Autor: Jô Soares
Género: Policial
Idioma: Português (Brasil)
Páginas: 264
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2011
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Em As esganadas,
reencontro a escrita fluída e erudita, com notas de humor certeiras, de Jô Soares. O tom é semelhante ao primeiro título que li dele [O xangô...], que continua o meu favorito.
A acção passa-se no Rio de Janeiro, em 1938, durante o governo [Estado Novo] de Getúlio Vargas. É um livro do género policial, onde a identidade e motivações do assassino - de nome Caronte (adoro!) - são reveladas nos capítulos iniciais, e continuam a ser desenvolvidas ao longo do livro, com vários pormenores grotescos e caricatos, uma técnica em que Jô Soares é mestre.
Há uma
leveza desarmante para caracterizar as mortes aterradoras das "esganadas", mulheres bonitas e obesas que morrem «entupidas» com doces/sobremesas portuguesas que o assassino prepara de raiz. Apesar do grafismo de várias passagens, a leitura faz-se quase sempre com um sorriso nos lábios. Jô Soares percebe de entretenimento em todos os formatos!
Pelo meio de uma narrativa onde as coisas não páram de acontecer, o delegado Mello Noronha, responsável pela investigação, emprega o roliço ex-inspector português Tobias Esteves - afastado da polícia portuguesa por ter estado envolvido num episódio com Fernando Pessoa e Aleister Crowley na Boca do Inferno - como consultor. Esteves abriu um negócio no Brasil, de doces e salgados tradicionais portugueses; é uma personagem com tiradas muito engraçadas.
Na acção, aparecem muitas outras personagens coloridas, fictícias (o anão Rodapé, a jornalista Diana de Souza, o inspector Valdir Calixto) e reais (Vasco Santana, Mirita Casimiro, Fernando Pessoa, Lourival Fontes, Filinto Müller).
«Mais vale ser solteirona em Sintra do que apedrajada em Teerã.»
«Diariamente, a mulher gorda morre uma série de pequenas mortes.»
«- O senhor não é gordo, é só um pouco baixo pro seu peso.»
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(muito bom)