Autor: Elif Shafak
Género: Romance, Contemporâneo
Idioma: Português
Páginas: 328
Editora: Editorial Presença
Ano: 2020
Título original: 10 minutes and 38 seconds in this strange world
Tradução: Maria João Freire de Andrade
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A nossa vida passa-nos à frente dos olhos no momento da nossa morte…
É desta ideia que parte a história de
10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho, da escritora turco-britânica Elif Shafak. Descobri-a recentemente, com o romance
Três Filhas de Eva - podem ler
o meu apontamento aqui.
10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho abre com Leila Tequila, uma prostituta na cidade de Istambul, ferida mortalmente e deixada num contentor de lixo.
O seu cérebro, prestes a extinguir-se, passa em retrospectiva a existência do corpo que habita. Ficamos a conhecer a vida de Leila como ela a experienciou: a sua vida familiar, as suas amizades, os eventos marcantes, os abusos, os azares, com mostras da condição feminina na Turquia nos anos 50 a 90.
O romance divide-se em três partes, e tem uma estrutura original para uma história de flashbacks, que funciona muito bem.
Aprendemos também sobre a vida dos seus cinco melhores amigos, onde o último terço do romance se foca. São amigos generosos e leais, que se tornaram a família de Leila. Elif Shafak criou neles personagens ecléticas e cheias de vida.
A leitura é muito agradável, graças à escrita poética e estruturada. Gostei dos elementos de fantasia aliados ao realismo social, com a presença de acontecimentos históricos, caso do massacre do 1.º de maio de 1977 na Praça Taksim.
A cidade de Istambul está muito presente, como no romance Três Filhas de Eva. Nota-se uma tónica e compreensão profundas do local e das suas complexidades culturais.
10 minutos e 38 segundos neste mundo estranho foi nomeado para o "Booker Prize" em 2019, que foi ganho
ex aequo por
The Testaments de Margaret Atwood, e por
Rapariga, Mulher, Outra de Bernardine Evaristo – podem ler
o meu apontamento aqui.
«O tempo tornou-se fluido, um fluxo rápido de recordações infiltrando-se umas nas outras, o passado e o presente inseparáveis.
A primeira recordação que lhe veio à mente relacionava-se com sal – a sensação na sua pele e o sabor na sua língua. Viu-se em bebé – nua, viscosa e vermelha.»