26 de novembro de 2018

Less



 Autor: Andrew Sean Greer
Género: Humor, Sátira
Idioma: Inglês
Páginas: 272
Editora: Hachette Book Group (Kindle)
Ano: 2017
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Arthur Less tem 49 anos e é um escritor pouco conhecido, sem grande obra. Residente em São Francisco, tenta lidar com a passagem do tempo, as memórias de amantes passados e a irrelevância no meio literário.
  
«Nobody came to "An Evening with Arthur Less".»

Preso num dia-a-dia previsível e sem novidades, Less vê-se subitamente num turbihão de emoções quando recebe um convite de casamento do ex-namorado Freddy, uma relação recente de nove anos que Less tenta minimizar mas não consegue. Como comparecer é impensável (e demasiado doloroso), Less arranja forma de lhe ser impossível fazê-lo, agendando várias viagens e eventos na altura da boda, desde participar como orador numa conferência literária na Cidade do México até ao Japão, onde é suposto escrever uma crítica da cozinha nipónica numa revista masculina. Pelo meio ficam eventos em Itália, na Alemanha, em França, em Marrocos e na Índia.



«Arthur Less is the first homosexual ever to grow old...He has never seen another gay man age past fifty, none except Robert. He met them all at forty or so but never saw them make it much beyond; they died of AIDS, that generation. Less' generation often feels like the first to explore the land beyond fifty.»
 
Mas as memórias com Freddy perseguem-no e assombram-no. A uns meses de fazer 50 anos, Less é confrontado interiormente com as suas escolhas, o seu passado amoroso e a sua homossexualidade. Incapaz de lidar com a infelicidade de não continuar com Freddy, está decidido a viajar pelo mundo e a ocupar-se com coisas que não lhe dizem grande coisa, tudo porque não consegue ultrapassar o que se tornou nem a solidão que o espera de volta a casa.

Less é um dos piores livros que li nos últimos meses. Enfadonho, está longe da minha ideia de um livro vencedor de um Pulitzer. Onde está o humor, a sátira anunciados? Fiquei à espera de algo que nunca veio, e a minha persistência não foi recompensada.



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(fraco)

14 de novembro de 2018

The cabin at the end of the world



 Autor: Paul Tremblay
Género: Thriller, Terror
Idioma: Inglês
Páginas: 288
Editora: William Morrow (Kindle)
Ano: 2018
ASIN: B074DTFY26
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The cabin at the end of the world é uma mistura bem sucedida de terror e thriller.

Logo no início do livro somos apresentados a Wen, filha adotiva do Pai Andrew e do Pai Eric, um casal gay que achou boa ideia arrendar uma cabana remota junto a um lago, algures em New Hampshire. Não há vizinhos num raio de alguns quilómetros nem há rede de telemóvel. O cenário é aparentemente perfeito para umas férias em família.

Andrew e Eric conseguem proporcionar a Wen o contacto com a natureza. São vários os mergulhos no lago, a apanha de gafanhotos, o desfrutar da imensidão verde. De lado ficam as preocupações com os ursos, os mosquitos ou em retocar o protector solar.

Mas a chegada de quatro estranhos, trazendo consigo armas artesanais, vem quebrar a paz familiar. Os quatro, liderados pelo "bom" gigante Leonard, dizem não querer fazer mal a ninguém mas trazem más notícias: um membro da família terá de ser sacrificado ou o apocalipse virá. E são os membros da família quem deve escolher quem será o sacrificado... Naturalmente, isto coloca-lhes um dilema moral que testa os limites do seu amor, mas que permite também explorar os temas da fé, da lealdade, do amor e do sacrifício, tudo num cenário de terror e violência crescentes, à medida que os estranhos vão ficando impacientes.

Porém, por mais angustiante que a acção seja, há calor na representação da pequena família de Eric, Andrew e Wen. Até os estranhos que invadem a cabana e sequestram os protagonistas não são os monstros unidimensionais a que estamos habituados - a caracterização é cuidada e os diálogos muito bons; fiquei bem impressionada com a acção e o ritmo da estória mas um pouco menos com o final.

The cabin at the end of the world é o primeiro livro que leio de Paul Tremblay, mas espero ler outros em breve.


****
(bom)

21 de outubro de 2018

O tigre branco



Autores: Aravind Adiga
Género: Policial
Idioma: Inglês
Páginas: 276
Editora: Free Press
Ano: 2008
ISBN: 1416562605
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O Tigre Branco arrebatou por unanimidade o Man Booker Prize em 2008.

Romance de estreia do autor, Aravinda Adiga, mostra uma Índia pouco explorada pela ficção: violenta e crivada de desigualdades socioculturais - bem diferente da imagem de nação exótica, dos saris de mil cores, da ioga e da elevação espiritual a que estamos habituados.

Toda a obra é uma longa carta dirigida ao Primeiro-Ministro chinês, Wen Jiabao, que visitará o país em breve, escrita ao longo de sete noites. O autor da carta, Balram, nascido na “Escuridão” – a Índia rural, paupérrima e subserviente -, apresenta-se como o tigre branco do título, um «empreendedor social» que narra a sua ascensão de aldeão miserável até à luz do seu sucesso empresarial; na “Luz” vivem os políticos, actores, homens de negócios, numa almejada vida de prosperidade financeira pertencente a uma minoria e desconhecida por milhões de indianos.

Nas suas cartas, Balram não procura a absolvição pelos crimes que cometeu, mostra-se apenas como o exemplo de um dos milhões de pobres na Índia, agrilhoados pelo sistema de castas; mostra-nos ainda como o suborno e a corrupção incrustadas são a base do milagre económico do país - as observações do narrador são agudas e inquietantes, o tom sempre sarcástico.

O título é a metáfora do livro. Por ser um animal raro na selva, Balram foi assim apelidado por um inspector escolar por ser capaz de ler e escrever quando poucos eram capazes de o fazer. Apesar de lhe ter sido prometida uma bolsa para que pudesse explorar o seu potencial, Balram teve de suspender os estudos quando a família o empregou para ajudar a saldar uma dívida.

O Tigre Branco é gráfico mas aqueles que já visitaram a Índia facilmente reconhecerão várias referências e recordarão cenas quotidianas nos mercados, nas estradas, nas ruas. Este é o retrato de uma sociedade brutal e impiedosa, em que as injustiças se perpetuam geração após geração. Balram consegue escapar da escuridão de um destino de servidão e fá-lo sem remorsos, alcançando a desejada luz da independência financeira.

Um livro excelente.


*****
(muito bom)

13 de setembro de 2018

O casal do lado



Autores: Shari Lapena
Género: Thriller
Idioma: Português
Páginas: 296
Editora: Editorial Presença
Ano: 2017
ISBN: 9722360485
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Anne e Marco tiveram a pequena Cora há alguns meses. Apesar da mudança de dinâmica na vida do casal e da depressão pós-parto de Anne, há que fazer um esforço e parte disso passa por manter uma vida social, ou tentar, pelo menos. Quando combinam um jantar com os vizinhos do lado, e a babysitter desmarca à última da hora, Marco sugere manter o jantar e que um deles venha, a vez e a cada meia hora, ver da bebé; é literalmente atravessar o jardim e subir ao quarto. Vivem numa boa vizinhança (classe alta), têm o intercomunicador - o que pode correr mal?

Quando Cora é raptada, o casal vê-se envolvido na cobertura mediática do caso, a braços com a investigação policial e o sentimento de culpa e acusações de negligência. Mas nada bate a angústia de não saber se terão a filha de volta e este thriller (sei agora que foi o livro de estreia da autora) leva-nos literalmente numa montanha russa de mentiras, acusações e traições, onde de um capítulo para o outro caem máscaras, há revelações mais ou menos inesperadas e o ser humano se revela capaz do pior possível. 

Gosto de thrillers e este é um bom livro dentro do género. É emocionante o suficiente para minimizarmos algumas falhas da história. As personagens são credíveis (gostei particularmente do detective encarregue do caso) e as surpresas sucedem-se a um bom ritmo. Já a cena final pareceu-me desnecessária. 

Não é o melhor thriller que li este ano mas tem todos os ingredientes na medida certa para entreter.



****
(bom)

6 de agosto de 2018

Some kind of peace


Autores: Camilla Grebe; Åsa Träff
Género: Thriller
Idioma: Inglês
Páginas: 315
Editora: Free Press
Ano: 2012
ISBN: 1451654596
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Siri Bergman é uma terapeuta que ajuda os seus pacientes a ultrapassar as mais diversas fobias e distúrbios, quando ela própria luta por ultrapassar um medo irracional do escuro e a morte recente do marido.

Todos os dias Siri está no centro de Estocolmo, a dar consultas no gabinete de psicologia que partilha com mais dois colegas, Sven e a sua melhor amiga Aina, e todas as noites está na sua casa isolada junto ao mar, um farol no meio da escuridão, com todas as luzes acesas até o dia nascer.

Siri vive como uma eremita. A
penas comparece a algumas reuniões familiares uma vez por outra, e as irmãs e os pais nunca são convidados a ir à sua casa; a sua companhia constante são as garrafas de vinho que compra antes de ir para casa e que lhe garantem (quase sempre) um sono sem sonhos.

Tudo muda quando uma das pacientes da terapeuta aparece morta na praia junto à casa e a polícia encontra uma nota em que diz que a culpa é de Siri e que o suicídio era o único escape. Quando o cenário de suicídio é descartado, rapidamente se percebe que Siri está a ser alvo de uma pessoa doente, que a espia e segue os seus passos, e que parece esperar o momento certo para a atacar.

Gosto bastante de policiais de autores nórdicos e nunca tinha lido nada desta dupla de (irmãs) autoras. Some kind of peace é um thriller que demora o seu tempo a desenvolver e com pouco suspense, havendo um maior enfoque nas sessões que Siri tem com os seus diferentes pacientes.

Apesar de bem escrito, achei-o monótono - talvez umas dezenas de páginas a menos ajudasse. Gostei bastante das passagens que abordam as fases do luto do marido da protagonista – principalmente os capítulos na última parte do livro - e acho que isso tornou
o livro mais interessante, mas como thriller é mediano.


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(mediano/razoável)

29 de julho de 2018

The last time I lied


Autor: Riley Sager
Género: Thriller
Idioma: Inglês
Páginas: 384
Editora: Dutton (Kindle)
Ano: 2018
ISBN: B076GNTWQM
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Depois de ter lido o meu primeiro livro de Riley Sager, Final girls, fui pesquisar se havia outros. Foi assim que descobri que Final girls tinha sido o seu livro de estreia (apesar de já ter publicado outros livros sob outro nome) e que o segundo seria publicado em Julho de 2018. Eu sabia que o ia ler assim que saísse.

E li-o… em três dias, o que é raro; e estamos a falar de quase 400 páginas!

Vamos então à história: duas verdades e uma mentira. O grupo de raparigas com quem Emma Davis calhou partilhar a cabana, no campo de férias Nightingale, jogavam-no de vez em quando e ela também participava. Vivian, Natalie e Allison, de 16 anos, eram todas mais velhas que Emma, de 13, mas ficaram amigas.

Mesmo assim, a diferença de idades e interesses significava que nem sempre faziam coisas juntas. Como na noite em que as três raparigas mais velhas saíram, já tarde, e desapareceram. Uma Emma sonolenta viu-as saírem e viu Vivian a fazer-lhe o gesto que não dissesse nada nem as seguisse mas foi só. As três nunca mais foram vistas e Emma ficou para sempre assombrada pelo que aconteceu.

15 anos mais tarde, a proprietária decide reabrir o campo e convidar Emma – uma pintora em ascensão – para dar aulas de arte. Dividida entre as memórias do que se passou e um anseio em fechar esse capítulo traumático (o salário ser bom também ajuda), Emma aceita, apenas para rever vários rostos do passado e reviver alguns episódios angustiantes.

Os capítulos do livro alternam entre a Emma adulta e a adolescente de há quinze anos atrás, à medida que vamos descobrindo mais sobre as personagens. As revelações e a acção avançam lentamente, assim como o suspense; embora eu tenha achado que acabar quase todos os capítulos em jeito de cliffhanger, sempre com uma interrogação, é um bocado irritante, a gradação e a adição de pormenores foi feita de uma forma sólida, e essa conjugação resultou. O final chegou glorioso, muito bem pensado.

The last time I lied é outro excelente thriller de Riley Sager, emocionante e inteligente.

Até agora, gostei bastante dos 2 livros que ele publicou… e não sou a única: Final girls vai ser adaptado ao cinema e The last time I lied a série de televisão.


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(muito bom)