatra

  


Autor: Andréa del Fuego

Género: Romance

Idioma: Português (Brasil)

Páginas: 208

Editora: Companhia das Letras (Kindle)

Ano: 2022

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À data deste apontamento, A pediatra é o mais recente título publicado de Andréa del Fuego, pseudónimo de Andréa Fátima dos Santos, escritora brasileira cujo primeiro romance, Os Malaquias, de 2010, venceu o Prémio Literário José Saramago.

A pediatra foi finalista de dois prémios literários.

Cecília, a protagonista, é uma especialista sem vocação (detesta crianças).

Prestes a divorciar-se de um marido deprimido para o qual não tem paciência, rapidamente percebemos que é uma mulher solitária e insolente para com os próximos, a quem manipula e de quem tem uma visão cruel. Aos restantes, apresenta uma postura competente mas distante.

Isto chamou-me a atenção na sinopse do livro. Seria esta personagem fora do padrão habitual capaz de me manter envolvida na história?

É a segunda protagonista antipática que “apanho” num curto espaço de tempo; a outra foi Leda de The lost daughter, de Elena Ferrante.

Cecília é uma vilã sem clichés, com um humor sarcástico e comentários certeiros, inteligente e cheia de recursos. A sua honestidade, por vezes, resvala para a insensatez.

Pediatra com uma abordagem mecânica e desligada (quando os pacientes sofrem de algo que exija mais atenção, rapidamente os envia a um colega), sente-se preterida por um pediatra adepto do “parto humanizado”, que decide investigar e sabotar - estes capítulos são dos melhores do livro.

Paralelamente, desenvolve um apego ao filho do amante, que ajudou a trazer ao mundo. Surpreendida pelo afecto que sente pelo menino, Cecília sente-se mudar por amor a uma criança que não pariu, o que vai agitar a sua rotina.

Escrito em Português do Brasil, há algumas expressões que necessitam de uma espreitadela a um dicionário online, mas nada de mais.

A escrita é diferente, quase sem parágrafos nem travessões para indicar diálogos ou pensamentos. Também se entranha ao fim de umas páginas.

«Atendi os pacientes sem presença. A vantagem da medicina é poder ser quem quiser, santa, desonesta, anarquista, patriota, bipolar, batista ou ateia, penso e sinto o que eu quiser com estetoscópio no pescoço, quem trata não sou eu, é o protocolo, apenas seguir o roteiro da observação clínica, os casos são mais ou menos os mesmos.»

*****
(muito bom)

domingo, fevereiro 04, 2024

As minhas aventuras no país dos sovietes

 

Autor: José Milhazes
Género: Biografia, Política

Idioma: Português

Páginas: 352

Editora: Oficina do Livro

Ano: 2017

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José Milhazes é jornalista, escritor e tradutor, assim como comentador político.

Natural da Póvoa de Varzim, originário de uma humilde família de pescadores, ruma, em 1977, à União Soviética (o «Paraíso») para se licenciar em História da Rússia e «assistir à construção do comunismo».

«Éramos cerca de 15 bolseiros portugueses que iam estudar para a União Soviética através do PCP, da UEC, da Associação de Amizade Portugal-URSS e da Intersindical.»

Licencia-se em 1983, constitui família (a esposa é estónia) e fica a residir na URSS.

Com o passar dos anos, torna-se correspondente do jornal Público em Moscovo. Em 2002, começa a colaborar com a SIC. Acumula as actividades jornalísticas com a tradução de obras literárias e políticas.

Ao longo das décadas como residente no país, vê a URSS dar lugar à Rússia, assistindo à ascensão, e queda, de vários políticos, assim como ao colapso da "cortina de ferro" e à formação de novos Estados no Leste europeu.

Em 2013 é distinguido com a Ordem do Mérito da República Portuguesa. Regressa a Portugal em 2015.

Em As minhas aventuras no país dos sovietes, tudo isto é contado ao leitor de uma forma mais ou menos cronológica, com vários apontamentos de situações vividas pelo autor: na universidade, no hospital (onde fica internado 9 meses, na altura em que era estudante), em órgãos políticos, na comunidade de estrangeiros onde se insere, no quotidiano. Algumas pessoas são nomeadas, outras não.

O tom é franco e directo, o tom de alguém que viu muita coisa e não tem peias em fazer apreciações pessoais. A meio da narrativa, há a menção a várias anedotas soviéticas que circulavam, o que permite perceber como o povo via a máquina estatal que os (des)governava.

Tive pena que José Milhazes não aprofundasse mais algumas situações, muitas vezes narradas en passant. Estará a reservar a informação para uma biografia mais extensa?

Gostei bastante, As minhas aventuras no país dos sovietes é uma leitura interessante sobre um percurso ainda mais interessante, e as páginas passam a bom ritmo. Conto ler outros livros do autor.

NOTA: os sovietes eram conselhos políticos formados pelas classes mais populares, que lutavam pela reforma agrária e direitos trabalhistas – o termo é a tradução russa para “conselho”, em português.

«Brejnev e Reagan decidem fazer uma corrida. Reagan vence. Os jornais americanos escrevem: “Reagan venceu, Brejnev foi derrotado.” Os jornais soviéticos informam: “Brejnev chegou em segundo lugar e Reagan em penúltimo.” (anedota soviética)»

*****
(muito bom)

quinta-feira, janeiro 11, 2024

The lost daughter

 

Autor: Elena Ferrante
Género: Romance
, Contemporâneo
Idioma: Inglês

Páginas: 148

Editora: Europa Editions

Ano: 2008
Título original:
La figlia oscura

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Autora bestseller, famosa pela sua tetralogia napolitana (um sucesso adaptado pela HBO), Elena Ferrante é o pseudónimo de uma escritora italiana, cuja identidade é mantida em segredo absoluto.

Na minha estreia a lê-la, escolhi este livro por ser um dos mais curtos e por ter sido adaptado ao cinema – conto ver o filme.

The lost daughter centra-se em Leda, uma professora universitária perto dos cinquenta, que decide fazer umas férias sozinha, aproveitando o facto das suas duas filhas adultas se terem mudado para outro país e ela poder, enfim (palavras dela), desfrutar de uma vida solitária.

Atenta às interacções das pessoas que vê na praia todos os dias, chama-lhe a atenção Nina e a filha, Elena, e a boneca que a pequena leva para todo o lado. A curiosidade de Leda torna-se uma obsessão, ao ponto de Leda roubar a boneca da criança, o que vai despoletar várias situações.

A história é bastante introspectiva, com Leda a revelar-se uma protagonista pouco simpática, que tem uma visão de si mesma crua e intransigente.

Os temas centram-se nas relações mãe-filha, na maternidade e na condição feminina. A história avança lentamente, com Leda a reflectir nas escolhas que fez no passado, como a sua vida mudou quando se tornou mãe, e como é viver a solo agora que as filhas cresceram.

The lost daughter salda-se num bom livro e numa leitura desconfortável.
 

«My only obligation with regard to the girls was to call once a day to see how they were, what they were doing (…) They called me often too, especially Bianca, who had a more imperiously demanding relationship with me, but only to know if blue shoes would go with an orange skirt, if I could find some papers left in a book and send them urgently, if I was still available to be blamed for their rages, their sorrows (…).»

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(bom)