17 de dezembro de 2023

The only good Indians

 

Autor: Stephen Graham Jones
Género: Terror

Idioma: Inglês

Páginas: 320

Editora: Saga Press
(Kindle)
Ano: 2020

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The only good Indians é um livro de terror original e muito bem executado. Foi premiado com o maior galardão do género em 2020, o prémio Bram Stoker para melhor livro de terror do ano. Ganhou ainda o Shirley Jackson Award e o Ray Bradbury Prize.

Lewis, Ricky, Gabe e Cass sabem que caçar na reserva é proibido e um desrespeito pelos costumes, mas fazem-no na mesma. Assim, no último dia da época de caça, estes quatro homens indígenas, pertencentes à nação Blackfeet, tomam uma decisão que os vai assombrar para sempre.

Em The only good Indians, Stephen Graham Jones traz-nos uma história sobre vingança, racismo, trauma e identidade indígena.

Altamente atmosférico, o livro nunca perde o ritmo e tem um humor peculiar. É rico em referências ao modo de vida indígena. A minha parte favorita é na última parte do livro, durante uma cerimónia índia (sauna cerimonial, ou “sweat lodge” no original) onde há o confronto final.

Stephen Graham Jones é, ele próprio, parte da nação Blackfeet e, numa entrevista online, disse que quis contestar os estereótipos da própria comunidade indígena sobre o que é ser um bom indígena («a good indian»), embora o título se refira a uma frase utilizada nos Estados Unidos durante as Guerras Indígenas (1609–1924) de que “um índio bom é um índio morto” (“the only good indian is a dead indian”).

The only good Indians é rico em vários aspectos, mas destaca-se sobretudo pela crueza do comentário social. Há várias cenas de violência explícita, cometida contra humanos e contra animais, mas o final traz-nos alguma tranquilidade depois da carnificina.

À data deste apontamento, o livro encontra-se editado em Português, no Brasil, com o título Temporada de Caça, mas não em Portugal.

*****
(muito bom)

3 de dezembro de 2023

Instinto

 

Autor: Ashley Audain
Género: Thriller

Idioma: Português

Páginas: 344

Editora: Suma de Letras

Ano: 2021
Título original:
The push

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O comportamento do meu filho é normal? É esta interrogação que está no centro de Instinto, romance de estreia da autora canadiana Ashley Audrain.

A história conta a vida de três gerações de mulheres no papel de mãe. A narradora é Blythe, recém-casada e determinada em ser a mãe presente e atenta que não teve.

Mas quando a filha, Violet, nasce, Blythe descobre que a maternidade não é como esperava. Mais, acredita que algo está errado com a criança. O marido não vê nada de estranho. É apenas quando o segundo filho, Sam, nasce que Blythe sente a ligação com que sempre sonhou. Até que tudo se desmorona.

Instinto está escrito na segunda pessoa, como uma longa carta de Blythe para o marido.

A voz de Blythe não é confiável por causa do seu histórico familiar de negligência e privação – contado através de flashbacks que misturam as perspectivas de três gerações de mulheres sobre a maternidade e os medos e emoções associados à mesma. 

A escrita é fluída. Os pontos fortes do livro são o tom e o ambiente intrigantes.

Instinto é um dos melhores livros que li este ano.

«Fósforos. Ela regressa para acender as velas dispostas na cornija da lareira decorada, e pergunto-me se os ramos de abeto são verdadeiros, se cheiram como no bosque. Imagino, por uns instantes, que estou a ver os galhos a arder, enquanto vocês dormem, esta noite. Imagino o brilho quente e amarelo-amanteigado da sua casa a transformar-se num vermelho quente e crepitante.»

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(muito bom)