Autor: Sharri Markson
Género: Política
Idioma: Inglês
Duração: 16h e 28m
Editora: Harper Audio
Ano: 2021
Género: Política
Idioma: Inglês
Duração: 16h e 28m
Editora: Harper Audio
Ano: 2021
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À data deste texto, vivemos ainda sob o efeito da pandemia causada por um vírus que ceifou milhões de vidas e alterou milhares de milhões de outras, causando um abrandamento mundial.
Desde Março de 2020, altura em que foram adoptadas as primeiras medidas sanitárias no continente europeu, vivemos confinamentos e recolheres obrigatórios, tornando-se habitual o uso continuado de máscaras e debates acesos sobre a eficácia/obrigatoriedade/efeitos da vacinação e dos passes vacinais. Da China, ainda chegam notícias de novas infeccções, de uma nova variante (demicron) e novos confinamentos. As notícias ainda existem, mas a tragédia que se abateu sobre a Ucrânia abre agora, com toda a legitimidade, os telejornais.
Sharri Markson, a autora de What really happened in Wuhan, é uma jornalista australiana premiada. Neste livro, defende a teoria de que o vírus do covid-19 terá sido geneticamente criado pelo Instituto de Virologia de Wuhan e libertado no mundo após uma fuga acidental («lab-leak theory»), contrariando a teoria de que a origem terá sido natural, com origem num mercado local de animais (semelhante à hipótese de 2000, aquando da epidemia de SARS, entre 2002 e 2004).
Desde Março de 2020, altura em que foram adoptadas as primeiras medidas sanitárias no continente europeu, vivemos confinamentos e recolheres obrigatórios, tornando-se habitual o uso continuado de máscaras e debates acesos sobre a eficácia/obrigatoriedade/efeitos da vacinação e dos passes vacinais. Da China, ainda chegam notícias de novas infeccções, de uma nova variante (demicron) e novos confinamentos. As notícias ainda existem, mas a tragédia que se abateu sobre a Ucrânia abre agora, com toda a legitimidade, os telejornais.
Sharri Markson, a autora de What really happened in Wuhan, é uma jornalista australiana premiada. Neste livro, defende a teoria de que o vírus do covid-19 terá sido geneticamente criado pelo Instituto de Virologia de Wuhan e libertado no mundo após uma fuga acidental («lab-leak theory»), contrariando a teoria de que a origem terá sido natural, com origem num mercado local de animais (semelhante à hipótese de 2000, aquando da epidemia de SARS, entre 2002 e 2004).
É um tema polarizador, sem dúvida, e a teoria da fuga do laboratório chinês contém nuances que fazem as delícias dos críticos mais vocais, que a classificam como uma elaborada "teoria da conspiração". Quem pega neste livro estará desde já aberto a ouvir os argumentos que fundamentam esta hipótese. A sua robustez é subjectiva, o que não equivale a dizer que quem lê este livro, vai ficar convencido. Mas alguns ficarão. É assim que funciona.
Misturando factos (há um departamento no Instituto de Virologia de Wuhan que estuda e manipula coronavírus; foi publicado em 2018 um estudo norte-americano que denunciava incumprimentos dos protocolos de segurança, e alertava para deficiências na segurança ligadas a alegadas faltas de pessoal técnico especializado nesse mesmo instituto), testemunhos directos (citações de cientistas, políticos, investigadores, cidadãos comuns nos media e em relatórios entretantos publicados) e indirectos (fontes jornalísticas e denunciantes, cuja identidade é protegida), em What really happened in Wuhan, a autora constrói uma cronologia minuciosa, atravessando vários continentes e envolvendo diferentes actores.
Vai sendo traçada uma cadeia de eventos que envolve alegadas ocultações de informação, pressões políticas e interesses económicos, onde diversos agentes governamentais chineses e norte-americanos (assim como os seus colaboradores espalhados pelo mundo) têm os papéis principais. Tudo "atado" e referenciado como está, este livro lê-se quase como um thriller, ao que ajuda ter tanto de plausível como de fantástico.
Misturando factos (há um departamento no Instituto de Virologia de Wuhan que estuda e manipula coronavírus; foi publicado em 2018 um estudo norte-americano que denunciava incumprimentos dos protocolos de segurança, e alertava para deficiências na segurança ligadas a alegadas faltas de pessoal técnico especializado nesse mesmo instituto), testemunhos directos (citações de cientistas, políticos, investigadores, cidadãos comuns nos media e em relatórios entretantos publicados) e indirectos (fontes jornalísticas e denunciantes, cuja identidade é protegida), em What really happened in Wuhan, a autora constrói uma cronologia minuciosa, atravessando vários continentes e envolvendo diferentes actores.
Vai sendo traçada uma cadeia de eventos que envolve alegadas ocultações de informação, pressões políticas e interesses económicos, onde diversos agentes governamentais chineses e norte-americanos (assim como os seus colaboradores espalhados pelo mundo) têm os papéis principais. Tudo "atado" e referenciado como está, este livro lê-se quase como um thriller, ao que ajuda ter tanto de plausível como de fantástico.
É possível que um cientista do Instituto se tenha esquecido de um passo no protocolo de segurança?
É possível que as autoridades chinesas tenham tentado encobrir a gravidade da situação, aquando da escalada do número de casos, no final de 2019? Por que é que essas mesmas autoridades terão levado meses a permitir o acesso a uma equipa de peritos da Organização Mundial de Saúde ao mercado de animais de Wuhan e ao Instituto de Virologia?
É plausível que vários cientistas internacionais tenham hesitado em aprofundar e/ou defender uma teoria que implicaria a perda de fundos chineses para as suas pesquisas? Por quê o ataque aos cientistas que o fizeram, quando a base de qualquer método científico passa por questionar, formular hipóteses e testá-las através da discussão e da aplicação desse mesmo método?
Não hesitaria em ler um livro que defendesse a teoria oposta, a de que o vírus terá sido transmitido por um animal (morcego ou pangolim) a uma pessoa, no mercado de Wuhan. Teria de ser um livro com uma linguagem acessível a leigos, pois a sustentação dessa hipótese é maioritariamente baseada em factos estudados na biologia, zoologia, virologia, e epidemiologia, entre outras.
Não hesitaria em ler um livro que defendesse a teoria oposta, a de que o vírus terá sido transmitido por um animal (morcego ou pangolim) a uma pessoa, no mercado de Wuhan. Teria de ser um livro com uma linguagem acessível a leigos, pois a sustentação dessa hipótese é maioritariamente baseada em factos estudados na biologia, zoologia, virologia, e epidemiologia, entre outras.
O título deste livro é directo mas poderá ser visto como sensacionalista (marketing?), afastando potenciais leitores que privilegiem uma abordagem mais neutra.
À semelhança de outros títulos de não-ficção, esta versão audiolivro poderia ter beneficiado de um (PDF) anexo com mapas, glossários e/ou indíces bibliográficos, o que teria facilitado a escuta.
À semelhança de outros títulos de não-ficção, esta versão audiolivro poderia ter beneficiado de um (PDF) anexo com mapas, glossários e/ou indíces bibliográficos, o que teria facilitado a escuta.
What really happened in Wuhan é um livro bem escrito e bem organizado, denso em informação e cross-references. A classificação de "bom" não se prende tanto com a minha inclinação em aceitar a teoria da lab-leak mas pela forma consistente como a teoria é construída, assente numa cronologia extensiva, citando nomes de pessoas vivas, mortas e desaparecidas (estas últimas na China, contando-se vários médicos, advogados e jornalistas); junta-se a isso o facto de, numa pesquisa rápida online, não ter encontrado nenhuma referência a um eventual processo judicial iniciado contra a autora ou a editora deste livro por difamação, algo que não me surpreenderia encontrar.
Nas últimas décadas, a forma como o governo chinês se posiciona no mercado
e adopta medidas económicas e sociais dentro das suas fronteiras (e até
fora delas), dá azo a que se levantem muitas questões...
No entanto, o próprio livro falha em apresentar vários elementos probatórios, talvez por razões válidas ou não, o que dá azo a especular acerca da veracidade de algumas alegações. Alguma vez se saberá a verdade? Estarão, agora, cientistas a atestar da robustez da hipótese defendida neste livro? Se sim, as suas conclusões alguma vez serão tornadas públicas? O tempo dirá.
Se, no final, não ficarmos inclinados a aceitar a teoria defendida, ao menos poderemos dar o tempo por bem empregue se considerarmos a leitura como um thriller ou, por que não?, como tema de conversa entre amigos.
****
(bom)