Autor: Roxane Gay
Género: Autobiografia
Idioma: Inglês
Páginas: 232
Editora: Harper (Kindle)
Ano: 2016
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«Mine is not a success story. Mine is, simply, a true story.»
Comentar uma autobiografia é delicado. É importante reter que a apreciação do livro é relativamente à forma como a história é contada.
Roxane Gay foi violada aos 12 anos por um grupo de rapazes. A dor nunca desapareceu; a autora está agora nos seus 40 e continua obcecada pela pessoa instrumental na sua agressão, um adolescente por quem estava apaixonada na altura. É impossível para a maioria de nós pôr-se no lugar de Roxane. Imaginar os danos que isso provoca é um pouco mais fácil.
«I don’t want to be defined by the worst thing that has happened to me.»
O tema central do livro é a obesidade, as dezenas de quilos que Roxane acumulou ao longo dos anos, a sua «armadura contra o mundo», útil para afastar os olhares masculinos e para se tornar invisível mesmo pesando mais de 250 quilos do alto do seu metro e noventa. Ao comer e comer e comer, anulou-se completamente… e tornou o seu corpo numa prisão.
E isso teve consequências. Lidar com a gordofobia, os olhares reprovadores, os comentários “bem intencionados”... é cansativo. A autora alterna entre a vitimização e a aversão para consigo mesma, a revolta pela forma como as pessoas obesas são tratadas e em como o mundo não está preparado para as acomodar presente em cada página – as conversas são tensas, a mobília não aguenta, caminhar fá-la ficar sem fôlego, o pessoal médico não é compassivo.
As situações multiplicam-se e os relatos são penosos; Roxane diz que as humilhações por que passou ao longo dos anos forçaram-na a ver com outros olhos o seu próprio corpo e os dos outros. Porém, o seu corpo continua a ser vilificado, a gordura que carrega altamente indesejável para si e para os que a rodeiam. A escrita fá-la feliz, assim como finalmente saber que é amada pela sua família, amigos e pela "sua pessoa", mas tem sido um caminho longo - e inacabado.
Esta não é uma história bem-sucedida de perda de peso nem de superação. Roxane Gay é uma mulher negra, bissexual, obesa, e sem um “final feliz” à vista. O livro, de 2016, é escrito na primeira pessoa num tom cru e directo.
Um testemunho corajoso e doloroso, que merece uma leitura atenta.
«It took me a long time, but I prefer “victim” to “survivor” now. I don’t want to diminish the gravity of what happened. I don’t want to pretend I’m on some triumphant, uplifting journey. I don’t want to pretend that everything is okay. I’m living with what happened, moving forward without forgetting, moving forward without pretending I am unscarred.»
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(bom)
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