31 de maio de 2022

Garra

 

Autor: Cecelia Ahern
Género: Romance

Idioma: Português

Páginas: 288

Editora: Suma de Letras

Ano: 2021
Título original:
Roar 

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Cheguei a este livro através de um artigo online. Nele, falava-se de uma nova série feminista, com uma abordagem original que misturaria elementos futuristas e de realismo mágico.
 
O elenco da série, Roar, tem vários nomes sonantes: Nicole Kidman, Hugh Dancy, Alison Brie, Alfred Molina. Apesar de preferir não ver trailers, decidi ver o mais curto que encontrei e fiquei interessada. Então, decidi ler o livro antes de ver a série.

Garra é o primeiro livro que leio de Cecelia Ahern, apesar de ter visto o filme baseado no seu romance de estreia - P.S. I love you. Cecelia é uma autora irlandesa publicada em 50 países com vendas que ascendem a 25 milhões de exemplares. 

Composto por 30 contos diferentes, Garra ilustra em cada história uma faceta diferente da mulher moderna: esposa, mãe, profissional, confrontada com preconceitos e limitações, e com situações de violência. As protagonistas de cada história são anónimas, sendo sempre referidas como «a mulher».

Achei excelente a ideia de contos em vez de uma narrativa longa, o que torna a leitura mais apetecível. Mais ainda para mim, que tenho o hábito de ler mais do que um livro ao mesmo tempo.

Li o livro com calma, degustando as histórias e as mensagens, mais ou menos óbvias, em cada uma. Apreciei quase todas, porque houve umas quantas que não me disseram grande coisa, mas no global, apreciei as metáforas e, sobretudo, os elementos de fantasia e de surrealismo, presentes nos contos da mulher que comia fotografias, da que ficava na prateleira, da que devolveu o marido, ou da que se vestia de cor-de-rosa - os meus contos favoritos do livro.

Garra é um livro imaginativo, apesar de algumas das mensagens serem enfraquecidas pela curta duração da história ou por uma "moral" demasiado óbvia - aconteceu nos contos que apreciei menos, como a história da mulher que pensava que tinha o espelho partido, a da que sorriu, ou da que tinha um (fato) forte. Mas é de louvar o comentário social, bastante relevante.

Uma nota final para a capa, que resulta muito bem - excerto do livro aqui. Quando possível, vou ver a série. 

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(bom)

22 de maio de 2022

My evil mother

 

Autor: Margaret Atwood
Género: Conto
Idioma: Inglês
Páginas: 32
Editora: Amazon Original Stories (Kindle)
 Ano: 2022

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Margaret Atwood é considerada a maior escritora canadiana viva, com uma vasta produção literária de ficção, poesia e ensaio. Ganhou o Booker Prize duas vezes, acumulando vários outros prémios e distinções. 

Tornou-se uma das minhas autoras de referência quando li A história de uma serva há muitos anos, uma leitura que mexeu (e ficou) comigo.

Fiz a sua Masterclass de escrita criativa há uns anos e adorei: o curso, já de si interessante e bem estruturado, foi pontuado pelo sentido de humor aguçado e o olhar vivo de Atwood. Continuo fã. 

Da minha estante, Os Testamentos (Booker Prize em 2019) chamam-me a atenção de vez em quando, mas enquanto não lhe(s) pego, surgiu a hipótese de revisitar a escritora num formato mais breve.

Em My evil mother, seguimos a história de uma jovem a crescer nos subúrbios canadianos dos anos 50, criada pela mãe solteira, uma figura excêntrica ao ponto de haver rumores de que é uma bruxa. E poderá ser verdade, à medida que vamos descobrindo o quotidiano das duas, pontuado pelos conflitos habituais do choque de gerações mas também pelo comportamento e comentários da progenitora.

É uma excelente história que se lê com um sorriso e algumas gargalhadas. A mãe da narradora faz e diz coisas que dão um colorido invulgar à narrativa e nos faz simpatizar com a filha. No final, a reviravolta faz-nos ler, e apreciar, a história de outra forma.

My evil mother é um conto que explora uma relação complexa entre mãe e filha, as inquietudes e dinâmicas do relacionamento, abordando o controlo parental e o condicionamento das crianças. Tem vários detalhes deliciosos e é espantoso como Margaret Atwood conseguiu condensar tantos pormenores e emoção em trinta páginas! A ler.

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(muito bom)

15 de maio de 2022

A minha primeira entrevista como escritora

Desde miúda que adoro ler. Sempre vivi rodeada de livros, faço questão de seguir as novidades do meio literário e dos meus autores favoritos. Continua a ser emocionante descobrir autores novos... Ah! e adoro falar sobre livros e partilhar trivia sobre os escritores e as suas histórias.

O "bichinho" da escrita surgiu na minha adolescência, foi sendo alimentado pontualmente ao longo dos anos, consolidando-se na criação de dois blogs e numa participação activa no extinto site livra.pt. Finalmente, começou a reclamar mais espaço próprio.

Já vos falei aqui, há uns meses, da minha estreia como escritora.

O meu conto "Ritos" integrou a antologia Sangue Novo, organizada por Pedro Lucas Martins, lançada em Novembro de 2021.

Em breve, vou ter mais um conto publicado, intitulado "Sob a névoa", numa outra antologia, Sangue, da editora Trebaruna, a ser lançada na Feira do Livro de Lisboa deste ano. Darei mais pormenores quando puder.

Fonte: Google images


Há uns dias, foi publicada na Fábrica do Terror, a minha primeira entrevista como autora.

Partilho o link convosco, caros leitoras e leitores do bué de livros, e, leiam a entrevista ou não, desde já um obrigada gigante por continuarem a vir a este cantinho.

Um agradecimento à Fábrica pelo interesse e divulgação de uma nova autora. Foi uma segunda colaboração, uma vez que publicaram um microconto meu, intitulado Verão Quente, que podem ler aqui.

Fiquem bem, e boas leituras!

Fonte: fabrica-do-terror.com

8 de maio de 2022

Nevertheless, she persisted

 

Autor: Vários
Género: Antologia
Idioma: Inglês
Páginas: 47
Editora: Tor Books (Kindle)
 Ano: 2020

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Esta antologia reúne vários microcontos (flash fiction, Wikipédia), uma forma de narrativa com vários séculos de história que tem ganho um novo fôlego nos últimos anos.

She was warned. She was given an explanation. Nevertheless, she persisted. 

Este foi o ponto de partida para todos os textos incluídos em Nevertheless, she persisted, uma escolha intencional e baseada numa situação ocorrida em 2017 no Senado norte-americano: a democrata Elizabeth Warren foi silenciada enquanto lia uma carta de Coretta Scott King, viúva de Martin Luther King (notícia), uma acção justificada pelo líder da maioria republicana da seguinte forma: «she was warned. she was given an explanation. nevertheless, she persisted.» (ela foi avisada. foi-lhe dada uma explicação [e] mesmo assim, ela insistiu). Esta última expressão tornou-se viral e foi adaptada por vários movimentos feministas - Wikipédia.

Na altura, o episódio "incendiou" ainda as redes sociais, com várias críticas a serem feitas em defesa da liberdade de expressão, no geral, e ao direito das mulheres a serem ouvidas, em particular, originando debates sobre a igualdade de género.

Uma das suas manifestações no mainstream foi na forma desta antologia, editada por Diana M. Pho e constituída por 11 autoras
, quase todas vencedoras de prémios literários ligados ao género fantástico e à ficção científica. 

Reconheci três dos nomes, mas ainda não lera nada de nenhuma. Abaixo, está o índice e, a negrito, os meus micro contos favoritos:

- Our Faces, Radiant Sisters, Our Faces Are Full of Light!, de Kameron Hurley
- God Product, de Alyssa Wong
- Alchemy, de Carrie Vaughn
- Persephone, de Seanan McGuire
- Margot and Rosalind, de Charlie Jane Anders
- Astronaut, de Maria Dahvana Headley
- More than Nothing, de Nisi Shawl
- The Last of the Minotaur Wives, de Brooke Bolander
- The Jump Rope Rhyme, de Jo Walton
- Anabasis, de Amal El-Mohtar
- The Ordinary Woman and the Unquiet Emperor, de Catherynne M. Valente

O livro foi lançado em 2020, por ocasião do dia da Mulher, e continua gratuito - via Kindle ou online na página da editora. 

Apesar das limitações que a "flash fiction" apresenta em si mesma, mais o facto das histórias, quase todas, começarem com as mesmas três frases, o que traz consigo alguma previsibilidade, Nevertheless, she persisted é uma boa antologia, um excelente exemplo de micro contos de qualidade, todos eles muito bem escritos. 

A diversidade das autoras permite ao leitor a exposição a diferentes vozes e emoções, o formato curto das histórias é ideal para ler num dia ou dosear entre leituras mais longas, e... o livro é grátis.

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(bom)

1 de maio de 2022

A vegetariana

 

Autor: Han Kang
Género: Romance

Idioma: Português

Páginas: 192

Editora: Leya

Ano: 2019
Título original:
채식주의자 

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A vegetariana é uma história dividida em três partes: “A vegetariana”, “Mancha mongólica” e “Árvores flamejantes”. Cada parte é narrada por uma personagem ligada à titular da história, Yeong-hye: primeiro o marido, depois o cunhado e, por último, a irmã.

Yeong-hye é-nos descrita pelo marido como uma pessoa sem «rigorosamente nada de especial». Ele considera-a uma dona de casa cumpridora e uma esposa atenta e pouco expressiva. Ele, por sua vez, é um empregado discreto e pouco ambicioso.

Os dois fazem uma vida normal, sem sobressaltos. Até ao dia em que Yeong-hye anuncia que passou a ser vegetariana. A única explicação que dá é que teve um sonho, sem revelar que o mesmo, extremamente sombrio e sangrento, a abalou ao ponto de alterar a forma como se vê, e ao mundo.
 
E é nas primeiras páginas que descobrimos que esta história não é sobre escolhas alimentares, focando-se antes na crueldade e violência humanas. Estas irrompem no mundo de Yeong-hye, agora “desperta”, passando esta a ser alvo da frustração, intolerância e agressividade da família mais próxima, que a confronta e a tenta obrigar a voltar ao “normal”.

A nossa personagem principal nunca tem voz, com a sua história a ser contada do ponto de vista de outras pessoas. Na contra-capa há a indicação de que o livro comenta sobre a sociedade sul-coreana que lhe serve de cenário. É fácil, depois, fazer a leitura das nuances ligadas ao minimizar das aspirações das mulheres, o seu papel secundário, e as expectativas de comportamento dos sexos.

A multitude de interpretações possíveis, nascida do conflito entre o lado primitivo e natural e o lado condicionado pela família e pela sociedade do ser humano, é um ponto forte. O livro tem "apenas" 190 páginas, mas são páginas que pulsam de cor, textura e emoções! Há vários momentos de luz e de escuridão, de sonho e de pesadelo, carregados de simbolismo.

A vegetariana é um livro extraordinário e brutal. As sensações que me provocou permaneceram vívidas, mesmo entre as pausas de leitura.

Este título ganhou o Booker Prize de 2016, uma lista de candidatos que incluía Orhan Pamuk (Nobel da Literatura de 2006), Elena Ferrante e José Eduardo Agualusa.

Entretanto, encomendei outro livro de Han Kang.

Numa nota final, uma menção à excelente capa da edição portuguesa. 

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(fenomenal)