27 de setembro de 2020

Too Much and Never Enough: how my family created the world's most dangerous man

 
Autor: Mary L. Trump
Género: Política
Idioma: Inglês
Duração: 7h e 5m
Editora: Simon & Schster Audio (Audible)
Ano: 2020

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Mais um livro sobre Donald Trump, o actual presidente dos EUA.
 
Desta vez, a autora é um membro da família, na pessoa da sobrinha Mary Lea Trump.
 

O livro foi bastante publicitado e alegadamente vendeu 1 milhão de cópias no dia de lançamento, em Julho passado.

A autora, licenciada em Literatura e doutorada em Psicologia, apoiou a campanha de Hillary Clinton em 2016
contra o tio, declarou diversas vezes que Trump se devia demitir e diagnosticou-o como um sociopata - incapaz de empatia, mentiroso compulsivo, sem respeito por terceiros
; o resultado são comportamentos narcisistas e abusivos.

Nesta biografia não autorizada, Mary L. Trump conta a história de uma família disfuncional, com base em situações vividas e presenciadas pela autora ou relatadas a esta por familiares e amigos, e com informação coligida de e-mails, relatórios financeiros (um dos quais vencedor do Pulitzer em 2019) e um artigo de investigação do New York Times.
 
É sensível classificar uma biografia, e aqui não há muita informação nova. Vários capítulos reúnem informação que se encontra disponível na internet e/ou que foi publicada pelos media. Sentimos pena do pai da autora, Fred Junior, o varão e herdeiro da família, que nunca quis ter nada a ver com o negócio da família mas que, manipulado pelo pai, Fred Senior - classificado também como um sociopata pela autora -, achou não ter outra escolha. Morreu nos quarenta, de problemas cardíacos agravados pelo alcoolismo. Donald Trump terá "escapado" porque escolheu tornar-se como o pai, um «bussiness man sem escrúpulos». A matriarca, mãe de Donald e avó da autora, sempre terá sido emocionalmente ausente e alienada dos dois filhos homens, focando-se ao invés na educação das duas filhas mulheres.
 
Donald Trump terá sido educado na base de que as regras não se aplicam a ele e que era/é vital cultivar uma imagem e discurso de sucesso e auto-confiança - um vendedor do "fake it until you make it". Mas não houve aqui nenhum "made it". Sucessivos anos de maus negócios, bancarrotas, empréstimos duvidosos e evasões fiscais puseram a nu a incapacidade de Trump para os negócios e foram delapidando a fortuna familiar, apesar de alguns golpes publicitários e de cosmética (a maioria nas páginas sociais das publicações) para preservar a marca Trump.
 
Este livro ilustra capítulos da infância, adolescência e vida adulta do actual presidente do país mais poderoso do mundo; não sei qual o grau de veracidade e quão fidedigna é a memória da autora. Independentemente disso, algumas coisas fazem sentido e assentam na personagem de Donald Trump.
 
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(bom)

20 de setembro de 2020

Untamed


Autor: Glennon Doyle
Género: Não Ficção
Idioma: Inglês
Duração: 8h e 22m
Editora: Random House Audio (Audible)
Ano: 2020
  
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Nunca tinha ouvido falar de Glennon Doyle até o algoritmo do Audible me recomendar Untamed
 
Enquanto ouvia o audiolivro, narrado pela própria, vim a saber que este é o terceiro livro da autora, cujo estilo é de publicar um livro a contar um período marcante da sua vida: Carry on, warrior (2013) reunia os posts mais populares do blog de Doyle (momastery.com) e a sua luta com o alcoolismo e a bulimia; e Love warrior (2016) fez parte da selecção de leituras do Oprah’s Book Club e focou-se no casamento da autora e nas infidelidades do marido.
 
Em Untamed (2020), Glennon Doyle fala sobre o fim do seu casamento (heterossexual) e a sua nova relação, com uma mulher, a ex-futebolista e medalhada olímpica, com quem casou em 2017. Juntas, partilham a educação dos três filhos de Doyle e os desafios dos primeiros anos de um casamento homossexual que gerou alguma publicidade.

Não sei se foi assim com os três livros mas em dois deles o estilo de escrita assemelha-se a posts, com capítulos curtos e subordinados a um tema e/ou ideia ("goals", "mirrors", "memos", "boys", "permission slips" são os títulos de alguns dos capítulos), sem obedecer a uma cronologia. A leitura é rápida e muito acessível a quem não esteja familiarizado com a realidade americana. A autora fala da história de amor com a esposa, de como é criar adolescentes nos dias de hoje, da sua espiritualidade, da relação com os pais e o seu ex-marido.
O tom é directo e sem reticências, como deve ser. Afinal, esta é a sua história.

Há observações lúcidas, comentários egoístas, elogios generosos a outros escritores. Untamed é um bom livro e, pela sua frontalidade, pode ser útil a várias mulheres e, quiçá, ser um catalisador de mudança. No final, mesmo com os muitos clichés, vale a pena.
 
Ouvi o livro duas vezes. À primeira audição, o livro pareceu-me mais leve e humorístico.
This life is mine alone. So I have stopped asking people for directions to places they’ve never been.”
Fica a sensação de que somos conduzidos por uma escritora extremamente à vontade dentro do género e que sabe adaptar o discurso e as ideias à era em que vive. Mas há um tom subjacente de livro de auto-ajuda que o torna menos autêntico e que me impediu de o considerar mais do que aquilo que pretende ser.
 
Untamed mostra uma mulher divertida, com sentido de humor e bons alicerces familiares, disposta a assumir as suas escolhas sem peias. Mostra ainda uma mulher egocêntrica, inconstante e que minimiza os conselhos que deu no passado.

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(bom)