segunda-feira, junho 10, 2019

The testament of Mary


Autor: Colm Tóibín
Género: Romance
Idioma: Inglês
Páginas: 104
Editora: Penguin
Ano: 2013
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Tendo já visto o nome do autor referido em várias publicações, finalmente decidi dar-me a oportunidade de o ler. 

Comecei por esta novela com pouco mais de cem páginas. Apesar de breve, não é uma leitura leve. Conta a história de Maria, mãe de Jesus, reflectindo sobre os acontecimentos que culminaram na cruxificação do filho.

Maria nunca chama Jesus pelo nome, referindo-se sempre a ele como «o meu filho» ou «aquele a quem se referem», e tem uma clara antipatia pelos seguidores daquele, que classifica como delinquentes. Ela própria, olhando para trás, não reconhece no filho a doce criança de tenra idade que se tornou no adulto de voz penetrante que incita à revolta. O seu tom é amargurado e algo recriminatório, o que resulta numa narração amarga, pouco humana, que achei desajustada da personagem, ou melhor, da imagem piedosa que tenho da personagem.

O livro tem passagens muito boas, ricas em lirismo e peso emocional, mas são poucas, breves e excepcionais no tom global da narrativa. 

Esta não é uma leitura memorável nem chego a perceber a nomeação para o Booker - fosse este livro sobre uma mãe que não a mãe de Jesus, teria tido tanta visibilidade e atraído tantas críticas favoráveis? Acho que não.

Como o meu conhecimento da Bíblia (o livro mais vendido e lido no mundo) é limitado, creio que houve várias referências que me passaram ao lado. Mas tenho de admitir que esperava uma execução melhor de uma ideia que me pareceu boa.

Apesar disso, tenho curiosidade em ler outro título do autor.

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(mediano/razoável)

domingo, junho 02, 2019

The Art of Happiness


Autor: Dalai Lama XIV, Howard C. Cutler
Género: Espiritualidade, Religião
Idioma: Inglês
Páginas: 268
Editora: Coronet Books
Ano: 1999
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Este é um livro que apesar de ter vinte anos, continua actual. Escrito pelo psiquiatra Howard Cutler, é uma sucessão de capítulos com perguntas-chave do especialista ao líder espiritual do Tibete, juntamente com algumas reflexões e apontamento clínicos.

O tema do livro centra-se na busca da felicidade, aliando a abordagem budista com a abordagem psiquiátrica, ambas tentando chegar à meta do alívio do sofrimento e do bem-estar psíquico.

«If you can, serve other people, other sentient beings. If not, at least refrain from harming them. I think that is the whole basis of my philosophy.»

Os capítulos não seguem uma ordem cronológica e citam as conversas entre os dois autores (o Dalai Lama é co-autor) no decorrer de vários encontros durante uma semana, e quando se cruzaram nas palestras dadas pelo Dalai Lama a que o psiquiatra assistiu. Quando interpelado, o líder tibetano dá a sua perspectiva das coisas enquanto líder espiritual e o psiquiatra analisa do ponto de vista da sua formação e experiência, dando também exemplos de pacientes que tratou que escolheram uma abordagem parecida ou completamente diferente da que o livro sugere, consoante o estado de espírito. 
 
O psiquiatra marca o ritmo e direcção do livro, o que resulta mais ou menos, com capítulos bons e outros menos harmoniosos. Muitas vezes Howard Cutler pergunta por dicas ou um sistema de passos (na onda de «diga-me 5 passos infalíveis para atingir a felicidade»), o que balança a estrutura, com o Dalai Lama a furtar-se a providenciar "a resposta" ou a desvendar "a solução" que alegadamente daria ao leitor a chave para a felicidade - prefere focar-se na forma como devemos disciplinar a nossa mente e adaptar a nossa atitude perante a vida e os outros à medida que a vida nos vai acontecendo.    

«The more honest you are, the more open, the less fear you will have, because there's no anxiety about being exposed or revealed to others.»
Ao descrever o Dalai Lama, a sua personalidade e o modo como se relaciona com as pessoas, Howard Cutler fá-lo para mostrar que o líder pratica o que prega e faz tudo com compaixão, e que há nele uma energia que faz aqueles que com ele se cruzam abrirem-se e sentirem-se bem.
«Compassion can be roughly defined in terms of a state of mind that is nonviolent, nonharming, and nonaggressive. It is a mental attitude based on the wish for others to be free of their suffering and is associated with a sense of commitment, responsibility, and respect towards the other.»
Claro que quem compra um livro desta temática, encontrar-se-á já (algo) predisposto a este tipo de ideias mas isso não significa que esteja disposto a lê-lo sem qualquer tipo de criticismo ou sem tirar as suas conclusões condicionado pela própria experiência, o que vai fazer da leitura uma experiência única para cada um. Há passagens em que nos vemos reflectidos no que é contado e outras em que não, mas isso seria sempre verdade pois os temas são universais - o sofrimento, a superação de obstáculos, como nos mostramos ao mundo, a forma como amamos -, mudando apenas o momento.

Para ler de mente aberta - a postura que o livro aconselha a ter perante tudo. 
«Imagine what it would be like if we went through life never encountering an enemy, or any other obstacles for that matter, if from the cradle to the grave everyone we met pampered us, held us, hand fed us (soft bland food, easy to digest), amused us with funny faces and the occasional ‘goo-goo’ noise. If from infancy we were carried around in a basket (later on, perhaps on a litter), never encountering any challenge, never tested – in short, if everyone continued to treat us like a baby. That might sound good at first. For the first few months of life it might be appropriate. But if it persisted it could only result in one becoming a sort of gelatinous mass, a monstrosity really – with the mental and emotional development of a veal. It’s the very struggle of life that makes us who we are. And it is our enemies that test us, provide us with the resistance necessary for growth.»


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(bom)