23 de agosto de 2022

Ring shout

  

Autor: P. Djèli Clark
Género: Ficção Especulativa

Idioma: Inglês

Páginas: 192

Editora: Tor.com (Kindle)

Ano: 2020

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Quando Ring shout me foi recomendado, não reconheci o nome do autor, P. Djèli Clark.

Mas quando vi a capa… a capa espectacular! e li a sinopse, não foi preciso mais nada para me convencer a comprá-lo.

O ano é 1920. O lugar é Macon, na Geórgia americana.

Uma força maligna ameaça dominar a América. Três jovens mulheres – Maryse, Sadie e Cordelia – não têm mãos a medir, entre o contrabando de whisky em plena Lei Seca, e a luta contra os "ku kluxes", criaturas sanguinárias que semeiam a destruição à sua passagem.

Todos os membros do Ku Klux Klan (KKK), devido à quantidade de ódio e intolerância em si, possuem o potencial para se transformar em "ku kluxes". De onde vem esta magia negra?

Vem da premissa (bastante original!) de que realizador D.W. Griffith é um bruxo e o seu filme O nascimento de uma nação - uma fita de 1915 de grande sucesso comercial que retrata os afro-americanos como irracionais e o KKK como uma força heróica -, é um feitiço que se alimenta da energia sombria da América, canalizando-a para os «homens-demónio em trajes brancos».

As forças que querem conquistar o mundo aproveitam-se do facto de o KKK estar no auge do seu poder e estatuto para se espalharem. E têm de ser derrotadas antes que dominem a nação.

Pessoalmente, achei a ideia muito interessante. A execução pelo autor foi impecável.

Ring shout, que aparece em algumas edições com o título alternativo Ring shout or Hunting ku kluxes in the end times, arrecadou os prémios  NebulaLocus e British Fantasy Awards quando saiu.

Apesar de ser uma história condensada em menos de duzentas páginas, há muita coisa a acontecer o tempo todo. A acção é rica e colorida, as personagens são complexas e o local é uma Macon alternativa cheia de pormenores e locais reais, misturados com mitos e ficção.

Apesar de Ring shout estar primeiramente classificado como terror, é um mix muito bem doseado de terror e fantasia urbana. Clark terá começado a esboçar a ideia para a história em 2015, baseando-se na diáspora africana, na cultura Gullah e no controverso filme de D.W. Griffith.

Há uns anos, eu costumava ler mais fantasia urbana (as séries de Sookie Stackhouse e de Mercy Thompson são aquelas que mais gostei e das quais guardo boas memórias) e foi muito bom revisitar o género.

Gostei bastante do trio de protagonistas, mulheres negras independentes, que se apoiam e entreajudam, numa relação de amizade sólida fortalecida por um inimigo comum. Adorei o uso do folclore local, assim como os pormenores sobrenaturais e de magia: os "night doctors", as "aunties", as mezinhas de Nana Jean.

A ideia das criaturas é genial: os "ku kluxes" vivem escondidos dentro de algumas pessoas, só sendo vistos por aqueles que possuem "a visão”. Quando mortos, transformam-se em cinza e desfazem-se sem deixar rasto. Juntando isto ao terror que o KKK espalhou durante os anos de actividade, é difícil pensar em algo mais terrível para a comunidade negra norte-americana.

P. Djèli Clark é o pseudónimo de Dexter Gabriel, um professor doutorado em História. Como autor, já recebeu inúmeros prémios e nomeações dentro da ficção especulativa.

O título Ring shout refere-se ao ritual religioso, praticado pela primeira vez por escravos africanos nas Índias Ocidentais e nos Estados Unidos, no qual os fiéis se movem em círculo enquanto arrastam os pés e batem palmas, por vezes gritando num semi-transe. Há uma forma mais moderna do ritual, a “pausa para louvar”, praticada em muitas igrejas negras e/ou pentecostais nos dias de hoje.

A leitura deste livro foi um prazer. Espero que seja traduzido em Portugal; no Brasil, foi publicado como Ring shout: grito de liberdade.

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(muito bom)