terça-feira, agosto 02, 2022

As esganadas

  

Autor: Jô Soares
Género: Policial

Idioma: Português (Brasil)

Páginas: 264

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2011

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Jô Soares é mais conhecido pelas suas prestações como humorista e apresentador de televisão. Multifacetado, é ainda actor, dramaturgo, músico... e um escritor de mão cheia.
 
Dele, ainda hoje me lembro do excelente O xangô de Baker Street, onde Sherlock Holmes e Dr. Watson são convidados a investigar um caso no Brasil, um livro que originou uma boa adaptação cinematográfica, com Joaquim d'Almeida, João d'Ávila e Maria de Medeiros.

Em As esganadas, reencontro a escrita fluída e erudita, com notas de humor certeiras, de Jô Soares. O tom é semelhante ao primeiro título que li dele [O xangô...], que continua o meu favorito.

A acção passa-se no Rio de Janeiro, em 1938, durante o governo [Estado Novo] de Getúlio Vargas. É um livro do género policial, onde a identidade e motivações do assassino - de nome Caronte (adoro!) - são reveladas nos capítulos iniciais, e continuam a ser desenvolvidas ao longo do livro, com vários pormenores grotescos e  caricatos, uma técnica em que Jô Soares é mestre.

Há uma leveza desarmante para caracterizar as mortes aterradoras das "esganadas", mulheres bonitas e obesas que morrem «entupidas» com doces/sobremesas portuguesas que o assassino prepara de raiz. Apesar do grafismo de várias passagens, a leitura faz-se quase sempre com um sorriso nos lábios. Jô Soares percebe de entretenimento em todos os formatos!  

Pelo meio de uma narrativa onde as coisas não páram de acontecer, o delegado Mello Noronha, responsável pela investigação, emprega o roliço ex-inspector português Tobias Esteves - afastado da polícia portuguesa por ter estado envolvido num episódio com Fernando Pessoa e Aleister Crowley na Boca do Inferno - como consultor. Esteves abriu um negócio no Brasil, de doces e salgados tradicionais portugueses; é uma personagem com tiradas muito engraçadas.

Na acção, aparecem muitas outras personagens coloridas, fictícias (o anão Rodapé, a jornalista Diana de Souza, o inspector Valdir Calixto) e reais (Vasco Santana, Mirita Casimiro, Fernando Pessoa, Lourival Fontes, Filinto Müller).

«Mais vale ser solteirona em Sintra do que apedrajada em Teerã.»
«Diariamente, a mulher gorda morre uma série de pequenas mortes.»
«- O senhor não é gordo, é só um pouco baixo pro seu peso.» 
As esganadas foi publicado em Portugal pela Editorial Presença. Eu preferi ler o texto no original, em Português do Brasil, e tirando alguns termos em calão, acessíveis no contexto, a leitura foi bastante fluída.
 
Os dois livros que li, à data, de Jô Soares estão aprovadíssimos e são mais do que recomendados. 

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(muito bom)