28 de setembro de 2022

Sixty years in winter

  

Autores: Ingrid Chabbert, Aimée de Jongh
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 116
Editora: Europe Comics (Kindle)
Ano: 2022
Título original: Soixante printemps en hiver

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Sixty years in winter é uma história de libertação.

Após 35 anos de casamento, no dia em que celebra 60 anos, Josy tem as malas feitas para sair de casa.

Perante a família boquiaberta, diz que se sente a sufocar e quer parar de fingir: já não existe mais amor nem alegria, apenas hábito. 

Pega nas chaves da sua velhinha Volkswagen e faz-se à estrada, sozinha, disposta a recuperar o gosto pela vida.

Fonte: google images
 
Abraçando uma vida minimalista, rapidamente faz amigos entre pessoas que, também elas vivendo em casas móveis, se sentem à parte.

Na sua vontade em viver em pleno, Josy encontra novamente o amor, um amor diferente de tudo o que imaginou ser possível. Mas Josy é relembrada que com novos ganhos vêm também novas perdas.

Fonte: google images

A história de Sixty years in winter é terna em todos os aspectos, em harmonia com uma paleta de cores suave, que beneficia a ilustração dos corpos envelhecidos.

A linguagem das personagens é a de mulheres que nasceram na década de 60
, sem gíria moderna nem ideias progressistas.


Fonte: google images

Pelos olhos de Josy, assistimos ao prazer de (re)descoberta, de pensarmos em nós próprios e furtarmo-nos a obrigações auto-impostas; assistimos também à tristeza de alguém se encontrar incompreendido por marido e filhos quando opta por fazer algo incomum.

Há dor e há superação, há alegria e há saudade. E a corajosa Josy persevera como pode.

Fonte: google images

Sixty years in winter é uma leitura serena, cheia de pormenores subtis, onde a mensagem principal é a da importância, sem olhar à idade, da auto-descoberta.
 
À data deste apontamento, o livro está disponível em Francês (idioma original) e em Inglês.

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(bom)

24 de setembro de 2022

O adeus a Javier Marías aos 70 anos

Foto: google images

Descrito pelo El País como o «escritor chave» da literatura espanhola, Javier Marías, romancista madrileno, desapareceu a 11 de Setembro de 2022, vítima de pneumonia.

Filho de
Julián Marías Aguilera, considerado um dos maiores filósofos espanhóis, estreou-se na ficção aos 19 anos com Os domínios do lobo, e a partir daí seguiram-se 15 romances escritos ao longo de 50 anos, somando contos, ensaios e artigos. A sua obra está traduzida em 46 línguas e publicada em 59 países, com quase nove milhões de exemplares vendidos.
 
Escrevia à noite sentado à máquina, que nunca deixou de usar.

Leccionou na Universidade Complutense, em Madrid, e na Universidade de Oxford.

O seu pai, republicano crítico do regime franquista, leccionou em Massachussets. A família tinha como vizinho Vladimir Nabokov, que Marías admirava e traduziria anos mais tarde.
 
Eterno candidato ao Nobel da Literatura, tem na trilogia O teu rosto amanhã (2002-2007) a sua obra-prima. Outras obras maiores são Coração tão branco, Os enamoramentos e Todas as almas.
 
No ano passado publicou Tomás Nevison, o seu último romance.
 
«Escrevo sobre aquilo que a mim me parece particularmente grave, perigoso, injusto ou estúpido.» (Javier Marías)

Fontes:
Wikipedia e JN.
 
Foto: google images

18 de setembro de 2022

O jogador de xadrez

   

Autor: David Sala
Género: Banda desenhada
Idioma: Português
Páginas: 136
Editora: Levoir
Ano: 2018
Título original: Le jouer d'échecs

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O jogador de xadrez
é uma adaptação a banda desenhada do livro Novela de xadrez, de Stefan Zweig, que li há uns anos - apontamento aqui.

A adaptação do autor francês David Sala é extremamente fiel ao espírito e ambiente do texto original.

A leitura desta novela gráfica teve, pessoalmente, uma camada extra de emoção porque Stefan Zweig escreveu Novela de xadrez  pouco antes de se suicidar, em 1942, aquando do seu exílio no Brasil.

Zweig estaria desesperado pelo avanço nazi na Europa. Vários dos seus livros foram queimados pelo regime nazi. Infelizmente, o escritor não viveu para testemunhar a queda de Hitler.

Fonte: foto do livro

Em O jogador de xadrez, a acção passa-se no ano de 1941, a bordo de um paquete com destino à Argentina.

A bordo, o campeão do mundo de xadrez defronta um aristocrata vienense, cujo extraordinário domínio do jogo, vamos descobrir em flashback, foi aprendido em circunstâncias brutais às mãos de nazis
.

Fonte: foto do livro

Adorei a estética e a paleta de cores utilizada, fiel à década em que se passa a acção da história. Os grandes planos das expressões das personagens privilegiam as emoções e são um dos pontos fortes do livro.

Confesso que estranhei, ao início, as ilustrações, coloridas a aguarela, uma técnica diferente - mas não menos bela - da que estou habituada.

Não conhecia o traço (bastante original) de David Sala e fiquei rendida. Quanto mais olho para os desenhos, mais gosto do estilo, super adequado à história
.

Fonte: foto do livro

O jogador de xadrez é uma bela homenagem ao livro de Stefan Zweig, um dos escritores mais influentes das primeiras décadas do século XX, que influenciou vários artistas contemporâneos, entre os quais o realizador Wes Anderson n'O Grande Hotel Budapeste.

A ler e a reler.

*****
(muito bom)

12 de setembro de 2022

The return

   

Autor: Rachel Harrison
Género: Thriller
, Terror
Idioma: Inglês

Páginas: 304

Editora: Berkley (e-book)

Ano: 2020

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Julie desapareceu há muitos meses, e ninguém acredita que voltará.

Ninguém excepto Elise, a sua melhor amiga. É a única. Nem mesmo Molly ou Mae, as outras jovens do grupo, crêem que Julie volte.

Dois anos passados, ela reaparece. Não se lembra de onde esteve nem do que lhe aconteceu.

Elise decide juntar as quatro amigas para um fim-de-semana no 'Red Honey Inn', um hotel original no meio do verde. O tempo agrava-se, várias actividades são canceladas, o grupo reúne-se para comer, beber e conversar. Voltam velhas dinâmicas… mas Julie está diferente.

À medida que o fim-de-semana se desenrola, Elise está convencida de que a Julie que desapareceu não é a mesma Julie que voltou. E não acredita que a amiga não se lembre de nada. Procura então a melhor oportunidade para falar a sós com ela, antes que se pareça cada vez mais com uma estranha, e já nada haja para reatar.

The return combina habilmente thriller e terror psicológico, com várias situações desconfortáveis centradas na relação entre as quatro amigas, diálogos rápidos e uma acção envolvente. Adorei a atmosfera claustrofóbica do livro, com o 'Red Honey Inn' a revelar-se um lugar inquietante.

Este foi o livro de estreia da autora; 4,5 estrelas arredondadas para 5 estrelas.

*****
(muito bom)

3 de setembro de 2022

Pele de Homem

  

Autores: Hubert, Zanzim
Género: Banda desenhada
Idioma: Português
Páginas: 160
Editora: A Seita
Ano: 2022

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Pele de Homem foi uma prenda, uma bela prenda!

A história passa-se na Itália renascentista: Bianca é uma donzela que pertence a uma família abastada com um casamento arranjado pelos pais. O noivo chama-se Giovanni; os dois nunca se conheceram.

Mas há muitas mais coisas que Bianca desconhece, e isso é motivo de angústia. Tudo muda quando a madrinha lhe revela um segredo de família reservado às mulheres: possuem um tesouro, uma “pele de homem” que lhes permite transformarem-se num... homem.

Com ela e nela, Bianca «irá descobrir o mundo masculino fechado às mulheres da época, e na busca de conhecer aquele que lhe está prometido como marido, irá também descobrir o amor entre homens, bem como o seu desejo como mulher, e todas as alegrias, frustrações e tristezas que esse amor e esse desejo podem trazer». E essas descobertas cimentam um desejo de emancipação que Bianca simplesmente não quer refrear.

«Nós, as mulheres da nossa família, temos um grande segredo. Possuímos uma pele de homem. Chamamos-lhe Lorenzo. Uma vez vestida, ninguém duvidará de que és um rapaz.»

Fonte: google images

Pele de Homem surpreendeu-me. Conseguiu retratar temas como a condição feminina, o fervor religioso, e a sexualidade de uma forma fresca e delicada, mantendo a importância dos valores universais ligados às liberdades (religiosa, expressão, imagem, pensamento).

As 160 páginas não se prestam a uma leitura de enfiada; é preciso degustar a obra. Percebi que assim, a cada serão de leitura, além de me lembrar exactamente do que se tinha passado antes, e segundo a divisão por capítulos, mergulhava com gosto renovado nas aventuras de Bianca/Lorenzo e Giovanni.

Fonte: google images

Pele de Homem é um livro fenonenal, que me encantou, e quando o acabei de ler, comecei a procurar por outros livros dos autores.

Infelizmente, um deles não mais publicará: o escritor, Hubert, suicidou-se uns meses antes da publicação da BD, alegadamente depois de anos a lutar com uma depressão ligada à sua sexualidade e crenças religiosas.

Fonte: google images

A obra venceu o Grande Prémio RTL de BD, o Prémio de BD do jornal Le Point, o Prémio Landerneau 2020, o Grande prémio ACBD da crítica de BD francófona, o Prémio das Livrarias de BD, e o Prémio dos Jovens no Festival de Angoulême.

Pele de Homem é uma pepita visual e uma narrativa com uma mensagem intemporal. Não tenho dúvidas de que se tornará um clássico.

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(fenomenal)