domingo, outubro 13, 2024

O Jantar

 

Autor: Herman Koch
Género: Thriller
, Contemporâneo
Idioma: Português

Páginas: 304

Editora: Alfaguara

Ano: 2015
Título original:
Het diner

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Há limite quando se trata de proteger um filho?

Dois casais saem para jantar num restaurante exclusivo. Conversam sobre trivialidades antes de abordarem o que os levou ali: o futuro dos seus filhos. Os jovens em questão, Michel e Rick, cometeram um crime hediondo no regresso de uma festa. Há imagens de vídeo, mas a qualidade e ângulos não permitem identificar os autores. Mas os pais sabem.

O narrador d’O Jantar é Paul Lohman, o pai de Michel. Paul quer proteger o filho a todo o custo.

Serge é o pai de Rick, e o irmão de Paul. De acordo com as últimas sondagens, Serge Lohman será o novo primeiro-ministro dos Países Baixos dentro de alguns meses.

No restaurante, entre os salamaleques dos empregados e a apresentação detalhada da comida, a tensão entre os quatro adultos é palpável desde o início.

A voz narrativa de Paul, que nunca sai do registo sarcástico, desvenda cada vez mais à medida que a acção avança, falando de si e do lar que criou com a mulher, Claire.

O Jantar é sobre família, violência, realidade, ilusão. Começa por prender-nos pela empatia e vai ficando pesado e opressivo. O final surpreende. É um livro que fica connosco, muito depois de o lermos.

É o melhor livro que li este ano.

O autor, o holandês Herman Koch, nasceu em 1953. Estudou Russo e viveu na Finlândia durante alguns anos, até se mudar para Amsterdão, onde é produtor televisivo e escritor.

Koch teve a ideia de escrever o livro depois de ler uma notícia sobre o homicídio de uma sem-abrigo em Barcelona.

O Jantar foi adaptado ao cinema três vezes, na Holanda, Estados Unidos e Itália. Nunca vi nenhuma das adaptações - a versão norte-americana conta com Richard Gere, Laura Linney e Rebecca Hall nos principais papéis.

«Como teria sido esta noite se eu, uma hora antes, tivesse permanecido no piso térreo a fazer horas até ir para o restaurante, em vez de subir as escadas até ao quarto do Michel? Como teria sido, nesse caso, o resto das nossas vidas?
Será que o cheiro a felicidade que eu agora aspirava do cabelo da minha mulher continuaria a ser de felicidade e não, como agora, de memória de um passado longínquo - como o aroma de algo que se pode perder de um segundo para o outro?»

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(fenomenal)

segunda-feira, setembro 23, 2024

Conclave

 


Autor: Robert Harris
Género: Thriller

Idioma: Português

Páginas: 272

Editora: Editorial Presença

Ano: 2018

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Conclave é o primeiro livro que leio de Robert Harris, autor britânico bestseller e considerado um dos grandes escritores de ficção histórica (Pompeia; trilogia Cícero).

A acção abre com a morte do Papa actual, baseado, alegadamente, no presente papa (Francisco, eleito em 2013) devido ao perfil reformista e negação da pompa e circunstância.

Assistimos, então, à organização do conclave para eleger um novo papa, que junta 118 cardeais de todo o mundo católico, liderados pelo Cardeal Jacopo Lomeli.

Há uma breve descrição de alguns deles, sendo que nem todos têm igual protagonismo. O cardeal-patriarca de Lisboa, por exemplo, tem apenas um par de falas e é (d)escrito como uma figura discreta e amante de charutos.

Num período de 72 horas, limitados a uma área traseira da Cidade do Vaticano, entre a Capela Sistina (sítio de discussão e voto) e a Casa Santa Marta (alojamento), o livro imagina o processo secreto, numa trama bem tecida sobre as maquinações de poder no topo da Igreja Católica Romana.

No início, há quatro favoritos ao cargo: o canadiano Tremblay, mediático e bem falante; o nigeriano Adeyemi, que representa a diversidade mas tem uma atitude crítica para com a homossexualidade; o italiano Tedesco, um ultra-conservador que defende o regresso do latim à liturgia; e o italiano Bellini, um intelectual reformista. Cada um tem os seus apoiantes e as suas falhas.

Mas há surpresas, com alguns candidatos inesperados a serem votados, o que aumenta a tensão. Paralelamente, o Cardeal Lomeli descobre que o ex-papa, antes de morrer, investigava alguns cardeais cuja conduta era censurável (e até criminosa).

À medida que lemos, vemos as tentações humanas a serem expostas. O próprio protagonista tem de lutar com as suas próprias ambições e expectativas.

Conclave está repleto de detalhes processuais e históricos, desde as regras da Constituição Apostólica aos rituais em torno da votação e aos edifícios onde se passa a acção. O trabalho de pesquisa do autor é evidente, confirmado pelos vários títulos citados no fim do livro, na parte dos agradecimentos.

Robert Harris soube ainda situar a história no mundo actual, na forma como a Igreja gere a publicidade do evento e toma o pulso aos movimentos políticos e sociais.

O desfecho é surpreendente e provocador, incorporando a conversa cultural do mundo em que vivemos. Eu gostei, embora pareça ser um final que não reúne consenso entre leitores.

Harris escreveu um livro inteligente e emocionante, com um domínio inegável do género thriller.

Conclave foi, entretanto, adaptado ao grande ecrã, com estreia prevista na Europa no fim do ano [2024]. Com Ralph Fiennes como protagonista, e um elenco de actores conceituados ao seu lado (John Lithgow, Stanley Tucci, Isabella Rossellini), já está na minha lista de filmes a ver.

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(muito bom)