19 de maio de 2023

Vann Nath: painting the Khmer Rouge

     

Autores: Matteo Mastragostino, Paolo Vincenzo Castaldi
Género: Banda desenhada
Idioma: Inglês
Páginas: 128
Editora: Humanoids
Ano: 2020

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Vann Nath: painting the Khmer Rouge é um livro de ficção histórica, baseado na experiência do protagonista titular durante o regime do Khmer Vermelho, uma das ditaduras mais brutais do século XX.

O livro começa em 1975, com o Khmer Vermelho a subir ao poder e a expulsar vários habitantes das cidades, nomeadamente de Pnom Pen, uma vez que os seguidores do partido comunista desconfiavam das ideias e atitudes progressistas dos moradores da capital, onde se concentravam os artistas e intelectuais.

Seguimos Vann Nath a relembrar o perído que passou na S-21 (hoje o museu do genocídio Tuol Sleng), a prisão do Khmer Vermelho na capital cambojana.


Fonte: imagem do livro

Das cerca de dezassete mil pessoas encarceradas na S-21, doze sobreviveram. Vann Nath foi poupado porque a direcção da prisão precisava de alguém para fazer um retrato de Pol Pot.

Vann foi um de sete prisioneiros a escapar à execução pela sua “utilidade” para difundir a propaganda do regime.

O pintor, e activista de direitos humanos depois de sair da prisão, tornou-se o sobrevivente mais famoso de um dos capítulos mais sombrios da história do seu país.

As suas pinturas do quotidiano e das torturas na S-21, feitas nos anos após a sua libertação, foram usadas como prova no julgamento de 2010 do chefe da prisão, Kaing “Duch” Guek Eav, pelo tribunal de genocídio do Khmer Vermelho, apoiado pela ONU. O pintor foi ainda uma das testemunhas-chave (uma cena ilustrada neste livro).

Vann Nath sofria de uma doença renal, resultado das privações na prisão, e fazia diálise frequentemente. Faleceu a 5 de Setembro de 2011, aos 65 anos; sobreviveram-lhe a esposa e três filhos.

 

Fonte: imagem do livro

Voltando à BD: Mastragostino, o argumentista, escolheu não contar a história de uma forma linear, o que poderá não resultar da melhor maneira se o leitor não conhecer este período negro da história cambojana. Também não há nenhum enfoque no activismo de Vann Nath na história em BD, apenas em notas posteriores.

Em termos de ilustração, o trabalho de Castaldi é superior, usando pinceladas para criar um mundo mais delicado, que contrasta com as barbaridades da acção. Os vilões têm expressões carregadas e, por vezes, dentes pontiagudos. As cores usadas são os cinzas, castanhos e vermelhos.

Eu estive no Camboja em 2016 e visitei a S-21/Tuol Sleng e um dos campos de morte (killing fields). Algumas das pinturas de Vann Nath adornam as paredes de Tuol Sleng. Não me esqueci.

O regime do Khmer Vermelho dizimou uma grande parte da população do Camboja no final dos anos 1970; o guia disse-nos que o Camboja é, por isso, uma das nações com mais jovens per capita.

Fonte: imagem do livro

Vann Nath: painting the Khmer Rouge é uma visão necessária da vida numa ditadura, o tipo de história que não podemos esquecer.

Podem ver alguns dos quadros do artista, a maioria bastante gráficos, neste website

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(bom)

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