30 de maio de 2021

Collective darkness

 

Autor: Vários (Antologia)
Género: Contos, Terror
Idioma: Inglês
Páginas: 167
Editora: Editing Mee (Kindle)
 Ano: 2020

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Collective Darkness é uma antologia de 12 contos de terror de autores nunca publicados.

Sendo a segunda antologia que leio num espaço de poucas semanas, e com a outra ainda fresca na memória, esta ficou um pouco aquém da primeira.

Mais uma vez, os temas são variados: fantasmas, vampiros, locais
isolados, monstros na escuridão. A intensidade também difere, com nenhum verdadeiramente aterrador.

Gostei bastante de três contos:


Padua's eyes – Jonathan Reddoch - o meu favorito; passado na era medieval, onde uma jovem vê o pai e o pónei de estimação serem atacados por um vampiro e depois perseguidos pelos locais... e ela decide vingar-se.

Red flag – K.R. Patterson
- um conto sobre a dinâmica entre uma mãe e o filho, com uma reviravolta final interessante.

Polter geist – Jen Ellwyn - um rapaz determinado em recuperar um artefacto numa loja com "sombras" por todo o lado, tenta sair sem ser detectado; bom clima de suspense.

Apesar desta antologia não ter contido histórias tão interessantes, aprecio bastante descobrir novas "vozes", quiçá algumas delas os autores de referência no género daqui a uns anos.

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(mediano/razoável)

23 de maio de 2021

Dream story (Traumnovelle)

 

Autor: Arthur Schnitzler
Género: Romance

Idioma: Inglês
Páginas: 128
Editora: Penguin (Kindle)
 Ano: 1926

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Dream story apareceu no meu radar por causa do filme De olhos bem fechados, o último filme de Stanley Kubrick, que morreu poucos dias após o filme estar pronto, em 1999. Os protagonistas são Nicole Kidman e Tom Cruise, casados na altura.

Kubrick e Frederic Raphael basearam-se neste livro para escrever o guião do filme, depois do primeiro o ter lido e lançado o desafio ao segundo.

Vi o filme primeiro, várias vezes - e gosto bastante -, mas prefiro fazer o contrário para não ser influenciada aquando da leitura. 

Ao ler Dream story, no entanto, foi fácil lê-lo sem imaginar os actores e cenários do filme, pois a obra de Schnitzler passa-se na Viena dos anos 20 e a de Kubrick na Nova Iorque dos anos 90; a atmosfera é muito diferente. Porém, também é notória como os argumentistas se inspiraram no livro e seguiram fielmente a narrativa. 

A figura central do livro é Fridolin, um médico austríaco casado com Albertine, com quem tem uma filha pequena. Uma noite, Albertine confessa ao marido uma fantasia que teve com um estranho nas suas últimas férias; Fridolin retribui contando que também se sentiu atraído por alguém.

A partir daí, Fridolin vê todas as suas interacções com outras mulheres de uma forma diferente, mais receptivo a insinuações e ao flirt, mais aberto à sua beleza e capacidade de atracção.

Vendo pacientes no hospital e ao domicílio, infiltrando-se numa soirée privada onde todos estão mascarados, o autor coloca o protagonista em múltipas situações onde a tensão psicológica e sexual da vida de casado estão sempre presentes nos monólogos de Fridolin. Há um tom pouco explícito ao longo de toda a história, reforçando o ambiente de sonho e e ambiguidade da acção.

No final, podemos conjecturar que a história talvez não seja o sonho de Fridolin mas de Albertine. Ou ir ainda mais além na especulação. Na época em que foi escrito, com Freud a revolucionar as ideias sobre o sonho, o desejo e a sexualidade, o facto de Dream story não ser linear permite várias interpretações. Kubrick soube jogar com isso na sua adaptação.

Em Portugal, foi publicado pela Relógio d'Água com o título História de um sonho.

Li num artigo que os livros de Arthur Schnitzler estavam na lista negra dos nazis para as famosas queimas de livros, juntamente com os de Freud, Zweig e Remarque, entre outros; tenho curiosidade em ler mais deste autor.

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(bom)

18 de maio de 2021

Night terrors vol. 1

 

Autor: Vários (Antologia)
Género: Contos, Terror

Idioma: Inglês
Páginas: 221
Editora: Scare Street (Kindle)
 Ano: 2020

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Publicitado como uma antologia de contos de terror, Night terrors vol. 1 está longe de ser assustador.

Como em todas as antologias de terror que tenho lido, a qualidade dos contos varia significativamente, assim como os temas tratados: fantasmas, demónios, psicopatas, maldições, lugares assombrados.

São 13 contos distintos e apenas três são maus; os outros dez estão bem escritos e/ou têm temas interessantes, mas quase todos têm finais desinspirados ou sem sentido, o que é uma pena.

Abaixo está a lista, e os que estão a negrito e com um pequeno resumo foi os que mais gostei; os dois primeiros e os dois últimos foram os meus favoritos. 

1. Cool air – Peter Cronsberry - uma septuagenária adquire um objecto mágico numa loja de antiguidades peculiar.

2. The presentation – Tarphy H. Worn
- um homem vive as piores horas da sua vida no dia em que tem de fazer uma apresentação aos accionistas da empresa.

3. The homeowner’s guide to sanity – K.M. McKenzie
4. Retrospective: Florne’s ghost – Emil Pellim

5. 7734 – Ryan Benson terror no Ártico.

6. Aisle three – Rosie O’Carroll
7. Pumpkin patch – C.B. Channell
8. The third father – A.M. Todd

9. Troop 94’s last scouting trip – Karl Melton - um grupo de escuteiros passa uma noite inesquecível num porta-aviões assombrado.

10. Play it, win it, kill it – J.M. White
11. Satan’s town – Bob Johnston

12. Everything as it was – Warren Benedetto - uma comunidade de agricultores é assolada por uma praga.  

13. Summer camp – Ron Ripley
- um caçador nato de criaturas sobrenaturais descobre os seus poderes.

Talvez dê hipótese a mais um dos livros desta série de antologias (que já conta 14 volumes até à data) para descobrir novas vozes de um dos meus géneros favoritos.

Além disso, comparada com outras antologias que li no passado, com nomes mais sonantes, foi uma leitura satisfatória.

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(mediano/razoável)

12 de maio de 2021

Alien: Isolation

 

Autor: Keith R.A. DeCandido
Género: Ficção Científica, Terror

Idioma: Inglês

Duração: 8h e 43m

Editora: Blackstone Audio Inc.

Ano: 2019
 

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Sempre joguei, principalmente no PC. Ao longo dos anos, as consolas foram e vieram, e a Xbox tem-se mantido cá por casa. Foi nela que joguei Alien: Isolation, lançado em 2014, um dos melhores jogos de survival horror de sempre e o melhor videojogo da série Alien
 
Foi uma prenda muito apreciada e, sendo uma grande fã da saga, não descansei enquanto não cheguei ao fim. O jogo é excelente, mexendo com o jogador de uma forma que só o filme original (e a sequela de Cameron) conseguiu - a sensação de claustrofobia, a ansiedade máxima à coca de qualquer ruído do alien e o sobressalto consequente, cada aparição da criatura, é o reviver do terror iniciado por Ridley Scott em 1979. Dei grandes saltos e houve alturas em que não avançava no jogo com medo da criatura, que nos matava das mais variadas formas sempre em close-up (espectacular!). 
 
O ano passado, em pleno confinamento, decidi jogar novamente, e o jogo continua fenomenal: a filha de Ellen Ripley, Amanda, é a figura central e uma heroína de acção que saiu à mãe.

Foi então que descobri que o jogo tinha tido uma adaptação oficial em livro e audiolivro, lançados em 2019. Escolhi ouvir a história.

Não li muitas novelizações até hoje, mas das poucas que li, o saldo foi positivo. Há elaboração de personagens, das suas motivações e características, informações adicionais de situações e eventos que enriquecem o que vimos no ecrã. Mas com esta adaptação, os resultados ficaram aquém. 

É um livro mediano que não faz justiça ao excelente jogo em que se baseia, apesar de dar mais pormenores sobre como Amanda Ripley cresceu sem a mãe e como a situação de pobreza lhe limitou o acesso a uma educação e empregos mehores. Não conheço outros livros do autor, que tem no currículo vários livros de fantasia e ficção científica, mas creio que com outro escritor, Alien: Isolation poderia ser melhor, como o fizeram Alan Dean Foster e Tim Lebbon

Não fiquei surpresa quando li que o autor não jogou Alien: Isolation, porque a tensão ao longo do livro é quase inexistente, várias cenas dramáticas no jogo são reduzidas a um par de linhas e a maioria das personagens têm pouco desenvovimento além da protagonista; pensei que pudesse ser a versão compactada em audiolivro que tivesse cortado algumas partes mas tive a oportunidade de folhear a versão em livro (mais de 300 páginas) e não difere grande coisa - prefiro não o ler num futuro próximo.

A narração, de Sarah Mollo-Christensen, é sem mácula; é isso que eleva o audiolivro a bom em vez de mediano. Ripley out.

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(bom)

7 de maio de 2021

Blowout - corrupted Democracy, rogue state Russia and the richest, most destructive industry on Earth




Autor: Rachel Maddow
Género: Política

Idioma: Inglês
Duração: 15h e 33m

Editora: Random House Audio
 Ano: 2019

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Não conheço o programa de Rachel Maddow - The Rachel Maddow Show - mas todos os artigos que li sobre ela mencionam a sua marca registada: um discurso informado sem papas na língua pontuado por humor negro e sarcástico.

No livro Blowout, Maddow, que é doutorada em Ciência Política pela universidade de Oxford, explica como o petróleo é o maior influenciador do mundo em que vivemos actualmente, não apenas económica como geopoliticamente, plasmado na forma como as petrolíferas influenciam as potências mundiais e contribuem para a opressão dos países em desenvolvimento.

Nos primeiros dois capítulos, é claro que o tom do livro tem tanto de divertido como de assustador.

É explicado como a indústria de petróleo e gás – que gerou corporações bilionárias como a ExxonMobil, a Chevron e a BP - enfraqueceu democracias em países desenvolvidos e em desenvolvimento, poluiu massas de água e financiou ditadores. Há capítulos dedicados a como Yeltsin entregou a presidência russa a Putin, e como Putin usou a indústria do petróleo para afirmar e manter o seu poder – ajudado ainda pelo recurso à chantagem, à intimidação e ao assassinato de vários adversários políticos.

Dos EUA à Rússia, passando pela Sibéria e pela Guiné Equatorial, percebemos como o petróleo e os poluentes brutos da perfuração intensiva exauram o solo causando danos irreversíveis ao ambiente e como as empresas do ramo nunca são sancionadas, contornando leis e pagando generosamente para escapar às punições legalmente previstas.

Blowout leva-nos numa viagem à volta do mundo, expondo a influência e o poder das indústrias do petróleo e do gás natural (o “Big Oil and Gas”) rematando sobre o “como” e o “porquê” do governo russo ter interferido nas presidenciais americanas de 2016.

No final, Maddow apela aos activistas, jornalistas e eleitores que preservem e protejam as democracias dos seus países da influência destas indústrias nocivas, mas depois de tanto "podre", as soluções mencionadas são poucas e desanimadoras.

É um livro muito bem pesquisado e muito bem narrado... e igualmente deprimente. Alguns parágrafos precisam de ser relidos/rebobinados e ouvidos porque as frases são longas e contêm tanta informação - nomes, datas, locais, estatísticas - que é fácil deixar escapar alguns pormenores. Recorri ao Google várias vezes para associar caras a nomes e ler algumas biografias. É um livro que exige tempo e atenção e que não se lê de enfiada.

Esta versão audiolivro, narrado pela autora, ganhou o Grammy de Best Spoken Word Album de 2019.

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(muito bom)